Os quadrinhos de “Cartoondelia” querem retirar nosso pensamento da danada caixa onde o sistema virou uma entidade onipresente. Quando foi que nos metemos nessa roubada mesmo? É impossível saber, só nos resta desconstruir o tal sistema em nossa mente, ainda que em pequenas partes (pequenas luminosas histórias), pois quem é que aguenta?
Johandson Rezende aponta para nós o caminho de sua alternativa. Sua independência respira o oxigênio de múltiplas referências, Robert Crumb é a mais evidente. Se o leitor de quadrinhos quer conhecer o que é uma proposta para o gênero, deve ler sem demora “Cartoondelia”, volume de 122 páginas, publicado pela Editora Oito e Meio. Mas não ouse esperar por ideias pasteurizadas ou anseios gourmetificados, Johandson almeja o seu próprio caldeirão de ícones, que comete a façanha de nos emprestar sentido.
“Cartoondelia” reúne pela primeira vez material que o autor tinha publicado em separado, inclusive no exterior. Masque nem por isso deixa de ter coesão, visto que são histórias ancoradas em uma carreira profissional convincente. Destaco sua preocupação constante com alguma espécie de transcendência, assunto do por que viemos, para onde vamos, sem nunca deixar de lado, contudo, o objetivo maior: vamos nos divertir por aqui, vamos com bom humor, sem esquecer de compartilhar a boa percepção.
Johandson compartilha. Seu humor se garante.
E finaliza para breve “Dharma, uma introdução em quadrinhos”, sobre o pensamento oriental, projeto ao qual se dedica há quase dez anos e que tem divulgado na rede. São quadrinhos que mostram sua clara evolução como artista. Material de primeira.