Apesar do vácuo de oito anos que separa ‘Jogos Vorazes e a Cantiga dos Pássaros e das Serpentes‘ do último lançamento da saga, a qualidade (em todos os aspectos) desse segue o mesmo padrão exemplar dos filmes anteriores.
A direção de fotografia de Jogos Vorazes – A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes garantiu uma qualidade visual absurda, com cenários maravilhosos, figurinos e maquiagens convenientes, cenas de ação muito bem filmadas e jogos de câmera que acompanham o desenrolar do plot.
O roteiro foi muito bem adaptado do formato literário ao audiovisual — os responsáveis pela adaptação conseguiram aproveitar o melhor do gênero cinematográfico sem desrespeitar ou diminuir o conteúdo do livro; esse fator pode parecer simples, mas carece em diversas obras.
A única possível desvantagem da adaptação é não conseguir abranger toda a imensidão de detalhes contida no formato original da história; entretanto, é compreensível que alguns fatores sejam deixados de lado, afinal, não há como mencionar de tudo em menos de três horas de filme. A única possível solução para apresentar tudo que o livro engloba seria dividir a obra em duas partes. Porém, levando tudo isso em consideração, os profissionais responsáveis pela parte adaptativa selecionaram muito bem quais elementos apresentar e quais deixar de lado.
A montagem da obra, que é separada em três partes, flui espontaneamente, crescendo conforme novas informações são adicionadas. Essa escolha criativa de montagem é essencial, pois obedece a tensão crescente do filme, prende o telespectador na curiosidade e faz com que as duas horas e quarenta minutos passem despercebidas.
A história do filme exige um certo grau de tensão em todas as suas partes, ora pelo suspense de não saber em quais personagens confiar, outrora pela curiosidade de como tudo terminaria; tal tensão é explorada gradativamente em sincronização com a narrativa.
Tom Blyth entrega um perfeito trabalho como protagonista, superando expectativas. O ator deu conta das três diferentes faces de Snow, evoluindo gradativamente da aparente inocência, da confusão de estados, até chegar ao ódio. Tal evolução é extremamente evidente, notável não apenas graças ao roteiro muito bem escrito, mas também pelos trajetos do ator.
Rachel Zegler, apesar de não estar ruim no papel, não foi a escolha mais ideal para interpretar uma personagem tão complexa, enigmática e de natureza tão caricata e marcante como Lucy Gray.
Os trabalhos das equipes de caracterização e direção de atuação são evidentes, mas ainda assim, escolher uma atriz poderosa era o mais essencial para que o impacto da personagem fosse transmitido. Rachel conseguiu entregar a performance mais conveniente de sua carreira, mas ainda assim não foi suficiente — faltaram os fatores naturais, poder e charme, algo que Lucy Gray é dita como possuidora diversas vezes, porém que não é observado na interpretação de Zegler.
Entretanto, no que se refere a vocal, Rachel Zegler não decepciona. Como atriz, ela é uma ótima cantora. Sua voz combina perfeitamente com a profundidade das emocionantes músicas originais do filme, que antes eram encontradas somente como letras, nos livros.
No que diz respeito aos outros atores, todos eles estavam incrivelmente bons em seus respectivos papéis. A atriz EGOT Viola Davis brilha como a maléfica Doutora Volumnia Gaul. Hunter Schafer, apesar de ter pouco tempo de tela, entrega uma aquecedora interpretação de Tigris Snow, repleta de graças.
Quanto à Peter Dinklage como o forte e controverso Casca Highbottom, o ator não falhou em, mais uma vez, mostrar seu potencial flexível.
Num filme com um protagonista de caráter tão forte, é natural que alguns personagens secundários passem abatidos. Entretanto, graças ao roteiro saliente, ao empenho dos atores e de suas caracterizações, todos os personagens tiveram seus momentos marcantes.
É bem provável que o filme receba algumas indicações no próximo Oscar. Ressaltam-se as possibilidades nas categorias: “Melhor trilha sonora”, “melhor roteiro adaptado”, “melhor cabelo e maquiagem”.