Há quem diga que articular o riso seja uma tarefa muito mais difícil do que extrair lágrimas. Justamente por isso, a idealização de uma narrativa que evoca graça é igualmente difícil e, em um exímio exemplo de noção cinematográfica, algumas obras existem no limiar entre o drama e a comédia.
Minhas Férias com Patrick, de Caroline Vignal, é um exemplo, divertido e singelo, desse meio termo e, por mais que não alce vôos altos e nem alcance tudo aquilo que almeja, consegue, mesmo que primordialmente, arrancar algumas risadas enquanto insere o espectador em uma jornada de descoberta e até mesmo amizade.
Acompanhamos Antoinette, uma professora do ensino fundamental, que ao se envolver com Vladimir, pai casado de uma de suas alunas, embarca em uma caminhada pelo interior francês em busca de seu amado. Caindo de paraquedas em um universo de trilhas, ela opta por ter o burro Patrick ao seu lado e, enquanto ambos vivenciam diversas aventuras, aprende uma valiosa lição sobre relacionamentos, amizades e até mesmo sobre o próprio curso da vida.
Em um primeiro momento, o filme imprime o manto de humor galhofa. Vemos a mulher mergulhando em um mundo completamente desconhecido para conseguir se conectar com o homem do qual é amante. Todavia, ele escala rápido para uma sensibilidade bem aguçada ao, na mesa do almoço, criar uma discussão que imprime para a protagonista a sua impressão social em relação às atitudes que tomou através do coração.
Por um ato mal calculado, ela terá de desbravar o ar livre acompanhada de um burro que mal se move e, pelas longas sequências de caminhada, o filme desenha muito bem as consequências complexas e vagarosas dos relacionamentos humanos.

Vignal sabe imprimir um tom nos acontecimentos que, se não for realista, é ao menos bem empático. Não vemos Antoinette transitar entre o humor e o drama, muito pelo contrário, ela vivencia os dois ao mesmo tempo e, logo após provocar risos ao desajeitadamente descer uma ladeira, ela emociona ao chorar em frente ao casal da pousada.
Mesmo assim, não é justo chamar Minhas Férias com Patrick de comédia romântica uma vez que ele não está interessado na chama ardente da relação extraconjugal e sim em como ela e todo o desenrolar da história imprime novos aprendizados na protagonista.
Lembrando bastante a personagem de Greta Gerwig em Frances Ha (Noah Baumbach, 2012), ao mesmo tempo que nada dá efetivamente certo, a professora encontra uma maneira de achar otimismo em sua jornada. A mudança de eixo que ele dá após a revelação de que a esposa de seu amado sempre soube de seu caso é muito significativa nesse aspecto. A queda do burro pode doer, machucar e fazer com que ela carregue consigo a lembrança durante algum tempo, mas, como todas as coisas na vida, ela não só passa como coloca novas pessoas e experiências no percurso.
Pegando o espectador no contragolpe, Minhas Férias com Patrick engana com uma premissa clichê para apresentar uma trajetória de descobrimento. Antoinette nem sequer precisa concluir a caminhada para ter algo que pontue seu esforço, a bagatela de coisas novas que foram colocadas em seu caminho já lhe entregam, se não uma nova visão, ao menos um caminho diferente para seguir.
Mais uma vez evocando a premissa do trabalho de Baumbach, o cinema é amplo demais para pensar somente em concluir um arco e não aproveitar a jornada como um todo.
Vale mencionar que o filme concorreu em 8 categorias na premiação César (entre elas, melhor filme, direção e roteiro), e rendeu Laure Calamy (da série da Netflix “Dix pour cent”) o troféu na categoria melhor atriz.
O Cabana do Leitor assistiu ao longa em uma cabine de imprensa online à convite da California Filmes.