Inspirado nas HQs de Luciano Cunha, O Doutrinador é um anti-herói brasileiro que caça políticos corruptos. Com o visual de um justiceiro, o personagem usa uma máscara de gás e um capuz para manter sua identidade secreta.
A ideia da HQ surgiu em 2013, quando os protestos que começaram por causa do preço da passagem de ônibus se transformaram em uma crítica ferrenha a corrupção enraizada no Palácio do Planalto. E no filme dirigido por Gustavo Bonafé, qualquer semelhança com a realidade da política brasileira não é mera coincidência*.
Miguel (Kiko Pissolato) é um agente policial que vive uma vida normal até o dia em que sente na pele como a corrupção afeta a vida de todos os cidadãos, sem exceção. No começo da história o protagonista perde a filha, vítima de uma bala perdida enquanto eles iam a um jogo de futebol. A vontade de vingança começa a aflorar em Miguel assim que ele chega no pronto socorro e descobre que não há nenhum médico para atender a filha.
Enquanto isso, conhecemos o governador de São Paulo, Sandro Correa (Eduardo Moscovis). Ele é levado a depor na Polícia Federal por desvios milionários nas verbas públicas da Saúde no estado. E é durante um protesto contra o governador que surge a figura do Doutrinador. Devastado pela morte da filha, Miguel entra no confronto com os manifestantes e vemos pela primeira vez o anti-herói com o capuz e a máscara de gás – clara referência aos protestos de 2013.
A partir daí, o filme mostra a que veio. Correa é a primeira vítima do vigilante, que o mata a sangue frio, sem piedade, numa cena que não dispensa a violência. Miguel começa a mudar seu comportamento. Ele continua atuando como policial, mas usa o treinamento para aniquilar todos os políticos corruptos, numa caçada sem fim. É bom lembrar que o filme tem cenas de violência explícitas e classificação de 16 anos.
Durante a jornada, Miguel conta com a ajuda da hacker Nina (Tainá Medina), a única que sabe a verdadeira identidade do vigilante. Num primeiro momento ela tenta usar isso contra ele, mas depois percebe que ambos não são tão diferentes.
O filme tem referências claras a governadores, presidentes, ministros do Supremo Tribunal Federal e mistura personagens como o Justiceiro e até o Batman pra transformar o Doutrinador num anti-herói brasileiro. Lembra quando eu disse que qualquer semelhança com a realidade não é pura coincidência? Tem até candidato que chega a presidência após uma tentativa de atentado que resulta numa tragédia familiar.*
A direção de Bonafé é precisa e conta com enquadramentos interessantes, além de alguns takes incríveis de uma São Paulo que mistura ficção e realidade. Os atores também dão conta do recado e trazem o tom certo para que cada personagem funcione dentro da trama.
É obvio que o filme é uma obra de ficção e não estimula a violência como forma de resolver todos os problemas. Mas, faz o expectador se questionar: até que ponto não somos passivos demais com mandos e desmandos dos caciques políticos que estão no comando do Brasil há tantos anos?
O Doutrinador estreia dia 1º de novembro nos cinemas.