Andrea Berloff, roteirista ganhadora de Oscar por Straight Outta Compton (2015), finalmente tem sua estreia na direção em Rainhas do Crime (The Kitchen), baseado na HQ da DC/Vertigo com produção da Warner Bros.
A trama se passa em Nova York (Hell’s Kitchen) no final da década de 70, e apresenta uma sequência similar à vista em As Viúvas (2018): esposas de criminosos resolvem tomar os negócios de seus maridos, ascendendo assim ao topo, e ao controle de toda a organização criminosa do bairro.
O trio de atrizes principais é espetacular, Melissa McCarthy, Tiffany Haddish e Elisabeth Moss apresentam atuações muito boas, com destaque a Haddish (Ruby) que demonstra seu alcance dramático em uma performance visceral. Infelizmente McCarthy fica apagada, apresentando uma atuação pouco expressiva. A personagem de Elisabeth Moss (da série O Conto da Aia) possui o arco mais interessante e repleto de reviravoltas.
A direção é firme, deixando o roteiro fluindo bem equilibrado, com momentos altos e baixos. O primeiro ato do filme deixa a desejar, falas fracas e sem um contexto maior, feitas apenas com o objetivo de deixar claro que o filme irá retratar o feminismo e a luta das personagens. A partir do segundo ato, há uma melhora na narrativa, criam-se momentos enérgicos, com bons diálogos principalmente nas cenas de maior tensão e confrontos, e apresenta uma boa premissa.
No terceiro ato do filme, a qualidade das cenas cai abruptamente, tudo parece acontecer rápido demais, cenas de extrema importância narrativa são mostradas em segundos, perdendo conteúdo tanto na humanização dos personagens quanto na carga emocional que a cena tentava nos passar.
Um dos pontos positivos do filme é a trilha musical. Bandas como Kansas, Lynyrd Skynyrd, Heart e Fleetwood Mac fazem parte da narrativa. A ambientação nos anos 70 é bem fiel, as locações, roupas, cabelos, e a música apenas complementa perfeitamente a ideia da época.
Outro ponto alto de Rainhas do Crime é a forma como a diretora explora como o feminismo era visto naquela época. Não a visão tradicional mostrada por cineastas homens, mas nos apresenta uma visão de que quando a mulher almeja seu papel no lugar que bem entender, nada pode a impedir, mesmo que este lugar seja em um bairro de mafiosos em Nova York.
Assim, ficamos com uma ótima ideia de roteiro, que nunca flui com a profundidade desejada para se tornar um filme bem desenvolvido, apresentado, com personagens e suas motivações bem exploradas.
Saímos do cinema com uma sensação de um filme divertido, mas que não nos causa nenhum impacto, e que em pouco tempo será esquecido ou visto como um filme “sessão da tarde”.