Apesar de talentos brasileiros estarem cada vez mais buscando ares nos cinemas americanos e de outros países, o cinema nacional ainda respira pois muitos dos melhores ainda tentam emplacar grandes sucessos por aqui apesar da dificuldade, e Horizonte é a prova viva de que o cinema nacional ainda tem folego e respira por mais que o tentem matar de qualquer jeito.
Em Horizonte Raymundo de Souza é um idoso que tem a sua vida completamente virada do avesso quando passa a morar com parentes que não suporta, partindo desta ideia, o idoso simplesmente egoísta e turrão decide sair de casa e morar sozinho em um projeto social feito por uma ONG e lá se apaixona pela primeira vez na vida. Horizonte foi exibido no Festival de Cinema de Vassouras, um dos maiores festivais de cinema do Brasil, que o Cabana do Leitor foi convidado a participar.
Apesar da proposta simples, Horizonte aborda múltiplas questões, principalmente se olharmos do ponto de vista do personagem principal, que ao mesmo tempo foge completamente da sua familia que não suporta (o sentimento é mutuo em parte) para insistir em conhecer uma mulher que não o suporta inicialmente.
A atriz Ana Rosa interpreta uma mulher misteriosa que dentro deste conjunto habitacional de uma ONG ignora completamente as investidas do ancião que coloca em sua porta um violão e começa a tocar a música Boneca Cobiçada, que por algum motivo encanta a sua vizinha idosa.
Os momentos de humor estão conscientemente na dose certa e por incrível pareça estão em boa parte colocadas em momentos de simples silêncio.
Raymundo de Souza e Ana Rosa entregam uma das melhores performances que eu puder ver em anos, e contando com situações totalmente comuns, mas que tem seu charme porque os atores sabem como atuar e sabem como fazer cinema. Raymundo inclusive se destaca em cenas as vezes únicas, contemplativas, enquanto Ana Rosa em seu olhar indireto a tela. Destaque para a direção de fotografia que conseguiu fazer que momentos que a atriz estava olhando para um nada demostrasse tão bem a sua atuação mesmo que simplesmente parada, a atriz encheu a tela.
O romance beira a ideia de serem dois adolescentes, apesar da idade, ambos os personagens flertam como se ainda estivessem na sua época de crianças, o que é particularmente fofo.
A fotografia de um ambiente mais laranja suave denota um local bem interior do Brasil, e funciona como um complemento para uma boa trilha sonora, a ideia do filme deve ser louvada pois se o diretor do longa Rafael Calomeni tivesse chamado atores fracos, a história de Horizonte não iria andar e não iria gerar o impacto proporcionado no terceiro ato.
Horizonte 2? Talvez, mas não acredito que precisa, apesar de que a visitação destes personagens em uma sequência seria mais que bem vinda. No final da sessão eu cantei um pouco “Boneca cobiçada. Das noites de sereno. Teu corpo não tem dono. Teus lábios tem veneno…”