O filme “Napoleão“, dirigido por Ridley Scott, apresenta uma visão controversa e fictícia da figura histórica de Napoleão Bonaparte.
O longa se enquadra no gênero épico/drama histórico e se destaca por sua abordagem peculiar do protagonista, retratando um Napoleão egocêntrico e, ao mesmo tempo, infantilizado, especialmente em momentos de sua vida pessoal.
A imponência do líder durante as batalhas da Era Napoleônica é contrastada com cenas quase cômicas e vergonhosas em sua vida privada com Josephine. Após a Revolução Francesa, acompanhamos a jornada de ascensão e queda de Napoleão (Joaquin Phoenix), em paralelo à sua vida pessoal e sua relação com Josephine (Vanessa Kirby).
A versão exibida nos cinemas tem 2 horas e 38 minutos. No entanto, há uma versão de 4 horas de duração, que será lançada pela plataforma de streaming Apple TV+. Apesar da grande diferença entre as durações dos diferentes cortes do filme, a versão do cinema funciona bem, narrativamente. A versão mais longa, provavelmente acrescentará ainda mais eventos e contextos históricos, além de momentos de construção da relação do casal.
A abordagem de Ridley Scott sobre o personagem e sobre a história gera controvérsia. A representação de eventos históricos com inconsistências e desconexões foram alvos de desaprovação por parte de historiadores. A visão do personagem como uma figura imponente durante as batalhas contrasta com a versão quase caricatural apresentada em sua vida pessoal.
O filme trata Napoleão como um personagem fictício, incorpora elementos de “licença poética” que remetem a acontecimentos históricos, não como uma representação realista, mas sim simbólica, como o momento em que Napoleão atinge com um tiro de canhão uma das pirâmides do Egito.
Este aspecto contribui para a ironia presente no filme, que comenta sobre a ambiguidade dos eventos históricos e a construção do imaginário da figura de Napoleão. Apesar das críticas à falta de contexto político das motivações de Napoleão, o filme apresenta um comentário sobre a banalização da pena de morte pela guilhotina e a vaidade política da época.
Joaquin Phoenix é o grande destaque do filme como protagonista, e ganha força com a presença de uma atuação brilhante de Vanessa Kirby. A relação entre o casal guia a narrativa em paralelo às conquistas de Napoleão.
Vemos uma versão do Napoleão machista e misógino, que humilha Josephine em momentos de conflitos, e a culpa por sua infidelidade, enquanto ele mesmo se vê intocável. Napoleão é egocêntrico; na cena da sua coroação, ele tira a coroa das mãos do Papa e a coloca em sua própria cabeça e diz “Encontrei a coroa da França na sarjeta e a coloco em minha própria cabeça”, em um gesto de autoproclamação como imperador da França.
A direção de arte, figurinos e maquiagem impressionam, criando uma atmosfera única e realista em sua forma. A fotografia do filme é bastante expressiva, por exemplo, na cena de batalha da armadilha no gelo, destaca-se pelo contraste marcante, com o vermelho do sangue na água.
Os momentos de ação, nas batalhas, são intensos, brutais e fluem com a movimentação dos elementos nas cenas, ainda que não sejam exatamente como descrevem os documentos históricos, mas que funcionam perfeitamente no contexto e na forma do filme.
A relação com Josephine se desenrola em paralelo com as conquistas de Napoleão, até o momento de sua queda, após o falecimento de sua amada. Em conclusão, “Napoleão” é uma obra cinematográfica que, embora divirja da representação histórica tradicional, oferece uma visão única e provocativa do personagem.
A habilidade de Ridley Scott em mesclar elementos fictícios com eventos reais resulta em um bom filme, que certamente dividirá a opinião do público.