O novo Branca de Neve da Disney chegou cercado de polêmicas antes mesmo de seu lançamento, sendo rotulado por muitos como o “primeiro filme woke” do estúdio. No entanto, após assistir, posso dizer com certeza que essa acusação é um exagero. Na realidade, o filme não é nem de longe um manifesto político ou social: é apenas mais uma regurgitação cansativa da fórmula Disney: ideias utópicas, visuais impecáveis e um roteiro que não arrisca nada.
A atuação de Rachel Zegler como Branca de Neve deixa muito a desejar, especialmente em contraste com a performance de Gal Gadot como a Rainha Má. Zegler exagera nas expressões e nos gestos, tornando sua atuação teatral demais para o cinema.

Enquanto isso, Gadot entrega uma vilã carismática e imponente, conseguindo roubar a cena com facilidade. Esse contraste torna difícil se conectar com a protagonista, que deveria ser o coração emocional do filme. Infelizmente, é impossível ignorar a questão da “beleza” das atrizes.
A Disney sempre apresentou Branca de Neve como a “mais bela de todas”, e colocar Rachel Zegler (cuja beleza foge dos padrões clássicos de princesas Disney) frente a uma Gal Gadot deslumbrante como antagonista parece ter sido uma escolha proposital para reforçar a mensagem de que a beleza interior é o que importa. Embora essa mensagem tenha mérito, a execução acaba criando um desconforto visual e narrativo que enfraquece o impacto emocional da história.

Muito se falou sobre o fato de Zegler ser uma atriz parda interpretando Branca de Neve, algo que, francamente, não deveria ser uma questão. A crítica ao “whitewashing” ou à falta de fidelidade é apenas mais um reflexo do racismo estrutural. O verdadeiro problema é que Zegler simplesmente não entrega uma performance convincente. Se a Disney tivesse escalado uma atriz negra ou de qualquer outra etnia, isso não deveria ser um problema, desde que a atuação estivesse à altura do papel.
Desde que Peter Dinklage criticou o conceito de personagens com nanismo serem escalados como anões, a Disney tomou uma decisão controversa: substituir os anões por personagens criados digitalmente. O resultado? Um CGI de qualidade duvidosa, lembrando o estilo desconfortável de O Expresso Polar (2004).
Para um filme com orçamento de $270 milhões, a qualidade do CGI é inaceitável, especialmente quando há tantos atores talentosos que poderiam ter interpretado os personagens de forma autêntica e respeitosa. Além disso, a Disney vai na contramão da inclusão ao utilizar uma pessoa com nanismo para o papel de “ladrão herói”, que faz parte da solução da trama. O personagem acaba sendo tratado como um alívio cômico estereotipado, reforçando exatamente o que Dinklage criticou: a indústria continua escalando atores com deficiência em papéis que os colocam como figuras caricatas, sem complexidade ou profundidade, reforçando o capacitismo.

A atuação de Gal Gadot é, sem dúvida, um dos pontos altos do filme. No entanto, é difícil ignorar o contexto fora das telas. Gadot é conhecida por suas opiniões pró-Israel, o que gerou tensões nos bastidores com Rachel Zegler, que já se posicionou de forma mais pró-Palestina. Essa tensão nos bastidores acaba transparecendo na dinâmica entre as personagens, tornando as interações entre Branca de Neve e a Rainha Má involuntariamente mais carregadas de significado do que o roteiro realmente pretendia.
Ainda devo mencionar que as sutis mudanças na narrativa original foram suficientes para eu realmente achar que os irmãos Grimm nem deveriam ser mencionados como inspiração para o filme. Se eu for explicar as diferenças gritantes entre a obra dos irmãos Grimm e até mesmo o clássico de 1937, ficaria por horas aqui, mas o que quero resumir é que as alterações da história no novo remake simplesmente se fazem desnecessárias e sem propósito. A Disney poderia ter modernizado alguns elementos da trama para torná-la mais atual, mas o que fizeram foi praticamente reconstruir a história de forma rasa e sem alma. Em vez de uma atualização criativa, o resultado é uma narrativa desconexa que não agrada nem aos fãs da versão original, nem aos espectadores modernos.

Um dos pontos mais frustrantes do filme é a trilha sonora. Sim, filmes de princesas são quase sempre musicais, mas há uma diferença entre um musical bem executado e músicas genéricas jogadas em cenas desnecessárias. O remake de A Bela e a Fera (2017) provou que é possível atualizar um clássico com músicas marcantes e emocionais. Já Branca de Neve falha miseravelmente nesse quesito, com músicas esquecíveis e momentos musicais que parecem ter sido colocados apenas para preencher tempo de tela. Além de serem extremamente chatas, simplesmente irritantes.
O figurino é uma verdadeira montanha-russa. Enquanto a caracterização da Rainha Má é impecável (Gal Gadot está estonteante em cada cena), o figurino de Branca de Neve também é bem executado, respeitando a estética do conto de fadas. No entanto, o príncipe Johnathan (sim, eles deram um nome para o príncipe) aparece com um moletom de capuz sob uma jaqueta cropped, um erro estilístico que quebra completamente a coerência visual do filme. Como isso passou pelo departamento de figurino da Disney é um verdadeiro mistério.

A pergunta que fica é: a Disney realmente precisava gastar $270 milhões para produzir esse filme? A resposta é um claro “não.” Se o objetivo era modernizar a história e torná-la mais inclusiva, por que não criar uma nova princesa em vez de tentar reciclar um clássico de 1937? Esse filme é um exemplo claro de como a Disney está presa em uma bolha criativa, sem coragem de arriscar ou inovar de verdade. Eles querem a validação da diversidade sem o esforço genuíno para representá-la de forma significativa.
No fim das contas, Branca de Neve (2025) não é um filme ofensivo ou inovador, ele é simplesmente medíocre. É um remake sem alma, sustentado por visuais bonitos e uma atuação competente de Gal Gadot, mas sabotado por uma protagonista sem carisma, músicas genéricas, CGI de baixíssima qualidade e decisões criativas desconexas. A desconstrução da narrativa original, somada à tentativa forçada de dar profundidade ao conto, só resulta em uma história que não cativa nem emociona.