Ninguém Vai te Salvar de um filme ruim? O subgênero de filmes de apocalipse/alienígenas sempre esteve em pouca demanda mesmo englobando o terror, suspense, ficção científica e drama, uma vez que tem muitas brechas para serem usadas sobretudo premissas ainda não exploradas.
Mas a verdade é que mesmo tendo grandes obras como E.T. O Extraterrestre (1982), Sinais (2002), A Chegada (2016) e Um Lugar Silencioso (2018), longas desse estilo nunca foram muito valorizados para que houvesse mais de suas produções ou que tivessem algum marketing em peso por serem subestimados.
Nessa linha de pensamento, Ninguém Vai te Salvar é o mais novo membro desse meio, sendo um filme que tinha grande potencial para ser lançado no cinema ou talvez ganhar uma atenção mais especial durante sua distribuição para o streaming, pois ele é como um bom filme do subgênero: onde os alienígenas são caricatos sem medo algum e não são o foco do filme!
O terror em questão se mantém com os jumpscares no timing certo e essencial em cada cena. Já o visual do E.T foi construído não para ser aterrorizante, e sim idealizado propositalmente, apenas na intenção de colocar a mostra as suas características marcantes e referenciadas, e isso apenas enriqueceu todo o filme, por trazer essa “fantasia” com os próprios alienígenas e suas naves num contraste no filme com uma aparência mais “séria”.
Quanto à construção, os elementos representados são o pilar do filme inteiro, sendo sustentado também com a ajuda do som, uma vez que o diálogo não esteve presente em nenhum momento, obrigando o espectador a “ler” os planos e as sequências. O audiovisual toma conta de toda a ambientação sem nos deixar confusos sobre o que está exatamente acontecendo e nem nos deixando reféns das falas da personagem ou qualquer interação verbal.
Como exemplo temos sequências com a câmera longe e um pouco desfocada ao apresentar o E.T. a fim de criar certa tensão no público, e na medida que a tensão aumenta com os sons formando os sustos e objetos da casa que formulam um obstáculo que mantém a criatura escondida, a câmera passa a se aproximar cada vez mais, nos familiarizando com o alienígena e nos fazer perceber que é apenas uma breve caricatura do que já temos em mente.
Outra coisa que andou lado a lado com o casamento do ambiente e som foi a caracterização, principalmente da personagem principal e a bolha em que ela vive. Sua casa, suas roupas e pertences possuem elementos bem antigos, um tanto quanto retrô, ao meu ver pelo fato de que ela se apega ao passado de certa forma, assim como o seu apego emocional, uma casa de bonecas, na qual brincava com a mãe quando criança. Esses materiais explicam os trejeitos da personagem, sua fobia social descarada e insegurança quanto a si mesma em que ela busca melhorar, como seu sorriso.
Outros detalhes que reafirmam a sua restrição quanto ao mundo são o fato dela ter uma vida construída dentro de uma casa e convivendo consigo mesma, saindo apenas pelas necessidades, e fazendo seus hobbies (sapateado e fotografar) parte da sua rotina dentro do seu próprio mundo. Um paralelo “ideal” feito por ela mesma.
Todas as cenas que destacam o alienígena me lembraram Sinais (2002) de M. Night Shyamalan, até mesmo a abordagem temática e a vivência dos personagens principais de ambos os filmes com a guerra interna do luto e do perdão, tanto de si mesmo como de outras pessoas da cidade quanto ao isolamento social.
O final de Ninguém Vai te Salvar é a vitória da personagem num plot twist simples, porém impactante e bem executado, que dá um toque especial para o filme. O longa tem um desenvolvimento cheio de reviravoltas de maneira coerente e uma finalização redonda e marcante.