quebrando regras

Crítica | Quebrando Regras “Às vezes o sonho é o que nos mantém vivos”

Quebrando Regras é um filme sobre sonhos, força e fé, enfrentando todas as adversidades possíveis.

Nicks Froes
5 Min Ler
9 Muito Bom
Quebrando Regras

Em tempos sombrios como os que estamos vivendo, Quebrando Regras tem um impacto fortíssimo, e não pede licença pra isso. Com o Talibã ameaçando as meninas retratadas na história, o longa não só emociona, mas nos lembra que o mundo ainda falha miseravelmente em garantir o básico para muitas mulheres: o direito de existir com liberdade.

A força do filme vem, em grande parte, do fato de que ele é baseado em uma história real. A jornada das “Afghan Dreamers”, um grupo de meninas afegãs que enfrentou de tudo para competir em um torneio internacional de robótica: já havia sido registrada no documentário Afghan Dreamers (2017). Mas o diretor Bill Guttentag, junto ao roteirista Jason Brown e Elaha Mahboob (irmã da protagonista na real, Roya Mahboob), entendeu que essa história merecia atingir ainda mais pessoas, agora com o impacto emocional de uma obra de ficção dramática para o grande público.

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Segundo Brown, Hollywood relutava em investir num filme sobre adolescentes muçulmanas afegãs, então eles decidiram fazer acontecer com seus próprios recursos, priorizando a autenticidade e a representatividade em cada etapa da produção.

A história gira em torno de Roya Mahboob, uma jovem obstinada que decide formar uma equipe de robótica composta apenas por meninas. Mas o foco aqui vai muito além da tecnologia. O robô que elas constroem é quase um símbolo de resistência, enquanto a sociedade ao redor tenta desmontar cada parte do que elas são.

Cada personagem traz uma força única: Taara, a engenheira brilhante; Esin, a estrategista afiada; Haadiya, que carrega o grupo com sua resiliência; e Arezo, que transforma peças em vida com suas mãos. Elas não estão apenas construindo um robô: estão construindo uma nova narrativa para o que significa ser mulher em um lugar onde isso, por si só, já é um ato de rebeldia.

É impossível não se indignar com os obstáculos absurdos que as meninas enfrentam: censura dentro da própria casa, ameaças públicas, negação de vistos sob desculpas burocráticas, e até a vergonha e violência impostas por atitudes tão simples quanto trocar assinaturas de camisetas com meninos em uma competição. Pequenos gestos de liberdade aqui viram atos puníveis lá. E o filme te obriga a engolir essa realidade a seco.

Como obra cinematográfica, Quebrando Regras tem seus altos e baixos. A timeline do filme é um pouco confusa em alguns momentos, e o roteiro às vezes se rende a fórmulas conhecidas, como o clássico “montagem com música pop” (aqui ao som de “I Gotta Feeling”, do Black Eyed Peas). Mas tudo isso é perdoável diante da força da história que ele quer contar.

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O elenco é um acerto à parte. Amber Afzali, Nina Hosseinzadeh, Sara Malal Rowe e Mariam Saraj entregam atuações sensíveis e convincentes. E nomes de peso como Phoebe Waller-Bridge e Ali Fazal trazem uma leveza bem-vinda em momentos pontuais.

O que mais me marcou nesse filme é como ele transforma algo tão técnico quanto a robótica em símbolo de libertação. Não é só sobre o campeonato. É sobre dizer ao mundo: “Estamos aqui, somos capazes, e não vamos pedir permissão pra sonhar.”

É, também, um tapa na cara de quem acha que mulheres afegãs são apenas vítimas passivas. Essas meninas são engenheiras, líderes, sonhadoras e, acima de tudo, corajosas.

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E a pergunta final é: Vale o Ticket? Mais do que vale. Precisa ser visto. O ponto triste aqui é que são poucas sessões por dia do filme e em poucos cinemas. Quebrando Regras é um lembrete de que o cinema pode, e deve, servir como ferramenta de denúncia e de inspiração. Ao mesmo tempo em que você torce pela vitória das meninas, você sente a revolta de saber que, fora da tela, tantas outras continuam lutando pra existir com dignidade.

Num mundo onde se bombardeia hospital como se fosse alvo militar e onde meninas são expulsas de salas de aula por quererem aprender, esse filme chega como um grito abafado, mas impossível de ignorar.

Quebrando Regras estreia hoje nos cinemas.

Quebrando Regras
Muito Bom 9
Nota 9
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