Em um momento em que vivemos rodeados de continuações ou refilmagens desnecessárias, chega a ser refrescante ver Os Fantasmas Ainda Se Divertem, quase 40 anos depois, um dos filmes que transformou o diretor Tim Burton em um grande nome na indústria cinematográfica. E, portanto, está movimentando seus fãs saudosistas para os cinemas, em uma mistura de nostalgia e desejo por novidades menos desgastadas.
Antes de convocarmos o demônio Beetlejuice, vamos entender o que está por trás desse fenômeno inesperado. O primeiro filme, lançado em 1988, é praticamente o marco de estreia e auge de Burton, que até então não tinha muita visibilidade no mercado.
Logo após este lançamento, o diretor lançou seu primeiro filme do Batman com uma estética única, trazendo o marcante personagem Coringa, interpretado por Jack Nicholson, para as telas de uma maneira extremamente icônica e cartunesca.
Aliás, em Os Fantasmas se Divertem, Tim já deixa bem claro seu estilo “pop gótico”, com muito uso do preto e branco, além do roxo e verde. Cores contrastantes que marcam o começo da carreira e da famosa estética de Burton, sempre muito cuidadoso na escolha da paleta visual.
Os Fantasmas Ainda se Divertem continua a história de Lydia (Winona Ryder), que agora, em vez de ser uma adolescente problemática, lida com sua própria filha, Astrid. E logo aí encontramos o primeiro problema do filme: Jenna Ortega, que já havia trabalhado com Burton em Wandinha, não acrescenta muito à trama.
Sinceramente, com seus 22 anos, Jenna já não convenceu como adolescente antes e, agora, continua em um papel que parece apenas imitar suas colegas de cena, repetindo os mesmos trejeitos pelos quais foi elogiada. O ponto negativo é que, enquanto gastamos tempo de filme com Jenna, perdemos a chance de desenvolver melhor histórias que poderiam ser mais interessantes, como a da Noiva (e atual namorada de Burton), Monica Bellucci, que interpreta uma personagem cheia de potencial, mas mal explorada em Os Fantasmas Ainda Se Divertem.
Logo no início do filme, somos apresentados à personagem de Monica, que traz várias referências interessantes de outros filmes de terror. Uma cena em que Beetlejuice conta rapidamente a história dos dois em italiano é basicamente toda a interação que temos entre eles, desperdiçando assim uma potencial vilã com um passado cheio de referências intrigantes.
Outros dois atores que brilham no ridículo de seus personagens são Willem Dafoe, que traz o fantasma de um ator e Justin Theroux, que interpreta o noivo de Lydia. Além disso, há a soberba atuação de Catherine O’Hara, que retorna como Delia, a madrasta louca de Lydia. Algumas cenas de Delia só poderiam ser executadas por Catherine, que recentemente voltou à fama após interpretar outra personagem excêntrica em Schitt’s Creek.
Por falar de excentricidade, os figurinos estão SOBERBOS. Começando com a cereja no topo do bolo: a volta do vestido de noiva vermelho que Lydia deveria usar no primeiro filme. Os casacos P&B de Delia, chiques e excêntricos, as roupas Byroniescas de Rory (Justin) somadas a um ridículo e pequeno rabo de cavalo, mostram um detalhismo único na criação desse personagem que apesar de ter pouco tempo na tela, é marcante.
E por último, os modelos Vitorianos de Winona que a transformam em uma figura frágil e dependente, mas fundamentais para o entendimento de quem é Lydia.
Outro ponto positivo para Burton é o uso de efeitos especiais práticos e menos Computação Gráfica. O diretor é muito aclamado por suas animações e traz para Os Fantasmas Ainda Se Divertem esse clima, tornando a continuação mais leve e amigável que o primeiro filme. Alguns monstros simplesmente parecem fantoches, e isso traz menos terror e mais diversão para o longa.
O maior acerto dessa continuação foi saber se atualizar para a época sem precisar cair em algumas ciladas. O personagem de Michael Keaton é mais engraçado e menos creepy, sem as piadas e inuendos sexuais talvez desnecessários entre um demônio e uma adolescente.
Agora, apesar de terem 600 anos de diferença, Beetlejuice no primeiro filme soa como um pervertido atrás de uma menina. Em Os Fantasmas Ainda Se Divertem, ele é um demônio ainda apaixonado, mas por uma mulher. Felizmente, Tim não tentou repetir uma história que hoje seria muito mais mal-vista.
Os Fantasmas Ainda Se Divertem é um filme de terrir – mistura de terror com comédia – que entretém o telespectador se não pensarmos que partes do roteiro acabaram subutilizadas no corte final.
Particularmente, achei bem divertido e gostei de ver o mundo dos mortos criado por Burton. Além disso, para quem é fã do diretor, é um retorno ao auge de sua estética e estilo únicos, compensando por vários filmes ruins ou medíocres que fez nos últimos anos.
Voltar às origens, funcionou para Tim e quem o conhece vai adorar ver os vários “easter eggs” mostrados durante o filme, incluindo uma versão a capela da música “Banana Song” que ficou famosa no primeiro filme.
Quem for esperando um filme inovador como o primeiro provavelmente irá se decepcionar, mas Os Fantasmas Ainda Se Divertem é uma continuação do original. Mas a dica é que não é FUNDAMENTAL que você assista ao primeiro para se divertir nesse. A história se explica sozinha, e talvez esse seja o real acerto do filme: sua capacidade de atrair uma nova geração de fãs de “Besouro Suco”.