Sandman estreou hoje e eu como boa fã dos Perpétuos também, vim fazer minha estreia escrevendo uma crítica sobre essa série tão esperada, aqui no Cabana do Leitor!
Sobre o que é Sandman?
A série de quadrinhos de Sandman foi lançada originalmente no final dos anos 80 foi escrita por Neil Gaiman e publicada pela Vertigo – hoje selo da DC Comics. É uma série toda voltada para o público adulto e conta a história de Sonho, um dos sete membros da família Perpétuos que, após ficar mais de um século aprisionado, precisa lidar com todas as consequências causadas por sua ausência e aprender que mudar faz parte da existência. Embora retratasse temas considerados tabus para a época, como preconceito, drogas e doenças mentais, o quadrinho recebeu diversos prêmios, viu.
Muito mais que isso, Sandman é uma história sobre pessoas, dilemas cotidianos e a natureza humana, muitas vezes retratada através da personificação e humanização de entidades, misturando mitologia, fantasia, fatos históricos e elementos de horror.
Mas e a série do Sandman?
Agora que estamos aquecidos, deixa eu contar o que achei da série:
A série de Sandman conta com 12 episódios e aborda os dois primeiros arcos do quadrinho: Prelúdios & Noturnos e Casa das Bonecas. São 16 capítulos adaptados, mais de 400 páginas, dependendo da edição que você estiver lendo. Sim, eu vi os episódios com os quadrinhos do lado hehe
Por outro lado, a passagem de tempo entre as cenas e a não-lineariedade da história não foram bem adaptadas. Diversas vezes é citado que Sonho ficou preso “por mais de um século”, os personagens não envelheceram o suficiente na aparência, então precisei refazer as contas diversas vezes para me convencer dessa ideia. Só no terceiro episódio é que isso fica um pouco melhor contado, mas ainda sim muito mal explicado.
Além disso, alguns momentos são cortados de forma abrupta, para serem continuados posteriormente, quase como se fosse um parêntese na história. No quadrinho, essas quebras de cena ou “vai e volta” do roteiro são mais suaves e sutis, dando um ritmo legal na leitura, mas na série só pareceu um corte seco e sem explicação, deixando aquela sensação de “ué cadê o final da cena?”. Para os fãs que, como eu, esperavam ver o gore e temas mais pesados, acredito que iremos nos decepcionar.
É perceptível que a Netflix vai pegar leve com as cenas ou situações que acontecem, como a vingança de Sonho com Alex Burgess. Fiquei bastante decepcionada ao ver que a penitência de Alex seria apenas “dormir para sempre”, bem diferente da revista onde ele dorme para sempre, tendo pesadelos vívidos infinitos. Convenhamos que é uma vingança muito mais coerente!
Entendo que a adaptação de algumas cenas talvez sejam de alta complexidade e não agradariam o grande público, mas o sentimento de estar vendo algo bizarro, nojento e desprezível é justamente um dos causadores de desconforto e impacto na obra do Neil. É o que nos põe para pensar que embora seja horrível, retrata a humanidade dos próprios personagens.
Falando de personagem, a atuação de Tom Sturridge(Sonho) me deixou com opiniões controversas. Nas primeiras cenas, enquanto estava mantido preso, Sonho mais parecia um adolescente emo em uma redoma de vidro. Conseguimos perceber a tristeza do personagem pela expressão, mas esperava a representação de outros sentimentos como ódio e tédio. Para um ser eterno que está sendo mantido preso por um humano por mais de 100 anos, ele estava muito “deboas” com a situação. Depois de liberto a expressão muda um pouco e dá pra ver mais traços de personalidade de Sonho na atuação de Tom, mas ainda não estou totalmente decidida se gostei ou não da escolha do ator (até o final da série eu decido, ta!).
Já a adaptação de Alex Burgess (Patton Oswalt) ficou excelente, mesmo sua personalidade e background tendo sido alteradas. Na HQ de Sandman, Alex é filho de Roderick Burgess, raptor de Sonho, e é apenas um puxa-saco do pai, seguindo os passos dele após o falecimento de Roderick. A série alterou seu background e a relação entre ele e seu pai, dando uma profundidade e dualidade típicas de um personagem de Sandman. O espectador sente pena do garoto, depois compaixão, seguido de ódio e finalizando com o prazer da vingança, tudo em dois episódios. Alterações como essa não mudaram o rumo da história, nem os fatos que se sucederam.
Certos pontos por enquanto ainda estão mal explicados, como por quê é tão importante para Sonho recuperar seus tais objetos. Por vezes parece ser apenas um apego ou uma necessidade por serem meras ferramentas de trabalho, o que torna a busca um tanto quanto vazia se comparada à comic Sandman. Toda a comoção de Sonho pela recuperação das partes do seu ser, da identidade que lhe foi roubada, por algo de si que ele perdeu, nada disso por enquanto foi mostrado com essa intensidade na série.
Confesso que assisti a esses três primeiros episódios na expectativa de ver toda a densidade e passagens filosóficas representados nos quadrinhos, o que de fato não pude perceber ainda, porém isso não significa que a adaptação seja ruim! Pelo contrário, está linda e muito boa. Como fã, a série me deixou encantada e profundamente emocionada, é a oportunidade de mais pessoas conhecerem a obra e se encantarem com o trabalho fantástico de Neil Gaiman. Estou ansiosa pelos próximos capítulos e acredito que ainda seremos muito surpreendidos com as cenas que virão.