Seguindo com mais uma resenha da série Black Mirror. O episódio dirigido por ninguém menos que a atriz vencedora de dois Oscars, Jodie Foster, Arkangel.
Também escrito pelo criador da série, Charlie Brooker, o segundo episódio da quarta temporada aborda uma relação obsessiva entre mãe e filha.
Arkangel é o nome de um implante moderno que permite que os pais acompanhem, monitorem e até mesmo censurem seus filhos. A mãe solteira Marie (Rosemarie DeWitt) tem sua filha, Sara (Brenna Harding) e ela começou a usar o Arkangel, após quase perdê-la em um parquinho. Apesar de a tecnologia ser bem eficaz, seu uso constante se torna um obstáculo perigoso aos direitos humanos e, Marie acaba permitindo que Sara cresça sem o uso do Arkangel. Mas à medida que Sara cresce e se transforma em uma adolescente problemática, Marie fica tentada a usar o Arkangel de novo.
Nessa premissa é que podemos dividir o episódio em duas partes: a primeira na infância de Sara onde sua mãe Marie, numa tentativa inútil de proteger a filha dos perigos do mundo, esconde através de imagens borradas e de áudios inaudíveis o que uma criança pode ou não ver e ouvir. Óbvio que crescer sem a menor noção de perigo, tentando colocar uma pessoa dentro de uma bolha já ocasiona muitos problemas. Na segunda parte, vemos uma Sara já adolescente normal com seus momentos próprios da idade como a descoberta do amor e de pequenas rebeldias. Um dos debates aqui aborda a dificuldade de alguns pais em entenderem o real crescimento de seus filhos e suas inevitáveis autonomias. Mesmo que tenha melhorado um pouco, Marie ainda tem, em sua cabeça, uma ideia de controle tão extrema sobre a vida da filha, onde acha poder decidir sobre as escolhas pessoais de Sara. Seu clímax tem um impacto chocante, mas é extremamente plausível numa sociedade acostumada a ser vigiada por tudo e todos.
Arkangel foi o primeiro episódio de Black Mirror a ser dirigido por uma mulher e Jodie Foster, com uma direção extremamente competente, deixa uma ótima impressão com seu estilo indie de filmar. A relação entre mãe e filha é tão intensa e passional, a fotografia é tão cotidiana, a trilha tão presente que nos lembra algum clipe de qualquer banda britânica de rock.
Com uma mensagem poderosa da diretora Jodie Foster, que pôde escolher o roteiro do qual gostaria de filmar, Arkangel mostra os perigos de sufocar uma criança com excessos de controle disfarçados de proteção e se configura como o melhor desta quarta temporada.