Abro essa crítica com grande satisfação, pois a volta dos chamados thrillers de sobrevivência está acontecendo. Ano passado tivemos um vislumbre com o controverso A Queda (Fall), e esse ano chega até nossas salas de cinema Sem Ar (The Dive).
Como todo bom thriller de sobrevivência, Sem Ar conta com elementos de tensão e suspense enquanto as protagonistas enfrentam situações adversas e perigosas que ameaçam suas vidas.
Dirigido por Maximilian Erlenwein, Sem Ar é seu terceiro longa-metragem e um remake de um título sueco chamado “Além das Profundezas”. Logo nos primeiros minutos já temos uns vislumbres da beleza imponente e infinita do oceano, a fotografia é um dos pontos altos juntamente com a beleza paradisíaca da costa de Malta.
Ao passo que as protagonistas mergulham e submergem cada vez mais nas profundezas do oceano, a experiencia vai se tornando claustrofóbica logo nos primeiros momentos do filme, conseguindo causar uma sensação de desconforto no espectador ao se deparar com aquelas duas jovens completamente sozinhas há 30 metros da superfície.
A trama de Sem Ar se desenrola a partir de uma das expedições de mergulho que as protagonistas, Drew (Sophie Lowe) e May (Louisa Krause), realizam todos os anos e que dessa vez acaba se transformando em uma verdadeira luta pela sobrevivência das duas irmãs.
Um fatídico acidente faz com que May fique presa em uma rocha há 30 metros de profundidade com suprimento de oxigênio limitado e prestes a se esgotar, fazendo com que o desafio de buscar ajuda para conseguir salvar a sua vida caia sobre Drew.
Acredito que o filme conseguiu cumprir o que propõe, conseguindo transmitir ao espectador o desespero palpável de Drew frente ao grande desafio que é lutar para salvar a vida de sua irmã. Numa atmosfera claustrofóbica, é impossível ignorar a sensação de desconforto, seja apenas pelo barulho da movimentação das águas (e nada além do mesmo), da respiração ofegante de May que vai ficando cada vez mais sem oxigênio com o passar dos quadros, ou durante as desventuras de Drew lidando com todo tipo de adversidade até para executar tarefas simples que podem ser a diferença entre vida e morte para sua irmã.
Porém o ponto alto de Sem Ar é o desenvolvimento da relação entre as duas irmãs, é quase como um mergulho profundo entre dois universos completamente diferentes.
O drama vivenciado pelas protagonistas é muito bem abordado pelo diretor, começando pela ambientação nas profundezas do oceano para transmitir o sentimento de solidão. May esconde através de seu semblante apático e introversão, uma dor profunda gerada por um trauma no seu passado. Que não é revelado ao longo do filme, deixando espaço para o espectador usar sua própria visão de mundo e entendimento para decifrar o que aconteceu através de pequenas pistas.
O título em inglês contempla a obra em todos os aspectos, pois não se trata apenas de um mergulho há 30 metros de profundidade em uma caverna subaquática, mas também de um mergulho profundo na relação e traumas das duas protagonistas. Reestabelecendo, frente a adversidades que ameaçam suas vidas, uma conexão que foi perdida entre elas há muito tempo atrás.
Erlenwein trabalha muito bem o aspecto psicológico das protagonistas, que roubam a cena com suas atuações e carregam o longa nas costas, sendo os únicos dois personagens dessa trama. Pode-se dizer então que Sem Ar é uma obra que aborda a psicologia humana, explorando os limites não apenas do corpo, mas também da mente. Seja através da imersão no emocional ferido e assombrado por traumas do passado da May, quanto pela constante luta de Drew que leva seu corpo ao limite enquanto se desdobra para conseguir resgatar a irmã presa nas profundezas do oceano.
No fim, a cooperatividade entre ambas se mostrou capaz de vencer os obstáculos e adversidades nessa jornada, superando os desafios de um desastre natural e conseguindo enfim se reconectarem uma com a outra.