MaXXXine

Crítica | MaXXXine “Hitchcock se revira no túmulo”

Mia Goth estrela MaXXXine, uma bagunça metalinguística que se perde em suas próprias referências, resultando em um suspense mal executado e confuso em seu propósito.

Matheus Monteiro
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MaXXXine
VEJA NO CINESYSTEM

A franquia do diretor Ti West, estrelada por Mia Goth, começou demonstrando um grande potencial no slasherX: A Marca da Morte” (2022), mas logo se perdeu no terror psicológico de “Pearl” (2022), e continua a decepcionar em seu novo filme de suspense, “MaXXXine” (2024).

Com a trama ambientada em Hollywood dos anos 80 e com um serial killer à solta, Maxine Minx (Mia Goth) busca abandonar sua carreira como atriz de filmes pornográficos para se tornar uma estrela de cinema.

MaXXXine

O filme apresenta um elenco secundário com nomes que se destacam, como Kevin Bacon, Giancarlo Esposito, Elizabeth Debicki, Lily Collins, entre outros, e explora temas como a busca pela fama, o cenário hollywoodiano, o medo do satanismo característico dos anos 80 e a indústria de filmes adultos, fazendo com que sua premissa inicial seja mais interessante do que sua realização.  

MaXXXine” é repleto de referências e metalinguagem sobre a indústria cinematográfica, voyeurismo, prazer e repulsa pela violência. O filme faz comentários sobre si mesmo, não de um jeito instigante e inteligente, mas como se precisasse de uma justificativa pela falta de criatividade e precariedade narrativa.

Não há construção de um mistério sobre a identidade do serial killer, assim como não há cenas dos assassinatos (como elemento narrativo do próprio gênero), com o filme se limitando a mostrar apenas uma morte razoavelmente relevante durante seu desenvolvimento.

MaXXXine se perde em diálogos expositivos e autoexplicativos sobre suas próprias referências. Homenagear o mestre do suspense, Hitchcock, requer não apenas citações diretas, mas a habilidade na construção de uma atmosfera cinematográfica, através da mise-en-scène, do jogo entre os elementos narrativos e o espectador. Ti West, que desde o início subestima a inteligência do público, parece não entender que não se deve referenciar Hitchcock sem antes compreendê-lo.

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Os temas de conservadorismo e moralismo são recorrentes em filmes de terror, tanto no enredo quanto nas próprias características do gênero, e que neste filme estão representados também de forma personificada pelo “vilão”.

Estes valores são alvo da crítica que o filme tenta fazer em seu discurso, mas que acaba se tornando antiquado em sua abordagem e sua forma. Os momentos de ritual e exorcismo evocam uma era de censura e extremismo religioso, conectando-se com questões contemporâneas.

Não se limitando a tentar ser apenas um bom suspense, o filme acaba se tornando uma confusão metalinguística sem objetivo claro, misturando gêneros e referências, do slasher a filmes de exorcismo, do gore ao erótico, da Hollywood clássica a “filmes B” de baixo orçamento.

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Em seu desfecho, referências de momentos como a tarantinesca “quase morte” de Sharon Tate em “Era Uma Vez em… Hollywood” causam estranhamento e comicidade, destacando a falta de coesão no roteiro de “MaXXXine”.

Visualmente, o filme é bastante memorável e atraente, em sua fotografia com luzes neon características da época. No entanto, a personagem da “final girl”, uma “loira hitchcockiana”, não consegue sustentar o filme apenas a partir de suas referências sem um objetivo narrativo, estético ou autoral coerente.

Ao contrário disso, as referências servem para ilustrar e ressaltar como grandes filmes de terror e suspense deveriam ser feitos, algo que Ti West não conseguiu alcançar em “MaXXXine”, resultando em mais um filme com um potencial desperdiçado.

MaXXXine está em exibição nos cinemas Cinesystem.

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Ruim 2
Nota 2
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