Dirigido por Mike Mitchell, Kung Fu Panda 4 chega aos cinemas oito anos depois de seu filme antecessor, dando continuidade à franquia de animação cheia de comédia e ação. O filme entretanto, apesar de ser bastante divertido em vários momentos, acaba sendo o mais fraco em comparação aos três primeiros.
É mais que esperado que um novo filme de uma franquia de mais de 15 anos de existência recorra à nostalgia e elementos consolidados de seus primeiros filmes com uma ideia de “garantia” de sucesso, visando agradar fãs antigos (que hoje são adultos) e um novo público de crianças. Mas com essa estratégia há também riscos, e que neste filme, o roteiro falha e os comete descaradamente.
Em Kung Fu Panda 4, Po precisa encontrar um novo Dragão Guerreiro para o substituir, enquanto parte para uma jornada ao lado da raposa Zhen, para enfrentar a Camaleoa feiticeira capaz de assumir a forma de outras pessoas, inclusive os outros mestre-vilões já derrotados por Po.
Um quarto filme de animação de uma franquia de sucesso que falha em lidar com a própria história de seus filmes anteriores, produzido pela DreamWorks Animation e com Mitchell assumindo a direção, é um erro que aqui está sendo cometido pela segunda vez. Shrek para Sempre (lançado em 2010) foi o quarto filme da franquia Shrek e também dirigido por Mitchell, e já havia apresentado os mesmos problemas narrativos. Assim como em Shrek, a franquia Kung Fu Panda havia funcionado bem como uma trilogia (ainda que o terceiro filme de ambas não sejam tão bons quanto os dois primeiros), mas a chegada de um quarto filme com problemas em seu roteiro, deixa a sensação de que a história já deveria ter sido encerrada, e a pergunta que fica: há a necessidade de um quinto ou sexto filme?
O filme funciona como entretenimento e diversão, a história é bem contada – apesar dos problemas – e o ritmo das cenas flui bem, assim como nos outros Kung Fu Panda. Com um orçamento reduzido, cerca de 85 milhões de dólares (metade do orçamento dos filmes anteriores), a falta de qualidade técnica e visual da animação é extremamente perceptível neste longa.
Po é o protagonista que carrega a comicidade e o drama do filme. Trazer novos personagens ao universo acrescenta um dinamismo à narrativa, explorando novas relações e novos ambientes. Mas a ausência dos Cinco Furiosos – Tigresa, Macaco, Louva-Deus, Garça e Víbora – é gigantesca, e pode apenas ser justificada por dois motivos: o baixo orçamento para a animação de mais 5 personagens; e um facilitador de roteiro, para que Po siga sua aventura apenas ao lado de Zhen, e que a ausência dos Cinco Furiosos é terrivelmente justificada com um simples dialogo expositivo explicando que os Cinco estão viajando para realizar outras missões.
Um outro exemplo de desrespeito e descaracterização de personagens que já foram consolidados anteriormente, é o potencial desperdiçado desta nova vilã – a feiticeira Camaleoa e seu poder de se transformar nos vilões dos filmes anteriores. Seria muito mais interessante acompanhar o desenvolvimento de um mistério sobre este aspecto, um retorno sinistro e inexplicável dos grandes vilões que voltam do mundo espiritual ao mundo mortal, e uma revelação da identidade da verdadeira vilã.
Mas sem segredo, sem mistério, o filme entrega todas as informações logo no início, tornando tudo extremamente previsível. E ao final do filme, quando há realmente a presença dos vilões anteriores (não apenas personificados pela Camaleoa), Tai Lung, Lord Shen, e Kai, se apresentam completamente descaracterizados de suas personalidades, como se fossem apenas velhos amigos de Po.
Facilitadores de roteiro e a falta de criatividade para lidar com o passado da franquia deixam a narrativa fraca e previsível. Mas, apesar de tudo, pode ser um bom e fácil entretenimento para quem não está atento à história dos primeiros filmes. Talvez funcione melhor para uma nova geração que conhecerá Kung Fu Panda a partir dessa nova obra.
Observação: Um destaque vai para a cena dos créditos, com a presença dos Cinco Furiosos ao som de “Baby One More Time” na voz de Jack Black, que encerra o filme quase numa sensação de alívio e diversão.