Crítica | Branca de Neve “só medíocre”

Branca de Neve não é um filme ofensivo ou inovador, ele é simplesmente medíocre, um remake sem alma, sustentado por visuais bonitos.

Nicks Froes
Nicks Froes
Apaixonada _(e formada)_ por cinema, especialmente pelo gênero de terror. Assisto filmes, edito vídeos e crio estratégias criativas. Dissecar cada detalhe e compartilhar minha visão de...
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Branca de Neve

O novo Branca de Neve da Disney chegou cercado de polêmicas antes mesmo de seu lançamento, sendo rotulado por muitos como o “primeiro filme woke” do estúdio. No entanto, após assistir, posso dizer com certeza que essa acusação é um exagero. Na realidade, o filme não é nem de longe um manifesto político ou social: é apenas mais uma regurgitação cansativa da fórmula Disney: ideias utópicas, visuais impecáveis e um roteiro que não arrisca nada.

A atuação de Rachel Zegler como Branca de Neve deixa muito a desejar, especialmente em contraste com a performance de Gal Gadot como a Rainha Má. Zegler exagera nas expressões e nos gestos, tornando sua atuação teatral demais para o cinema.

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Branca de Neve

Enquanto isso, Gadot entrega uma vilã carismática e imponente, conseguindo roubar a cena com facilidade. Esse contraste torna difícil se conectar com a protagonista, que deveria ser o coração emocional do filme. Infelizmente, é impossível ignorar a questão da “beleza” das atrizes.

A Disney sempre apresentou Branca de Neve como a “mais bela de todas”, e colocar Rachel Zegler (cuja beleza foge dos padrões clássicos de princesas Disney) frente a uma Gal Gadot deslumbrante como antagonista parece ter sido uma escolha proposital para reforçar a mensagem de que a beleza interior é o que importa. Embora essa mensagem tenha mérito, a execução acaba criando um desconforto visual e narrativo que enfraquece o impacto emocional da história.

Muito se falou sobre o fato de Zegler ser uma atriz parda interpretando Branca de Neve, algo que, francamente, não deveria ser uma questão. A crítica ao “whitewashing” ou à falta de fidelidade é apenas mais um reflexo do racismo estrutural. O verdadeiro problema é que Zegler simplesmente não entrega uma performance convincente. Se a Disney tivesse escalado uma atriz negra ou de qualquer outra etnia, isso não deveria ser um problema, desde que a atuação estivesse à altura do papel.

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Desde que Peter Dinklage criticou o conceito de personagens com nanismo serem escalados como anões, a Disney tomou uma decisão controversa: substituir os anões por personagens criados digitalmente. O resultado? Um CGI de qualidade duvidosa, lembrando o estilo desconfortável de O Expresso Polar (2004).

Para um filme com orçamento de $270 milhões, a qualidade do CGI é inaceitável, especialmente quando há tantos atores talentosos que poderiam ter interpretado os personagens de forma autêntica e respeitosa. Além disso, a Disney vai na contramão da inclusão ao utilizar uma pessoa com nanismo para o papel de “ladrão herói”, que faz parte da solução da trama. O personagem acaba sendo tratado como um alívio cômico estereotipado, reforçando exatamente o que Dinklage criticou: a indústria continua escalando atores com deficiência em papéis que os colocam como figuras caricatas, sem complexidade ou profundidade, reforçando o capacitismo.

A atuação de Gal Gadot é, sem dúvida, um dos pontos altos do filme. No entanto, é difícil ignorar o contexto fora das telas. Gadot é conhecida por suas opiniões pró-Israel, o que gerou tensões nos bastidores com Rachel Zegler, que já se posicionou de forma mais pró-Palestina. Essa tensão nos bastidores acaba transparecendo na dinâmica entre as personagens, tornando as interações entre Branca de Neve e a Rainha Má involuntariamente mais carregadas de significado do que o roteiro realmente pretendia.

Ainda devo mencionar que as sutis mudanças na narrativa original foram suficientes para eu realmente achar que os irmãos Grimm nem deveriam ser mencionados como inspiração para o filme. Se eu for explicar as diferenças gritantes entre a obra dos irmãos Grimm e até mesmo o clássico de 1937, ficaria por horas aqui, mas o que quero resumir é que as alterações da história no novo remake simplesmente se fazem desnecessárias e sem propósito. A Disney poderia ter modernizado alguns elementos da trama para torná-la mais atual, mas o que fizeram foi praticamente reconstruir a história de forma rasa e sem alma. Em vez de uma atualização criativa, o resultado é uma narrativa desconexa que não agrada nem aos fãs da versão original, nem aos espectadores modernos.

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Um dos pontos mais frustrantes do filme é a trilha sonora. Sim, filmes de princesas são quase sempre musicais, mas há uma diferença entre um musical bem executado e músicas genéricas jogadas em cenas desnecessárias. O remake de A Bela e a Fera (2017) provou que é possível atualizar um clássico com músicas marcantes e emocionais. Já Branca de Neve falha miseravelmente nesse quesito, com músicas esquecíveis e momentos musicais que parecem ter sido colocados apenas para preencher tempo de tela. Além de serem extremamente chatas, simplesmente irritantes.

O figurino é uma verdadeira montanha-russa. Enquanto a caracterização da Rainha Má é impecável (Gal Gadot está estonteante em cada cena), o figurino de Branca de Neve também é bem executado, respeitando a estética do conto de fadas. No entanto, o príncipe Johnathan (sim, eles deram um nome para o príncipe) aparece com um moletom de capuz sob uma jaqueta cropped, um erro estilístico que quebra completamente a coerência visual do filme. Como isso passou pelo departamento de figurino da Disney é um verdadeiro mistério.

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A pergunta que fica é: a Disney realmente precisava gastar $270 milhões para produzir esse filme? A resposta é um claro “não.” Se o objetivo era modernizar a história e torná-la mais inclusiva, por que não criar uma nova princesa em vez de tentar reciclar um clássico de 1937? Esse filme é um exemplo claro de como a Disney está presa em uma bolha criativa, sem coragem de arriscar ou inovar de verdade. Eles querem a validação da diversidade sem o esforço genuíno para representá-la de forma significativa.

No fim das contas, Branca de Neve (2025) não é um filme ofensivo ou inovador, ele é simplesmente medíocre. É um remake sem alma, sustentado por visuais bonitos e uma atuação competente de Gal Gadot, mas sabotado por uma protagonista sem carisma, músicas genéricas, CGI de baixíssima qualidade e decisões criativas desconexas. A desconstrução da narrativa original, somada à tentativa forçada de dar profundidade ao conto, só resulta em uma história que não cativa nem emociona.

Branca de Neve estreia dia 20 de março nos cinemas.

Branca de Neve
Ruim 4
Nota 4

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