(The Fault in Our Stars – Baseado na obra de John Green. EUA , 2014 – 125 min. Drama / Romance)
Direção:Josh Boone
Roteiro: Scott Neustadter e Michael H. Weber
Elenco: Shailene Woodley, Ansel Elgort, Nat Wolff, Laura Dern, Sam Trammell, Willem Dafoe
Jhon Green é um jovem autor que ganhou destaque a partir de videos que ele e o irmão fizeram no youtube. Ganham notoriedade enquanto grupo com diversos adeptos – os nerdfighters. É não é a toa que quando peguei um exemplar de a culpa é das estrelas, houvesse um bilhetinho dos nerdfighters enfiando entre as páginas – há um grupo de fãs ardorosos demais. No cinema, na sessão do cinemark em botafogo, vi acontecer a mesma coisa que o correu nos filmes de crepúsculo – suspiros pela mera aparição de um personagem, de um sorriso, de um olhar. Mas não pelo filme enquanto filme, mas da fantasia construída pelo livro e que automaticamente foi transferida para o filme, muitas vezes sem nenhum pensamento crítico pelo que está sendo visto.
Primeiro gostaria de dizer que o livro que originou o filme é belíssimo, não é piegas embora seja clichê. Possui uma narrativa gostosa, com personagens muito bem delineados e construídos, com diálogos excepcionais. Há um profundo respeito ali, pelos personagens, pelas suas dores, suas vidas e suas mortes – afinal, é uma historia que envolve pacientes com câncer terminal. Mas o filme parece carecer de alguma coisa que faz tudo isso funcionar. Talvez seja fundamentalmente a direção em conjunto com o roteiro.
O filme inicia da mesma maneira que termina, com a câmera focalizada no rosto da atriz Shailene Woodley (que interpreta a personagem Hazel). Um rosto belo. Um tubo enfiado no nariz, e belos olhos focalizando o que logo entendemos ser o céu. Narração em off. Ela então se entrega a memórias e está contando para o público uma história, sua história. É bonito o arco dramático da personagem, sua mudança da posição de paciente de câncer terminal para um sujeito de desejo. Mas o roteiro do filme carece de uma estruturação melhor. A ação dramática não parece forte entre uma passagem e outra. Entre as cenas do longa, parece faltar algo que dê a liga, a cola narrativa entre uma sequencia e outra e que faz a história andar para frente. Vemos uma narrativa episódica. Há os conflitos da própria Hazel em se entregar em um relacionamento por ser paciente de câncer, supostamente terminal. Mas eles acam se diluindo. A atuação da atriz é boa, mostra que é uma jovem talentosa, que consegue cativar a platéia e chegou bem próxima do que a personagem é nos livros. Seus olhares tem um tom acertado com o mundo interno da personagem, e seus sentimentos.
Já Ansel Engort (que interpreta a personagem Augustus) não foi tão feliz. Mesmo que não esteja mal no papel, é perceptível uma ligeira mudança no ar do personagem dos livros. O que me causa um certo déjà vu: esses filmes baseados em romances épicos adolescentes colocam a mulher numa posição mais apaixonada que o homem, reafirmando a suposta vulnerabilidade feminina e colocando o homem na posição de macho alfa que gosta, mas que não se põe na posição de desejante. A autoconfiança de Augustos também está no livro, mas na forma que está na tela parece mais uma arrogância boba adolescente. Nesse ponto, o ator se aproxima muito do papel que fez em Carrie, a estranha.
Ainda em termos de atuação, Laura Dern surge frustrante como uma mãe apagada que apenas ganha destaque próximo ao fim do filme. Culpa do roteiro, claramente. Natt Wolf não entrega nenhuma brilhante atuação mas garante que seu personagem seja um alivio cômico eficiente. Já William Dafoe está perfeito como o escritor ‘exilado’ em Amsterdã, e encarna bem o tipo. Sua assistente, a belíssima Lotte Verbeek, mesmo que apareça três vezes (e sua terceira aparição possui uma função risível no roteiro), faz bem seu papel. Os demais atores vestem suas máscaras de dor e sofrimento razoavelmente bem nas demais cenas, sem nenhuma marcante atuação.
Voltando ao Roteiro, temos algumas sequencias que foram adaptadas literalmente do livro, e perdem força e se tornam pouco verossímeis na tela, soando as vezes como um grande absurdo, vide a sequencia dos ovos por exemplo, ou toda a sequencia na casa de Anne Frank, desde o suposto desafio das escadas – já que Hazel demonstra extremo cansaço ao apenas descer um pequeno lance de escadas para o quarto de Augustos e sobre praticamente um prédio inteiro de escadas, supostamente para ilustrar a personagem enfim assumindo uma nova postura em vida, mas que vai em descredito a medida que produz um efeito de estranheza em como a personagem conseguiria vencer tal desafio estando tão vulnerável fisicamente – até seu desfecho extremamente piegas. A direção aqui também demostra ser extremamente fraca, pois conduz o filme com ar de serie de televisão (não querendo desmerecer esse tipo de mídia, mas em termos de cinema, faltou uma linguagem mais específica da sétima arte). Não há nada em termos de movimento de câmera ou estilo de filmagem digno de nota, e alguns elementos de cena – como na cena do cemitério, onde tudo é preto, inclusive os carros de todos os presentes que beira ao over na ambientação de arte – são bastante irritantes. A preparação dos atores para o papel é também esdruxula: Ninguém ali parece estar de fato sofrendo de câncer. Todos estão lindos, corpos bem torneados, cabelos e penteados impecáveis – a não ser alguns poucos figurantes pálidos e sem cabelo. E não, não deixei de entender que à principio o filme mostre reuniões de grupo de apoio com pacientes de câncer em remissão, mas – e aqui evitarei spoilers, mas não terei absoluto sucesso – quando alguns personagens iniciam uma jornada mais ferrenha contra o câncer que se alastra, não deixam de estarem bonitos, com penteados lindos e impecáveis. Ninguém emagrece, ninguém parece debilitado, ninguém aparenta estar doente, como já disse.
Com uma trilha sonora indie que irrita em pontuar momentos tristes com melodias melancólicas, para levar a plateia às lágrimas, num mecanismo que não seria necessário se o filme apostasse mais no carisma de seus personagens, o filme traz questionamentos óbvios. Soa pudico, pueril e inverosímel que Hazel e Augustos demorem tanto a terem algum contato mais íntimo (um beijo por exemplo). E não pela atuação dos atores, mas perceptivelmente por problemas de roteiro, montagem e direção. E a resolução do conflito da viagem, por exemplo, é absurdo. Do nada a solução surge, o que denota que tudo que foi colocado com o objetivo de gerar conflito foi apenas uma jogada mal construída dos roteiristas.
Decepcionante, o filme cai numa postura falha de adaptar literalmente algumas passagens do livro, perdendo a chance de construir diálogos eficientes em uma historia que poderia ter sido menos crepuscular e feita para fãs fanáticos e mais um filme belo e tocante sobre dor, morte e amor.