Finalmente Raya e o Último Dragão será liberado para o público! A espera desde seu anúncio ainda em 2019 e as incertezas e mudanças trazidas pela pandemia aumentaram a expectativa do público durante esse período, mas o resultado final supera todas elas.
Dirigido por Don Hall (Moana: Um Mar de Aventuras) e Carlos Lopez Estrada (Ponto Cego), a animação se passa no reino fictício de Kumandra, onde dragões e humanos conviviam em harmonia. Além de ter poderes relacionados à água, os dragões eram responsáveis por proteger os humanos e, quando seres malignos e desconhecidos ameaçaram a humanidade, os dragões se sacrificaram para garantir proteção à todos e fizeram uma joia extremamente poderosa. 500 anos depois, o reino de Kumandra está dividido, e os cinco povos que surgiram guerreiam entre si pela posse da Joia do Dragão, que fica guardada em Coração, reino de Raya (Kelly Marie Tran). A jovem garota é filha do Chefe Benja (Daniel Dae Kim), que acredita na união dos povos para que possam se tornar Kumandra novamente.
Após confiar em Namaari (Gemma Chan), filha da Chefe Virana que estava em busca da joia, Raya é traída e a joia se quebra, levando a proteção junto com ela. Assim, o mesmo mal volta a assombrar a humanidade, transformando todos que toca em pedra. Carregando a culpa por ter confiado em quem não devia, Raya passa os seis anos seguintes em busca do último dragão, Sisu (Awkwafina) na esperança de que traga proteção novamente ao reino.
Raya já conta com 94% de aprovação dos críticos, segundo o Rotten Tomatoes, e não é para menos. Com roteiro por Qui Nguyen e Adele Lim (Podres de Rico), é possível perceber a preocupação do estúdio em representar, da melhor forma possível, referências da cultura oriental que podem ser percebidas na obra pelas roupas, armas e o próprio combate, comidas, o senso de comunidade e o próprio elenco, majoritariamente asiático.
Como sempre, a Disney se vale de uma narrativa clássica para contar uma história universal, e o faz de maneira comovente. A mensagem de confiança e união entre os povos para combater uma praga que é fruto da ambição humana não poderia ser mais atual.
Como toda boa animação, a mensagem é um dos pontos mais importantes, e que moldam a obra desde seu início. Tendo como tema principal a confiança, a falha de caráter da protagonista é justamente não confiar em ninguém, se contrapondo a Sisu, sua parceira na busca pelos pedaços da joia e que, assim como o pai de Raya, acredita que confiança é a chave para tudo.
A jornada da protagonista, então, é aprender com Sisu a confiar novamente, se transformando aos poucos até chegar à situação final que coloca à prova sua lição: quando dá o primeiro passo para demonstrar confiança em sua antagonista, deixando a salvação do mundo literalmente em suas mãos. Esse ponto, inclusive, é um dos pontos altos da obra, em um dos momentos mais lindos que já vi em um filme Disney.
Ainda sobre a temática, uma maneira interessante utilizada para retratar a desconfiança de Raya no filme é a comida! A jovem não come nada que lhe é preparado, e todas as suas refeições são comidas que ela mesma desidrata. Após confiar em seu grupo de novos amigos, cada um proveniente de um povo, Raya se junta a eles para uma refeição, e esse momento, apesar de simples, passa a ter um simbolismo muito maior.
Outro ponto que merece destaque é a identidade visual dos povos, que ficou simplesmente incrível. Cada reino e seus personagens possuem características, cores, costumes e até cortes de cabelo próprios, de fácil identificação para o espectador (considerando o público alvo crianças e jovens) e bem no estilo categorizado que ao final precisam se unir em prol de um bem maior que a gente tanto ama. Além disso, a passagem de Raya por cada um dos reinos, colecionando aliados por onde passa, parece várias fases de um jogo, com muita comédia e situações inusitadas, mas também muita ação com as habilidades de combate da protagonista.
E falando em combate, um ponto que chama a atenção são justamente as cenas de luta entre Raya e Namaari, muito bem coreografadas, trazendo um elemento de ação e combate corpo a corpo pouco visto em produtos da Disney. O fato de ter como protagonistas das lutas duas personagens femininas guerreiras e fortes é mais um ponto positivo, visto que a rivalidade das duas não foi construída da forma superficial, tampouco retratou a representatividade feminina na obra de um jeito forçado.
Não dá para deixar de mencionar também o fiel companheiro da nossa guerreira, o Tuk Tuk. A Disney é expert em criar personagens animais de apoio que são perfeitos para se tornar pelúcias e colecionáveis, e eu confesso que já quero ele na minha estante. Mas, dessa vez, o pet de Raya não serve apenas como suporte emocional, é também o seu transporte, tendo uma função bastante importante para a jovem sempre em fuga.
Outro destaque que não passa despercebido é o trabalho de Awkwafina como Sisu. Mesmo através da dublagem em português, é possível perceber sua personalidade cômica e característica dando vida ao último dragão.
Apesar de lembrar muitos elementos de diversos outros produtos Disney (cenas de luta e determinação da guerreira Mulan e todo o contexto de Moana, por exemplo), Raya é uma personagem única, com uma falha de caráter muito interessante e bem trabalhada e aliados improváveis, tornando o filme ainda mais empolgante, coerente e divertido.
Raya e o Último Dragão tem uma narrativa simples, conhecida e aconchegante, que também dá margem para diversas outras apostas e elementos do filme brilharem. Durante toda a obra, especialmente no seu característico final feliz típico Disney, arranca tanto lágrimas quanto boas risadas.
Raya estreia dia 5 de março nos cinemas e também estará disponível na plataforma Disney+ através do Premier Access.
*Fomos convidados pela Disney Brasil a ver o filme. O local aonde foi realizada a sessão cumpriu rígidos protocolos de segurança bem como higienização.