É comum que nos dias de hoje as pessoas estejam menos interessadas em assistir a um filme para se entreter de fato, apenas superficialmente. Acredito que seja por esse motivo que há uma queda crescente em filmes de comédia que servem unicamente ao humor, tanto em qualidade como em número de produções.
Acredito também que a valorização e popularização de filmes super dramáticos, tecnicamente conceituais e com necessidade de um plot twist ou enfoque na profundidade para te fazer pensar sobre, unicamente a fim de tornar o filme atrativo ao espectador em massa, aumentar as “visualizações” e consequentemente garantir seu espaço em alguma premiação ou crítica especializada (ironicamente as porcentagens do rotten tomatoes) também seja um motivo.
Seguindo por esse ponto, percebo que Bottoms pode muito bem ser um filme que vai contra todos esses requisitos que qualificam um “bom filme”. Há pessoas que se sentem péssimas ao ver filmes que, ao seu ver, não irão agregar nada em suas vidas e há pessoas que não veem esses filmes por acreditarem ser superiores com seu arquétipo cult e cinéfilo. E nesses dois casos, é uma bobagem. Não faz mal ver filmes que te façam pensar, que sejam “cults” e que é ditado por agregar culturalmente.
Contudo, também não há mal algum em ver filmes que são considerados bobos, superficiais, fúteis e narrativamente clichês. Comédia nunca foi sinônimo de péssima qualidade. O que é o caso de Bottoms.
Com um estilo “buddy movie” – na qual há uma dupla de perdedores e fracassados como em qualquer filme estilo colegial anos 80 que tem nerds como protagonistas – Bottoms mistura as mais diversas formas de comédia, sendo uma delas o besteirol, com leveza, artificialidade e contemporaneidade.
Bottoms não procura trazer uma mensagem especial e profunda para nos fazer refletir como mencionei no início, mas sim para entreter e nos mostrar uma visão irônica e cômica dessa geração.
Um dos diferenciais do filme é justamente a inexistência desse esforço de ser algo mais, se resume a ser uma coisa camp e faz com maestria. Isso é presente não só na história do filme – que não mostra nenhuma moral da história ou lição de vida – como também nos próprios personagens, que tem mais timings cômicos do que uma fala normal, com suas roupas sempre demonstrando serem o que eram pra ser, como o atleta com uniforme do time 24 horas por dia, o esquisitão que só usa preto, as fracassadas com seu visual bagunçado e as populares com roupas ao seu nível.
Todos eles são marcados apenas pelos seus estereótipos e singularidades e não desenvolvem para ser algo a mais porque esse não é o objetivo deles e muitos menos do filme, é apenas mostrar as múltiplas facetas e paradigmas do mundo contemporâneo.
Com isso, Emma Seligman banaliza (de modo humorístico) todos os arquétipos sociais atuais dessa geração, mas também abre espaço para as complexidades pautadas hoje em dia. O que torna interessante pelo fato de colocar com simplicidade e clareza algo tão complexo e vasto como as pessoas da nova juventude. E a geração Z se torna facilmente um tópico extenso para produções de humor.
Tem-se no filme como exemplo dessa abertura a roda de conversa na reunião do clube de luta em que todas as meninas desabafam sobre seus problemas e dificuldades e, em questão de segundos, todas as suas questões se tornam “solúveis” com o passar dos diálogos do roteiro. Sendo na garota esquisita que tem problemas com o padrasto ou a frustração de Brittany por não ser vista como inteligente e sim como bonita e popular.
Por fim, posso dizer que o grande diferencial do filme está em como eles funcionam nessa comédia exagerada e na sátira aos formatos da sexualidade, gênero e no preconceito sem deixar tudo no famoso discurso palestrinha.
Tratam as questões sociais sem a militância exagerada que muitos filmes trazem em forma de monólogos fora de hora ou frases de efeito nada inovadoras. Nada é explícito, apenas encaixado na narrativa. Os diálogos ironizados são o principal exemplo disso, mas também não se pode deixar de lado que o filme é dirigido por uma mulher queer, com a maioria do elenco composto por queers e por ter duas personagens protagonistas queers também.