Provavelmente, dentre todas as adaptações de games para cinema ou televisão, Fallout fica numa posição até que privilegiada em relação a outras franquias para ter sucesso nessa tranposição, graças ao seu vasto universo cheio de personalidade e suas diversas possibilidades de histórias. No entanto, um fracasso poderia ocorrer na mesma proporção caso erros, por menores que fossem, acontecessem.
Dito isso, é tranquilo dizer que o Amazon MGM Studios conseguiu criar uma das adaptações mais fiéis e envolventes de um videogame até o momento, ao abraçar o desafio e entregar a produção nas mãos de gente do calibre de Jonathan Nolan e Lisa Joy, os responsáveis pela série Westworld – um dos grandes sucessos do HBO nos últimos anos.
Inteligentemente fugindo do clichê de recontar a história de um dos jogos da série, Fallout se destaca por se sustentar em seu próprio universo, criado lá no agora longíquo 1997 pela Interplay e popularizado pela Bethesda, que agora faz parte da gigante Microsoft.
Nolan e Joy conseguiram trazer uma representação fiel da experiência de jogar um dos games da franquia, com todos os seus acertos e, pasmem, seus tropeços. Até mesmo aqueles famigerados “bugs” – típicos dos jogos da Bethesda em seus lançamentos – estão presentes em alguns momentos da adaptação. A sensação ao assistir os episódios é de estar jogando, mas sem precisar de um controle na mão.
A trama de Fallout se passa 229 anos após a guerra nuclear que devastou os Estados Unidos, seguindo três personagens principais: Lucy MacLean, Maximus e Cooper Howard, interpretados respectivamente por Ella Purnell (de Yellowjackets e Arcane), Aaron Moten (Emancipation) e Walter Goggins (Sons of Anarchy).
O trio cobre praticamente todas as facetas vistas dentro do universo de Fallout – enquanto Lucy representa a inocência, o jovem Maximus é marcado pela dor e pela devoção à Irmandade do Aço. Já Cooper, transformado num Ghoul, carrega nas costas a experiência e a astúcia adquiridas ao longo de mais de 2 séculos de existência.
Focando principalmente nesses três personagens, a série permite que tanto os fãs dos jogos quanto os espectadores da série (e que não tenham nenhum contato com os games) possam desfrutar da trama, reconhecendo elementos familiares e descobrindo novos aspectos desse universo.
Embora a trama se concentre principalmente em Lucy – interpretada de forma magnética por Purnell – Maximus e Cooper desempenham papéis igualmente importantes ao longo da temporada. Aliás, todo o elenco da série é trazem performances cativantes. Mesmo Moten, no papel de Maximus, não tendo um desempenho tão bacana quanto seus amigos, todos os personagens em Fallout funcionam bem, cada um à sua maneira, e o desempenho dos atores acrescenta profundidade aos seus papéis.
Do mesmo jeito que ocorre em cada novo jogo da franquia, a série Fallout apresenta uma história original, mas inserida na cronologia daquele universo – no caso, alguns anos após os eventos de Fallout 4. Isso proporcionou Nolan e Joy a liberdade para explorar novos caminhos para a história, sem estar presos aos acontecimentos passados e oferecendo uma aventura mais abrangente, mesmo apresentando alguns momentos menos marcantes.
Aliás… assim como nos jogos, a série não está livre de imperfeições. O ritmo da temporada pode parecer inconsistente, com episódios que variam entre a correria e a lentidão, o que pode gerar uma certa desconexão na narrativa por parte de uma parcela do público. Embora esses “bugs” possam incomodar esses espectadores, para outros eles adicionam camadas adicionais à trama, permitindo um desenvolvimento mais profundo de personagens e situações.
Deixando um gancho promissor para uma segunda temporada – já oficializada pela Amazon – e mesmo com esses contratempos, o primeiro ano de Fallout consegue sim capturar a essência da franquia, oferecendo uma história divertida e uma das melhores adaptações de jogos para outra mídia e deixando os fãs ansiosos por novas aventuras nesse divertido apocalipse.