Envolvente talvez seja a palavra que melhor define a nova cinebiografia de Elton John, “Rocketman”. Com o difícil papel de desbancar “Bohemian Rhapsody”, outro recente trabalho que também conta a história de um dos nomes mais icônicos no cenário do rock, o novo filme – também dirigido por Dexter Fletcher – entrega um trabalho tão bom quanto o anterior.
Com propostas diferentes, “Rocketman” não tem medo de se deixar levar pelo lado musical. Muito pelo contrário: há cenas em que as coreografias e interpretações mais “psicodélicas” são muito bem exploradas. Isso porque o roteiro de Lee Hall não segue à risca a ordem cronológica de lançamento dos singles, mas consegue encaixar com precisão as canções nos momentos certos do filme, provocando uma ligação interessante entre a narrativa e o telespectador.
O filme é intimista desde o princípio e a história se desenvolve a partir de uma sessão de Alcoólicos Anônimos que Elton John procura para desabafar, permitindo uma visão mais particular e profunda a respeito da vida do astro. Durante a sessão, o músico relembra os momentos mais marcantes de sua trajetória, desde a infância do pequeno e tímido Reginald Dwight (seu nome de nascença) até se tornar um verdadeiro rockstar, mundialmente conhecido e admirado. Com uma interpretação excepcional do ator galês Taron Egerton (Kingsman) no papel principal, pode-se perceber que ele abraçou a essência do cantor britânico e viveu, de fato, o personagem. Capaz de reproduzir suas manias nos detalhes – desde o jeito de andar até a forma como sorri -, Egerton mostra o lado vulnerável e solitário de Elton John.
Os vícios em álcool e drogas, além dos conturbados relacionamentos familiares e amorosos, são pontos a serem tratados nesta trama sem qualquer pudor, e este talvez seja um dos pontos mais interessantes do filme. É desconstruída a ideia de que a vida de uma estrela é “perfeita”, e temos um ser humano nu e cru, com toda a complexidade e com tantos problemas quanto qualquer um. Desde a fria relação com seus pais, interpretados por Steven Mackintosh no papel de pai e Bryce Dallas Howard no papel de mãe, até o caso vivido com John Reid (Richard Madden, de Game of Thrones), Elton é submetido a uma série de experiências ruins que o afundam em uma profunda solidão. Mas felizmente a amizade com Bernie Taupin – que conta com uma atuação cativante de Jamie Bell – é um dos pontos altos de “Rocketman“. Além disso, as performances com os trajes espalhafatosos, uma das marcas registradas do músico, encantam.
Aliás, o figurinista Julian Day (Bohemian Rhapsody e Rush: No Limite da Emoção) merece um destaque especial, por ter conseguido resgatar perfeitamente o estilo e a extravagância de Elton John. Com um profissionalismo brilhante, Day realmente captou a singularidade dos looks, compreendendo como o aspecto visual refletia na forma do astro pop se expressar e se relacionar com todos a sua volta. Foram criados mais de 50 pares de sapatos e mais de 50 pares de óculos, segundo o vídeo dos bastidores de figurino divulgados pela Paramount no YouTube. Impressionante, né?
Quanto a trilha sonora, esta não deixa a desejar e chega a ser surpreendente a semelhança entre a voz de Taron Egerton e do próprio Elton John. Isso porque o ator fez questão de se entregar de corpo e alma no projeto, tanto na parte vocal como nas performances de piano, tendo que aprender a tocar o instrumento para desenvolver seu trabalho de forma completa. Aliás, a trilha sonora de “Rocketman” já está disponível nas principais plataformas digitais para quem quiser ter um gostinho dessa incrível produção – ou até mesmo para aqueles que assistiram ao filme e querem curtir de novo. Rolou até uma parceria entre John e Egerton: os dois se juntaram e lançaram uma música inédita para a trilha sonora do filme, “(I’m Gonna) Love Me Again”.
“Rocketman” definitivamente é um filme que merece ser visto, independente de ser fã do artista ou não, simplesmente pela fantástica história e narrativa desenvolvida em cima disso – principalmente se você gosta de musicais. Gostoso de acompanhar, a cinebiografia reproduz a personalidade de Elton John do jeitinho que conhecemos: divertido, brega, com uma pitada sombria e verdadeira.