(X-Men: Days of Future Past. EUA , 2014 – 131 min. Aventura)
Direção: Bryan Singer
Roteiro: Simon Kinberg, Jane Goldman e Matthew Vaughn
Elenco: Hugh Jackman, Patrick Stewart, Ian McKellen, James McAvoy, Jennifer Lawrence, Michael Fassbender, Nicholas Hoult, Anna Paquin, Ellen Page, Shawn Ashmore, Halle Berry, Peter Dinklage.
Antes de iniciar a crítica, quero deixar registrado a irritação pelo fato de não conseguir assistir nenhuma sessão de x-men que não fosse sem ser em 3D. No site do ingresso.com não constava que a sessão de 21h20 do São Luis fosse em 3D!!!! O que as produtoras estão fazendo me dá nojo, nos obrigando a assistir um filme que não tem NENHUMA cena em 3D que justifique o preço do ingresso e o uso do óculos. Depois querem reclamar dos downloads, das meias entradas falsas – que deixo claro, não se justificam, mas parecem ser um meio de resposta contra esse abuso e essa sacanagem…embora, confesso, não seja o ideal; é preciso valorizar e pagar o preço da arte dos outros, pois esse é o trabalho que essas pessoas fazem. Mas, me dá ASCO tal atitude, pois é SUPER desconfortável assistir a filmes com esses óculos, ainda mais sem nenhuma justificativa que não seja a de enriquecer mais. Acho um ultraje. Algo precisa ser feito galera!!!!
Agora sim, a crítica…
Brian Singer saiu da direção de X-Men: o último confronto (ou X3) para dirigir superman o retorno – que não foi sucesso nas críticas nem nas bilheterias. [trocou a Marvel pela DC… não, brinks…rsrs]. Depois de 11 anos, retorna ao universo dos mutantes enquanto diretor. E, ironicamente (ou não), encontra um meio de “apagar” o terceiro filme da franquia, que não é ruim, mas está bem à quem aos dois primeiros.
X-Men: Dias de um futuro esquecido é ligeiramente baseado na HQ de nome homônimo. É uma tentativa da Fox de unir a trilogia original com o ‘reboot’ dos mutantes que foi First Class. Com isso, acontecem algumas divergências na linha histórica dos personagem, algumas incongruências. É incômodo, mas não chega a estragar a experiencia de sucesso que tem sido os filhos do átomo no cinema, e o roteiro de Simon Kinberg, Jane Goldman e Matthew Vaughn tenta estabelecer ligações coesas com os fatos retratados nos filmes anteriores, sugerindo algumas outras e tendo sucesso de um modo geral.
O Roteiro é muito interessante à medida que constrói bons diálogos: a cena do reencontro do Xavier com o Erik é um excelente exemplo de um diálogo expositivo bem construído em uma cena que por meio do mise-en-scèneexpõe os sentimentos envolvidos nesse confronto. Além de servir como exposição, o diálogo traz frases características da personalidade já bem construída, em todos os filmes da franquia, de ambos os personagens; e a atuação de Michael Fassbender é excepcional – notem quando o ator consegue evocar o mesmo tom de voz de Ian Mckeller.
Os demais diálogos expositivos são bem encaixados, em geral por meio de encontros de personagens em situações que os obrigam a explicar melhor o que estão fazendo, ou para onde estão indo, de maneira orgânica. O próprio conflito central abarca inteligentemente os pequenos outros conflitos que se desenvolvem na trama, e os autores do roteiro brincam com o tema sobre o qual escrevem – em determinado momento, as escolhas dos personagens acabam, como numa ‘profecia auto-realizadora’ levando-os para problemas que deveriam ser contornados. Brincar com o tempo e tentar mudar o passado tem seu preço, afinal.
O desenvolvimento da trama é satisfatória na medida em que vai respondendo dúvidas que surgem na cabeça do espectador de uma maneira inteligente e verossímil. Se peca, é apenas nas explicações do núcleo do futuro: Kitty Pride ganha uma importante função que não é totalmente justificada a partir de suas habilidades, mas que pode ser deduzida a partir de seus poderes (função essa adaptada a partir da sua atuação fundamental na quadrinho que serviu de inspiração ao filme que [ainda] não li, como me explicou o colega cinéfilo Brian Moreira). Peca também trazendo o professor Xavier no núcleo do futuro sem grandes funções – se todo o resto dos mutantes da resistência estão ali a postos para salvaguardar o local onde se realiza a missão, Charles desempenha um papel importante nessa missam em um momento do filme de maneira pontual, mas é questionável em o que mais seria importante sua atuação de apoio moral à Kitty Pride; no fim é apenas isso o que ele faz – apoio moral. Talvez se os poderes de Charles estivessem envolvidos na função que Kitty desempenha, duplamente o que é apontado como ‘pecado’ estaria resolvido.
O outro furo do roteiro é o personagem de Bolivar Trask: no filme ele é um personagem vazio, sem camadas e sem muita personalidade, sendo pouco explorado. Justamente a característica mais interessante dele – ser um anão, ele pode ser visto como uma formação biológica “diferenciada” dos humanos (Também uma mutação?) perseguindo mutantes. O Personagem até demonstra certa admiração por seus objetos de estudo, e essa curiosidade talvez poderia ser melhor explorada. E talvez essa seja a maior questão envolvendo o personagem, ele não parece estar interessado em exterminar os mutantes, e sim em estudá-los, mas é pintado inicialmente como o grande vilão. Com isso temos uma mudança de antagonista ao longo da trama, mas que, contudo, não chega a ser um problema, pois abre-se espaço para Magneto brilhar com sua personalidade terrorista.
É inteligente que na narrativa existam pequenas insinuações a eventos futuros e passados, como uma pequena prévia da cura que vimos no futuro que será esquecido – e acaba até funcionando como brincadeira irônica –; a presença de personagens que desempenharão papeis vitais em outros filmes da franquia e a bela homenagem à piada da rápida aparição do Wolverine em First Class.
Para dar vida à essa narrativa de costuras e viagens no tempo, conseguindo com maestria criar um filme com identidade própria (Não é à toa que não temos um título de First Class 2 nesse filme), as cenas de ação são sempre elegantemente conduzidas pela mão de Brian Singer, e os cortes rápidos e as gravações antigas (estilo Super 8) na cena clímax de mística por exemplo soam como requintadas e instigantes.
Uma das melhores cenas do longa, protagonizado pelo novato Mercúrio, é embasbacante. Sem querer entregar muito, é necessário dizer que a trilha escolhida para a cena confere o tom exato que o diretor quis dar, exemplo do preciosismo cirúrgico com o qual o diretor se atenta à detalhes. Outra novata que confere com seus poderes cenas excelentes é Blink. Apesar de praticamente não ter falas, a mutante consegue dar ainda mais agilidade ao inicio eletrizante do filme.
O espaço para os personagens principais exporem seus dilmeas e conflitos estão salvaguardados e amparados pelas atuações excelentes dos atores. Enquanto Fassbender continua conferindo o tom perfeito para seu Magneto, e suas ações sempre se apresentam coerentes com o personagem, Jams McAvoy confere a sua versão do professor Xavier toda uma dramaticidade e melancolia à cada olhar, cada ação, de um homem que mais do que quebrado, perdeu suas companhias, sua fé, sua esperança. A Mística de Jennifer Lawrence começa a se aproximar da personagem anteriormente interpretada por Rebecca Rojmin-Stamos, tanto na postura em cena, quanto nos ensinamentos e na aproximação com Magneto. E Hugh Jackman está mais do que confortável no papel de Wolverine, mas consegue trazer novas nuances ao personagem ao longo da história, sem soar como “mais do mesmo”.
Competente em sua ambientação de época, com figurinos, cabelos e cenários condizentes, o filme se arrisca à conferir toques de modernidade e futurismo ainda no passado. Futuro e passado são contrastados pelas cores escuras, fortes x chapasas e coloridas, respectivamente. E os uniformes se apresentam como uma perfeita combinação entre os macacões coloridos usados em First Class, que traziam de volta as cores originais dos primeiros uniformes dos quadrinhos, com as formas escuras e de latex dos filmes anteriores. E há todo um simbolismo aqui – se o professor Xavier do passado surge usando a cadeira de rodas dos primeiros três filmes, é uma bela representação do personagem finalmente começando a construir toda a sabedoria e importância que terá para os X-Men.
Se Mais uma vez os mutantes servem como alegorias para minorias políticas – em especial os homossexuais, por exemplo – sua caça, perseguição e assassinato podem claramente ser entendidos como ataques homofóbicos. Hoje milita-se pela discussão de gênero e sexualidade como maneira preventiva da violência ao que é diferente, exemplificando como isso traria benefícios para todos, já que héteros que não se enquadram totalmente nos padrões de performance de gênero estabelecidos são também agredidos gratuitamente; no filme, temos os sentinelas perseguindo os humanos não mutantes que poderiam ter filhos ou netos nesta condição como uma situação bem similar. É uma mensagem importante, colocada de maneira bem sutil.
O professor Xavier em determinado momento do longa diz que tropeçar ou errar o caminho não é motivo para ficar perdido para sempre. O retorno de Brian Singer e a maneira curiosa que ele faz para ‘apagar’ o terceiro filme, tanto em termos de cronologia quanto em termos de sua não participação enquanto diretor é uma metalinguagem da ação dos mutantes que querem alterar o passado para salvar o futuro. Espero agora então, ansiosamente, o próximo X-Men com a participação do apocalipse (como já noticiado pelos produtores)!
P.s- Fiquei até o final dos créditos!!