Thunderbolts* acaba de chegar aos cinemas e podemos lembrar dele com uma das maiores paixões dos brasileiros, o futebol. Ultimamente tenho visto o projeto do universo Marvel no cinema como uma grande tabela de Brasileirão: 38 rodadas, certa previsibilidade, alguns clássicos prometidos que você em tese pode esperar um bom espetáculo e principalmente: você está comprando o resultado a longo prazo.
Não é à toa que se chama pontos corridos, é uma grande promessa. Talvez o seu time faça uma campanha brilhante e ganhe o campeonato invicto, talvez faça aquela campanha de meio de tabela bem mais do mesmo. Ou talvez o seu time tenha aquela fuga do rebaixamento com requintes de crueldade e traços de psicopatia – que não deixa de ser entretenimento para quem está olhando o trem descarrilar – mas é extremamente decepcionante para aqueles que de fato embarcaram no projeto.

O fato é que, você já sabe com antecedência a programação do que vai acontecer, se vai valer a pena? São outros quinhentos.
Na alegoria futebolística, Thunderbolts* é aquele jogo num horário esquisito, que não chega a ser um clássico estadual, mas tem um adversário chato e tudo pode acontecer. O pau come a partir dos 30 do segundo tempo, alguns lances emblemáticos acontecem, os acréscimos são alucinantes, o seu time surpreendentemente ganha o jogo e você acaba ficando feliz de ter comprado essa briga em específico.
Em comparação com o lançamento mais recente do mesmo universo – “Capitão América – Admirável Mundo Novo” – Thunderbolts* é muito melhor e muito mais competente no que faz. Obviamente a previsibilidade confortável da fórmula Marvel ainda está presente de forma clara, mas a fórmula é feita bem caprichada com substituições criativas e inteligentes. No geral, apesar de sabermos que é só mais um tijolo no caminho das 38 rodadas até Avengers Doomsday é um filme que nos faz sermos gratos por ter parado um pouquinho para apreciar a paisagem da jornada.

O filme leva a temática dos “Vingadores do grupo de acesso” de forma muito espirituosa, com piadas acertadas e uma atmosfera bem construída de “quem não tem cão, caça com gato”. Inclusive “espirituoso” é a palavra que define Thunderbolts*. Os personagens, no entendimento da sua desimportância frente aos heróis e aos desdobramentos daquele mundo acabam construindo, aos trancos e barrancos, significado nas pequenas coisas e nas relutantes relações entre a equipe.
O carisma das personagens torna tudo mais engraçado ainda. O Bucky Barnes (Sebastian Stan) tentando lidar com a politicagem relacionada às experiências de guerra que ele viveu e sentiu na pele dá a sensação de ligar na TV Câmara em dia de votação de pauta polêmica.
Têm o ex-Capitão América em fim de carreira (Wyatt Russell) que seria o participante perfeito do reality show “A Fazenda”. A dupla de pai e filha, Yelena (Florence Pugh) e Guardião Vermelho ( David Harbour), lavando roupa suja no sotaque russo caricato e apesar de tudo lutando muito para manterem os Vingadores da série B juntos e pela primeira vez fazer o certo botam a dinâmica da equipe recém-formada para rodar muito bem.

A estruturação destes elementos chave do filme que poderia ter sido feita de forma muito preguiçosa e xoxa, como se viu em muitas produções recentes do MCU, é executada com maestria o que dá ao filme bastante personalidade no grande compilado de picolés de chuchus que o gênero filme de super-herói se tornou.
Visualmente as decisões estéticas me impressionaram e fizeram muito bem o contraponto angustiante da narrativa, principalmente os visuais relacionados ao Sentinela e as suas questões internas. Apesar do tom canastrão, Thunderbolts* trabalha muito bem temas mais sérios e delicados com momentos bastante fortes ligados a questões de saúde mental.
Esse tom tragicômico que acompanha as personagens e o roteiro trazem bastante peso para os acontecimentos que forjam essa equipe a ferro e fogo, elucidando uma mensagem simples e importante. É revigorante ver que o poder da empatia, das relações e da amizade realmente pode salvar tudo. (nota do editor: kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk)

Apesar de terem caído de paraquedas na função, os Novos Vingadores a executam de forma não tão graciosa, mas com muita garra e vontade de quem sempre precisou matar um dragão por dia, de quem faria romaria até o inferno pela chance da redenção. O conflito de que é digno, belo e moral o suficiente para ser considerado não só um herói, mas um herói digno do título e da marca de “Vingador” é fascinante e peça bastante importante no tabuleiro que a Marvel vem arrumando em busca do seu novo xeque-mate.
Thunderbolts e suas cenas pós créditos terminam dobrando a meta da promessa de uma odisseia multiversal da Marvel. Agora é esperar esse cavalo correr o páreo e ver no que vai dar.