Na véspera de Natal, a Netflix disponibilizou em seu catálogo o filme mais caro e uma das maiores promessas de premiação de Oscar do ano de 2021. A gigante do streaming quis finalizar o ano com chave de ouro, mas acabou pensando muito nisso e esqueceu de colocar uma obra de qualidade.
Em Não Olhe Para Cima, dois astrônomos descobrem um asteroide que irá se chocar com a terra em alguns meses e a partir disso tentam alertar a população e o governo americano para que medidas sejam tomadas.
Com a direção de Adam McKay (Vice e A Grande Aposta) Não Olhe Para Cima é uma espécie de sátira ao aquecimento global e como os governos e a população se comporta em relação a um evento não imediato que pode acarretar na extinção da humanidade.
O diretor coloca um grande elenco para trabalhar seu roteiro de humor ácido e bastante caricato. O longa tem uma dinâmica bastante consistente e apesar de seus 138 minutos, não se tem nada cansativo aqui.
Para falar desse elenco, é necessária uma grande diferenciação de uma atuação propositalmente caricata de uma atuação mal feita. Por isso é importante dizer antecipadamente que ninguém está mal nesse em Não Olhe Para Cima. Todos realizam uma boa atuação que está dentro do tom proposto pelo filme.
Mas vamos lá. Inicialmente temos Leonardo DiCaprio que protagoniza o filme e apresenta Randall Mindy, um personagem cheio de camadas, que muda e se adapta à grande mídia para disseminar sua descoberta e deixa toda essa “fama repentina” subir à cabeça.
Já a brilhante Jennifer Lawrence é taxada como louca em todo o filme com sua candidata ao PhD, Kate Dibiasky. Ela é muito interessante no primeiro ato do filme e leva o público ao questionamento em relação ao governo, mas é descartada quando Randal (DiCaprio) passa a assumir o protagonismo, deixando Kate (Lawrence) com pequenas e pontuais participações.
Em relação ao elenco de coadjuvantes, destaque positivo para Peter Isherwell interpretado pelo brilhante Mark Rylance, que traz a caricatura de diversos magnatas da tecnologia e transparece uma falta de empatia enorme envolto de uma camada enorme de falta de expressão proposital. O mesmo não pode ser dito de Maryl Streep com sua egocêntrica Presidente Orlean (ou talvez Jair Messias Bolsonaro?), que prefere se preocupar com seu candidato na Suprema Corte ao invés de dar atenção para a iminente extinção (ou que prefere tirar férias na praia enquanto a Bahia tem registros de mortes pelas fortes chuvas que atingiram o estado). Apesar de muito bem no papel, a personagem está um pouco fora de tom, dificultando a aceitação do acontecimento, mesmo o longa tendo uma ideia de absurdismo.
Não Olhe Para Cima tem um tema muito necessário em seu coração, mas tem dificuldade em apresentar esse tema de maneira clara, além de se perder um pouco no tom satírico e de humor ácido que está sempre presente.
Eu não ri em nenhum momento do filme e ele parece querer fazer piadas suficientes para rirmos em momentos inoportunos.
[rwp-review id=”0″]Me parece um filme muito diversivo e que irá acarretar em possíveis indicações pelos nomes e não pela real qualidade. Minha previsão? Será como um O Irlandês, apesar de bom, não deve ser efetivo suficiente para vitória em nenhuma categoria.
E não se engane pelo exemplo, já que o mencionado anteriormente é uma grande obra que concorreu em um ano de muita qualidade. Não Olhe Para Cima deve seu sucesso mais ao peso de seu elenco e premissa da história do que realmente sobre sua qualidade.