Minha Fama de Mau, cinebiografia de Erasmo Carlos, dirigida por Lui Farias, estreia em um ano de mudança política no país. Contando a trajetória do cantor desde os primeiros contatos no mundo da música, quando jovem na Tijuca e amigo de Tim Maia, passando pela criação da Jovem Guarda (conhecida por se manter afastada das discussões políticas no início da ditadura) e o amadurecimento do artista após passar por um período de esquecimento.
Chay Suede interpreta um Erasmo Carlos inconsequente e sonhador, não muito diferente de outras obras em que o protagonista inesperadamente alcança o estrelato, como Ally (Lady Gaga) em Nasce Uma Estrela (A Star Is Born) ou Freddie Mercury (Rami Malek) em Bohemian Rhapsody. Já Gabriel Leone interpreta um Roberto Carlos mais sensível do que tenho como referência e com maior insegurança vocal. Malu Rodrigues entrega uma Wanderléa que parece fútil e enfezada ao mesmo tempo, numa semelhança com atrizes mirins brasileiras, infelizmente tem pouco tempo de cena, mas se entrega ao papel.
Impossível não comparar a obra com outras cinebiografias de artistas brasileiros, como a da Elis Regina e Tim Maia. Minha Fama de Mau se apoia mais na comédia que as anteriores, além de possuir uma linguagem mais moderna. Porém, o filme que mais se assemelha, pelo som Rock & Roll e pela trajetória dos protagonistas, é The Wonders – O sonho não acabou (That Thing You Do!).
Em resposta a críticas ao movimento “Iê-iê-iê”, que faria uso do som de guitarras e traduções de canções americanas, Erasmo afirma que quem criticou a miscigenação musical também fez uso dela. No caso, a Bossa Nova, que importou o jazz ao ritmo brasileiro. Já no filme, essa mistura de artes se dá pelo uso de quadrinhos e quebra da quarta parede, mais usada em filmes estrangeiros ou teatro. Por diversas vezes, o personagem principal se dirige ao espectador para comentar algo da trama ou chamar sua atenção. A partir de certo ponto do filme, esse artifício não é mais usado.
É curioso o uso de quadrinhos na narrativa, mais famoso em películas estrangeiras de heróis. A função, em conjunto com cenas antigas do Rio de Janeiro com bondinhos, trouxe uma nova roupagem para a obra.
Pontos que não ficaram claros no longa são: como começou a amizade entre Roberto Carlos e Erasmo e o que aconteceu a Wanderléa ao fim do programa Jovem Guarda. A história é uma visão do Erasmo Carlos, mas conclusão para os outros personagens também não poderia faltar.
Fazendo uso de linguagem na moda, Minha Fama de Mau conta uma história previsível até para quem não conhece a história dos protagonistas. Provavelmente é a “jornada do herói” de todas as histórias musicais, famosas atualmente.