Vencedor de três prêmios de festivais de cinema em 2018, Shadow é um filme chinês de drama e ação dirigido por Zhang Yimou, que chega ao Brasil apenas em 2021.
Passado em uma ambientação histórica e acinzentada, o longa é capaz de unir a brutalidade de uma guerra com a beleza da sensibilidade oriental.
Shadow é baseado em diversas referências militares e políticas reais. Em meio a tramas familiares da realeza, interesses políticos e traições, há uma “sombra” que oculta um passado desconhecido pelo palácio. Esse segredo é capaz de virar o jogo de poderes nos últimos suspiros dos seus 116 minutos.
O ousado Comandante (Deng Chao) do exército da cidade de Pei decide colocar-se em uma situação desafiante contra seu Rei (Ryan Zheng). Para ter chance de sobreviver, ele precisa se preparar para o confronto mais importante de sua vida enquanto busca conselhos de aliados. Como de costume em culturas asiáticas, a honra se torna um dos maiores valores em questão no filme. A determinação e a lealdade ditam as regras para o protagonista, que deseja reencontrar suas raízes em outro lugar.
Com auxílio de sua esposa (Li Sun) durante um intenso treinamento, o Comandante aprende o estilo de luta feminino, bem como a utilizar a flexibilidade e sutileza da água a seu favor. No dia do combate final, ele e seu exército surpreendem ao empregarem táticas criativas, inspiradas por princípios do clássico livro A Arte da Guerra.
Shadow apresenta um roteiro mais lento, característico do cinema chinês, trazendo do início ao fim simbolismos de dualidade e elementos complementares, como na filosofia “yin e yang”. Assim, o filme demonstra que no contexto de uma guerra cruel com muitas perdas há espaço tanto para o amor florescer quanto perecer.
Diversas cenas de ação em câmera lenta trazem verdadeiros malabarismos muito bem ensaiados entre os atores. A direção de Zhang nos enche os olhos com um show de movimentos poéticos.
Por outro lado, a falta de cores e luminosidade da película, assim como a homogeneidade do figurino podem ter sido escolhas negativas, que exigem atenção redobrada do espectador, inclusive gerando certo cansaço à vista. Zhang arriscou alto aqui: se a curiosidade instigada pelo roteiro não se sobrepor a essas barreiras, o espectador pode abandonar o filme.
Ainda, aqueles que não gostam muito do lado dramático da atuação podem sentir-se desconfortáveis ao primeiro contato. Muito comum na cinematografia oriental, a interpretação dos papeis em Shadow é consideravelmente teatral e enfática, podendo ser percebida pela cultura ocidental como exagerada e desagradável.
Em conformidade com o tema feminista muito abordado atualmente, o roteiro de Shadow acertou em conseguir, no meio de um contexto histórico, bruto e opressor, dar espaço e destaque a duas mulheres fortes.
Ao estilo Mulan, a princesa de Pei (Guan Xiaotong) prova sua coragem e determinação a não ceder a provocações, ao desrespeito e aos caprichos de homens poderosos. Já a esposa do Comandante, citada anteriormente, foi indispensável para que ele recebesse o treinamento correto. Assim, Shadow evidencia que a beleza e delicadeza de uma mulher não é sinônimo de fraqueza ou incompetência.