Em um futuro próximo, os EUA entram em colapso, mergulhando em uma Guerra Civil brutal. Em meio ao caos, uma equipe de jornalistas embarca em uma jornada perigosa para registrar o evento mais importante do conflito: a captura (ou rendição) do presidente americano pelas tropas dissidentes.
O mais novo filme de Alex Garland – conhecido pelo roteiro de Extermínio e como diretor em pérolas do sci-fi como Ex-Machina e Aniquilação – chega em um momento ímpar na história estadunidense, em um ano eleitoral explosivo. E dado os eventos de 6 de janeiro de 2021, quando apoiadores do presidente Donald Trump invadiram o Capitólio, sede do Congresso estadunidense, a distopia de Garland não parece tão distante da realidade, o que torna Guerra Civil um longa cru, visceral e assustadoramente próximo de nós.
No entanto, apesar dessa proximidade, o roteiro acaba fugindo pela tangente, ao abordar temáticas importantes que fortaleceriam o argumento do filme, de maneira superficial. É como se ele tivesse algo a dizer, mas ficasse entalado na garganta o tempo todo, com receio de colocar para fora e acabar atingindo um lado. Portanto, é uma história que fica o tempo todo em cima do muro.
Mas, apesar de ser vago naquilo que tenta dizer, a história de Guerra Civil triunfa nas atuações, na fotografia e no design de som.
O grupo de jornalistas, formado por Kirsten Dunst (Ataque dos Cães), como a fotógrafa veterana e amargurada, Wagner Moura (Sr. & Sra. Smith) como o escritor destemido, Stephen Henderson (Duna) como o jornalista sábio e experiente, e Cailee Spaeny (Priscilla) como a fotógrafa novata, tem uma dinâmica maravilhosa.
E apesar do pouco desenvolvimento sobre o passado desses personagens, é visível na atuação de todos o peso de experiências anteriores e dos acontecimentos recentes. E é o ótimo entrosamento que faz com que o público se importe com o destino dessas pessoas no meio desse conflito sangrento.
A fotografia de Rob Hardy, parceiro já de longa data de Garland, é capaz de evocar belíssimas cenas no meio da guerra, ao mesmo tempo que nos importantes momentos de conflito, não poupa imagens diretas e nenhum pouco embelezadas de morte e destruição.
O design de som é espetacular, usado para colocar o espectador dentro das batalhas, alternando momentos de calmaria (em conjunto com a fotografia) e momentos de pura loucura, com muito sucesso. E é nessas transições que os sustos são inevitáveis e colocam o público em alerta máximo para tudo o que acontece.
Guerra Civil faz um ótimo retrato de nossos tempos, e ainda um exercício de futurologia, nos mostrando onde devemos chegar se continuarmos no mesmo caminho. Funciona como um road-movie de guerra, mas falha onde devia ser mais incisivo: na política.
Guerra Civil chega aos cinemas brasileiros em dia 18 de abril.
Agradecimentos à Diamond Films BR, que convidou o Cabana para ver o filme previamente.