Past Lives, novo filme da A24 Studios, é exibido pela primeira vez no Brasil, no Festival do Rio, pela distribuidora Estação.
Nayoung, uma criança esperta e gananciosa, evolui numa linda grande amizade, com Haesung. Entretanto, quando a menina completa 12 anos, sua família se muda para os Estados Unidos e a obriga a mudar seu nome coreano para um nome americanizado de sua escolha – Nora.
Um retrato subjetivo de como a imigração altera o modo de autovisualização das pessoas, Nora muda de identidade para se encaixar numa nova, julgada como certa, normal; ela é forçada a se adaptar ao estilo de vida ocidental e abandona a figura de tudo aquilo que é oriundo da Coreia — inclusive Haesung — de sua mente.
O apagamento de sua própria cultura é explícito no filme; ele afeta sua pessoa, suas relações e seus afetos. Ela cresce cada vez mais gananciosa e desapegada a todas essas questões, se afastando de sua própria identidade, sua própria cultura, a qual nunca teve sequer a possibilidade de escolher abandonar ou não.
Past Lives não é um filme que segue uma sucessão temporal linear. Tal escolha criativa combina com a narrativa proposta, que acompanha um amor que também não obedece ao tempo. De doze em doze anos, Nayoung e Haesung se (re)encontram, ligados ora pelo destino, ora por coincidências ou por fortes memórias.
É um filme curioso, de caráter subjetivo muito forte, apesar de trazer uma história bem chamativa: o telespectador é convidado a não apenas observá-la, mas também a modificá-la passivamente em sua mente, ora relacionando-a com aspectos de suas respectivas vidas pessoais, ora implantando elementos nos personagens conforme seus próprios julgamentos.
O telespectador é levado a uma viagem de memórias enquanto desliza pela narrativa dos outros personagens, sendo inserido num universo onde o tempo e o destino parecem se opor lindamente.
Past Lives traz uma nova visão a respeito do amor: Não o amor perfeito, idealizado ou lógico; mas um amor complicado que, ainda assim, supera barreiras temporais e físicas e não depende da possessão para existir.
Puro como a infância e vitalício como o carinho. Pode ser considerado, até mesmo, como uma visão mais realista do real significado de afeto: Mesmo distantes, eles sempre pensam um no outro, torcem pelo bem um do outro e, acima de tudo, guardam em seus corações as memórias verdadeiras que fizeram juntos; entretanto, apenas isso não significa que eles estão propensos a acabar juntos.
Com uma fotografia que eleva o sentimentalismo e atuações que não deixam a desejar em momento algum, Past Lives te prende à tela, como um vício.
Emocionante, lindo e reflexivo, Past Lives é uma viagem pelas concepções de amor, tempo e autoconhecimento, além de carregar críticas importantes intrinsecamente em sua narrativa.