Quase 10 anos após Mad Max: Estrada da Fúria, retornamos para a Terra Desolada com Furiosa: Uma Saga Mad Max, que chega aos cinemas no final deste mês. Mas desta vez em um conto de origem, explorando o passado e as motivações da personagem icônica apresentada no longa de 2015.
Em Furiosa, vemos a jornada da protagonista, desde sua infância até se tornar a guerreira implacável conhecida pelo público. Quando criança, a pequena mas corajosa Furiosa (Alyla Browne) é sequestrada do Lugar Verde das Muitas Mães (um oásis no meio da Terra Desolada, que ela busca em Estrada da Fúria), e cai nas mãos de uma grande horda de motoqueiros liderada pelo Senhor da Guerra Dementus (Chris Hemsworth). Vagando pelo deserto condenado, eles encontram a Cidadela controlada por Immortan Joe (Lachy Hulme). A partir daí, os dois tiranos lutam pelo poder e controle, e a jovem Furiosa (Anya Taylor-Joy) busca todos os meios de sobreviver para encontrar o caminho de volta para casa.
Diferente de Estrada da Fúria, vemos em Furiosa um tom bem mais ameno e menos visceral. Enquanto a escala do filme de 2015 é grandiosa em todos os sentidos, o novo longa busca diminuir a megalomania para que a gente consiga mergulhar na história da nossa heroína. Apesar de ter cenas de ação bem eletrizantes, elas são menores e mais espalhadas ao longo da história, com um ritmo menos frenético. Isso pode acabar desagradando algumas pessoas, que esperam o mesmo nível de ação de Estrada da Fúria.
E essa diminuição no volume se reflete na própria história sendo contada. Já que o roteiro, apesar de sólido, é pouco inspirado. Por um lado, há uma tentativa de se aprofundar na mitologia da saga. No entanto, por outro, parte do apelo que a Furiosa de Charlize Theron teve reside justamente em seu passado misterioso. E é por isso que ao tentar desvendar esse passado, o roteiro de George Miller e Nico Lathouris pouco desenvolve e o quê apresenta acrescenta muito pouco para a personagem que conhecemos.
A história perde oportunidades preciosas de fortalecer a mitologia ao redor da própria Furiosa, tornando sua história tão trágica quanto o seu desfecho faz parecer. Isso fica muito claro em sequências como a que mostra a forma que ela perdeu o braço e o interesse romântico na figura de Pretório Jack (Tom Burke), que aparece e some com a mesma velocidade, sem causar verdadeiro impacto.
E é por isso que Furiosa está longe de ser tão memorável quanto o seu antecessor, por esse lugar comum em que o roteiro acaba se colocando.
E falando nela, tanto em sua versão criança quanto na jovem, ambas as atrizes (Hulme e Taylor-Joy), fazem um ótimo trabalho. Principalmente porque assim como o Max de Tom Hardy, essa Furiosa fala pouquíssimo. Então, o trabalho de atuação reside quase que totalmente em expressões faciais e corporais. Mas, mesmo com toda a qualidade de atuação de ambas as atrizes, falta o molho que fez Charlize Theron tão apelativa.
O vilão Dementus, o que tem de caricato falta em loucura, o que tornaria ele uma ameaça realmente perigosa e amedrontadora. E apesar de ter alardeado em diversas entrevistas o quão o papel foi desafiador para ele, é difícil não enxergar o Thor bobalhão criado nas mãos de Taika Waititi no Dementus de Hemsworth.
Outro ponto que pode não agradar – desde os trailers, por sinal – algumas pessoas é a computação gráfica usada no longa. Enquanto em Estrada da Fúria o uso era imperceptível, em Furiosa os bonecos digitais voando e as paisagens de fundo verde acabaram me tirando um pouco da trama, se sobressaindo ao invés da história.
Porém, apesar dos pesares, não dá para negar que a direção de George Miller continua criando um espetáculo, nos guiando por essa atmosfera caótica e violenta, ao mesmo tempo que nos leva por paisagens deslumbrantes, nessa infinidade de areia.
Furiosa: Uma Saga Mad Max chega aos cinemas no dia 23 de maio.
Agradecimento a Warner Bros., que convidou o Cabana para ver o filme previamente.