“Meu Nome é Gal“, dirigido por Lô Politi e Dandara Ferreira, conta a história da vida de Maria da Graça Penna Burgos Costa, no momento em que ela saiu da Bahia e se juntou aos famosos tropicalistas no sudeste brasileiro, visando a difícil tarefa de viver a arte da música durante o período da ditadura militar.
No filme, a mudança do apelido Gracinha para a adoção do nome artístico “Gal Costa” é explicada numa frequência que nomeia a obra.
Gal ainda estava viva quando a obra começou a ser produzida, há mais de um ano atrás. Infelizmente, a morte repentina da cantora impossibilitou-a de assistir a tão linda homenagem.
A sequência final traz um compilado de vídeos da “verdadeira” Gal, que é, sem dúvidas, o momento mais marcante do filme. Esse é, provavelmente, o único momento em que o telespectador médio pode se conectar profundamente com a figura da cantora.
Apesar de toda a divulgação de Meu Nome é Gal ser voltada à figura de Gal Costa, ele funciona melhor como uma visualização do momento de nascimento da Tropicália do que, necessariamente, uma biografia cinematográfica da cantora. É como se a Tropicália exercesse o papel de protagonista ao invés de Gal que, por sua vez, atua mais como uma personagem coadjuvante: seu papel na narrativa é inegavelmente importante, mas não é o foco principal.
A trama pontua perfeitamente os horrores causados pela ditadura militar, a partir da colagem de cenas antigas compiladas e cenas refilmadas inspiradas em fatos.
Tais cenas tristes e fortes das barbaridades acontecidas durante o período são acompanhadas de uma trilha sonora que cresce em tons graves, causando ansiedade no espectador. Dessa forma, a angústia que a situação política do Brasil causava em seus cidadãos da época é evidente.
A contextualização histórica é extremamente importante em obras não-fictícias, entretanto, é ideal que ela não tire o foco do principal objetivo da trama, como ocorreu nesse caso, onde o nascimento do Tropicalismo e os horrores da ditadura recebem mais destaque do que a Gal em si. Seria necessário mais do que apenas oitenta minutos para conciliar o contexto histórico com o desenvolvimento da protagonista proposta.
Gal Costa é explorada de maneira rasa, de forma que quem não é fã da cantora pode não se conectar tanto com a personagem, pois não é apresentado a informações precisas de sua pessoa; apenas cenas superficiais que forçam uma emoção inexplorada.
Gracinha é apresentada em um determinado momento de sua vida; a narrativa não permite que o telespectador saiba de nada que aconteceu antes daquilo ou como ela chegou lá: apenas se sabe que ela já estaria incluída naquele cenário da música brasileira, e sabemos que ela canta.
Esse caráter de Meu Nome é Gal de pontuar mais precisamente a paixão da cantora pela música sem necessariamente explorar seu crescimento, faz um paralelo de maneira eloquente num plano sequência onde Gal e Caetano realizam uma entrevista juntamente de seu empresário, Guilherme: ao ser questionada sobre sua vida pessoal, Gal diz: “Meu negócio é a música”.
A interpretação da protagonista Sophie Charlotte não cumpre com as expectativas – a atriz, apesar de estar boa tecnicamente, não conseguiu capturar a essência de Gal Costa.
Coadjuvante com maior tempo de tela, Rodrigo Lelis brilha como Caetano Veloso, dando luz aos trejeitos do cantor em seus anos de juventude e se estabelecendo como o ator que mais se destaca e, Meu Nome é Gal. O elenco também conta com Dan Ferreira, no papel de Gilberto Gil, Luís Lobianco como Guilherme Araújo, Camila Márdila como Dedé Gadelha.
Além desses nomes, “Meu Nome é Gall” também conta com a presença breve de Dandara Ferreira como Maria Bethânia e Caroline Andrade como Rita Lee; ambas muito boas, tanto bem caracterizadas como bem atuando.
Meu Nome é Gal conta com figuras importantes da história brasileira e, por isso, é importante que as caracterizações sejam perspicazes. O caráter visual de cada cena é forte e remete a momentos marcantes no imaginário brasileiro, fáceis de serem identificados graças aos bons trabalhos das equipes de cabelo, maquiagem e figurinos.