Há quem diga que as homenagens a clássicos da Cultura Pop já saturaram. Por isso, o cinema precisa produzir urgentemente conteúdos originais e deixar o passado nas memórias nostálgicas. Ainda mais porque mexer em clássicos é sempre um risco. Afinal, uma nova produção, seja reboot ou continuidade pode não fazer jus ao original.
Um exemplo disso é o Filme ‘Caça-Fantasmas‘ de 2016, totalmente perdido e com enredo, no mínimo, confuso. Por outro lado, o novo ‘Ghostbusters: Mais Além‘ vem como um tributo emocionante e divertido que liga o presente ao passado. Dessa forma, honra o legado dos Caça-Fantasmas originais, numa história bem amarrada e num enredo com ritmo bastante parecido com os filmes dos anos 80.
Por não ser um reboot, mas uma sequência, o filme traz de volta o trabalho de Peter Venkman (Bill Murray), Ray Stantz (Dan Aykroyd), Egon Spengler (Harold Ramis) e Winston Zeddemore (Ernie Hudson).
Embora se passe em 2021, a cidadezinha de interior pouco evoluída tecnologicamente dá ao filme um ar bem retrô. E o figurino mais neutro dos personagens ainda completa essa sensação de “neutralidade temporal”. As roupas de Phoebe, por exemplo, não são tão diferentes do que alguém da mesma idade usava nos anos 80. Além disso, o próprio enredo de ‘Ghostbusters: Mais Além‘ tem um ritmo similar aos clássicos oitentistas. Dessa maneira, cria-se uma atmosfera nostálgica, em que o espectador sabe que está no presente, mas se sente no passado.
Nesse contexto, deixar Nova Iorque para trás, de fato, foi uma escolha muito acertada. Primeiro, porque seria difícil criar um clima nostálgico numa das maiores metrópoles do mundo e que está constantemente se modernizando. Segundo, porque longe da cidade, seria mais fácil selecionar as memórias às quais fazer referências. Dessa forma, o filme se liga diretamente ao ‘Os Caça-Fantasmas’ de 1984, mas ignora totalmente a existência do fracasso de 2016. Nova Iorque é citada, mas somente os fatos convenientemente selecionados.
Inclusive, mais um contraste interessante entre passado e futuro é ver a icônica propaganda dos Ghostbusters sendo vista pelo Youtube. Em pensar que, na época, a internet engatinhava e mal se via telefones celulares. O que não significa que não houvesse tecnologia, uma vez que os brilhantes cientistas desenvolveram as fantásticas armas de prótons. Aliás, para os nostálgicos de plantão, ver essas armas em ação é um prato cheio.
Como mencionado, as locações do filme ajudam a criar o clima necessário para o enredo funcionar. A rústica Fazenda deixada de herança por Egon Spengler e os altos milharais ao redor da estrada, por exemplo, acentuam a atmosfera de tensão nos momentos precisos. Já a lanchonete Spinners dá o tom nostálgico e retrô ao filme, também presente nos figurinos e automóveis. A própria escola pública de Summerville traz elementos que fazem parecer ter saído de uma fenda temporal, como o videocassete e a TV de tubo.
Além de tudo, o longa traz uma fotografia bem bonita, com montanhas e muito verde compondo belíssimas paisagens naturais.
Apesar do clima fantasmagórico, Ghostbusters: Mais Além é uma comédia, assim como o original. Geralmente, a mistura de elementos sobrenaturais e ficção científica resulta em dramas e filmes mais tensos. Entretanto, é justamente no tom cômico adicionado a essas temáticas que reside a genialidade dos Caça-Fantasmas de 1984. É esse um dos motivos de ter sido tão surpreendente e icônico.
A trama atual mantém essa comicidade, principalmente por meio dos personagens Mister Grooberstein e Podcast. Porém, a falta de tato social e as piadas sem graça de Phoebe também caem bem.
Entretanto, não só de piadocas se faz o filme. As cenas de aventura com fantasmas superpoderosos trazem a parcela de tensão necessária à trama. A vilã Gozer, por exemplo, é implacável e poderosa. Portanto, para derrotá-la é necessário estratégia, inteligência e trabalho coletivo, pois não dá pra medir forças com uma divindade antiga e aterrorizante.
E justamente desse esforço conjunto que vem a emoção do filme, principalmente para a família Spengler. Porém, excesso de detalhes nesse tópico pode facilmente se transformar em spoilers.
‘Ghostbusters: Mais Além’ é dirigido por Jason Reitman, um diretor talentoso responsável por título como ‘Juno‘ e ‘Thank You for Smoking‘, tendo sido, inclusive, indicado ao Oscar pelo primeiro (além de ser filho de Evan Reitman, produtor do filme original de 1984).
Jason é o responsável por harmonizar a comédia e o terror presentes em toda a franquia Ghostbusters e especialmente no filme atual. Achar o equilíbrio é um dos grandes desafios para que o filme não desemboque em um pastelão. E, certamente, o diretor encontrou o tom certo.
Se tem um fantasma que, definitivamente, não vai assombrar em ‘Ghostbusters: Mais Além’, é o fantasma do filme de 2016. Portanto, caso o medo seja de uma nova decepção, pode se tranquilizar. Agora, se você já se cansou de sequência e reboots, talvez não seja sua melhor opção.
Vale lembrar que o filme também apresenta novos personagens bastante cativantes, apesar do foco no tributo ao original. Para quem gosta de uma boa nostalgia e belas homenagens aos ícones da cultura pop, o longa é uma excelente escolha. A mochila de prótons, o famoso carro Ecto-1 e o inesquecível uniforme bege dos Caça-Fantasmas transportam o espectador novamente à infância.