Barbie cumpre com o que promete, sendo um filme capaz de gerar entretenimento e diversão por quase duas horas. Seu humor eficaz é equilibrado entre o ‘juvenil’ e o inteligente, composto por referências muito bem colocadas, e conta, até mesmo, com quebras de quarta parede – através de uma narradora!
Apesar disso, a obra também tem um peso emocional muito grande, e isso vai além da nostalgia. A personagem de Margot Robbie enfrenta desafios comuns à boa parte das mulheres do século XXI, como ansiedade e baixa autoestima.
Há também um toque de sentimentalismo extremamente típico de Greta Gerwig, com um arco secundário mãe e filha, que ocorre por numerosos motivos. Mostrar como a Barbie é importante de diferentes maneiras para mulheres de diferentes gerações, adicionar conteúdo realístico à narrativa mágica e, é claro, emocionar à família. Uma ótima oportunidade para levar sua mãe ao cinema!
Apesar de seu público alvo ser, obviamente, feminino, o filme pode ser aproveitado por pessoas de todos os gêneros. O Ken do Ryan Gosling é muito bem explorado, tendo um papel não só cômico, mas também pessoal, pois ele deixa de ser apenas o perfeito modelo de homem e companheiro e, assim como a protagonista, ele também passa a ter acesso aos sentimentos do mundo humano, do mundo real. Isso o leva a uma onda de revelações pessoais e o faz vivenciar a raiva e o descontentamento masculino de um amor não recíproco e o sentimento de não ser tão valorizado quanto deveria.
Greta assume em todos os seus trabalhos uma responsabilidade: retratar bem mulheres, com sensibilidade e força – seja para emocionar ou para empoderar. Em “Barbie” isso não é diferente – pelo contrário, talvez esse seja o mais alto ponto do feminismo no universo cinematográfico da diretora, ao expor as dificuldades femininas como assédio e pressão estética, contar com cenas de apoio e união entre mulheres e discursos bem diretos e fortes.
Margot Robbie entrega um trabalho sem defeitos; entretanto, Ryan Gosling ocupa uma parcela gigantesca da atenção do telespectador com seus charmes carismáticos. Quanto aos coadjuvantes, os destaques vão para America Ferrera e Ariana Greenblatt, que funcionam muito bem como mãe e filha e emocionam; contrastando com isso, Kate McKinnon e Michael Cera estão ótimos na comédia.
A trilha sonora conta com grandes nomes do pop atual como Dua Lipa, Fifty Fifty e Billie Eilish.
As músicas originais são divertidíssimas, combinam e ressaltam muito a atmosfera do filme. Já a fotografia é extremamente característica: cheia de cores, efeitos especiais e cenários lindos – a influência de ‘Mágico de Oz’ (1939) é nítida.
A diferença de quando os personagens estão na Barbielândia e quando eles estão no mundo real é notável nos visuais; no primeiro, tudo é muito plastificado, rosa, superficial – e, contudo, bonito; retratando muito bem a realidade ao público que reconhece o mundo da barbie apenas aos brinquedos; noutro, as cores são mais diversas, nem tudo é bonito.
Barbie é, sem dúvidas, uma luz em meio ao caos do cenário cinematográfico de 2023. É impossível sair da sala de cinema sem ter esbanjado um sorriso, uma risada durante essas duas horinhas tão gostosas e mágicas.