Na década de 80, Eddie Murphy em seu auge assinou um contrato exclusivo com a Paramount, pelo qual lançou grandes clássicos aclamados até hoje. Entre eles estava Um Príncipe em Nova York (1988), o primeiro filme em que Murphy interpretou múltiplos personagens. Nesse filme conhecemos a história do Príncipe Akeem (Eddie Murphy), herdeiro do trono de Zamunda, um rico país africano.
No primeiro filme, ele se revolta contra as tradições seculares de seu país e, para não se submeter a um casamento arranjado, vai junto de seu ajudante Semmi (Arsenio Hall) aos Estados Unidos em busca de um amor verdadeiro para ser sua futura rainha. O príncipe se apaixona por Lisa (Shari Headley) e, por fim, convence seu pai, o Rei Joffer (James Earl Jones), de mudar o status quo.
Deve-se levar em conta que o primeiro filme foi feito em um outro tempo, logo, seria anacronismo julgá-lo como sexista ou sequer preconceituoso por ser uma obra de seu próprio tempo – sendo, aliás, extremamente importante lembrar que foi um dos primeiros grande filmes a serem feitos por um elenco quase inteiro só de pessoas negras. Um Príncipe em Nova York 2 preserva toda a essência de seu antecessor, no entanto, faz uma reparação aos tempos atuais. A continuação vem após 33 anos de seu lançamento original.
O filme não possui nenhuma qualidade técnica excepcional, mas seu verdadeiro brilho está na forma como seu roteiro foi escrito e no trabalho dos atores. O diretor conduz a história de forma tradicional, passo a passo, já que a história discute o dilema de quando alguém se torna aquilo que jurava não ser.
A premissa do filme é a de que o personagem de Murphy descobre que teve um filho durante a sua primeira viagem a Nova York. Akeem decide retornar aos Estados Unidos mais uma vez junto com Semmi, mas para encontrar o filho bastardo com o intuito de manter o trono em sua família – já que as leis de seu país só permitem hereditariedade do reinado ao primogênito masculino. O longa retoma personagens que já conhecemos no primeiro filme – os hilários barbeiros reaparecem e as cenas são hilárias por conta da química e interpretação da dupla, rendendo excelentes piadas.
Aqui, a parceria de Murphy está mais focada com o papel de seu filho Lavell, interpretado por Jermaine Fowler. Como Akeem, Eddie tem uma atuação mais neutra porque o personagem pede por uma serenidade, mas ele consegue ser hilário quando quer e sabe usar isso quando faz os outros no filme. Infelizmente, a participação de Arsenio Hall como Semmi parece reduzida nessa continuação, mas sua atuação em todos os outros personagens é impressionante quando paramos para pensar na quantidade de perfis que ele é capaz de interpretar.
Talvez a grande questão negativa do filme seja exatamente a falta de interação entre Akeem e Semmi, que foi o que nos fez apaixonar pela prequela. Isso fica mais forte porque a química de Murphy com Fowler não chega nem perto da que tem com Hall. Os melhores momentos do filme são quando a icônica dupla contracena junta – eu assistiria um longa inteiro só dos barbeiros, de verdade… vamos considerar fazer um abaixo assinado por esse filme (#FicaDicaAmazon).
A grande surpresa do filme é a atuação de Wesley Snipes como o General Izzi. O cara é tão bom e engraçado que faz com que a gente consiga gostar de um ditador – ainda que ele seja o antagonista da história, desde a sua primeira aparição, o cara te faz rir o filme inteiro. Créditos ao roteirista que escreveu as piadas certas e ao diretor que guiam o tom no qual o personagem deve ter.
A grande reparação do filme aos tempos atuais já era um pouco previsível desde o seu inicio, mas ela está no desfecho da história. Zamunda entra no Século XXI da forma correta, ainda que com um certo atraso. É muito bonita a celebração da cultura africana, presente desde o filme anterior, mas sem querer se utilizar desse recurso como qualquer tipo de militância. A escolha gera uma leveza que é necessária ao longa, especialmente por ser uma comédia popular e feita para todos os públicos.
O filme vem ao mundo de forma injusta, com a gigantesca pressão de fazer jus ao anterior, que é um clássico da cultura pop. No entanto, ele não pretende ter o mesmo impacto que causou no final dos anos 80, por isso não pode ser julgado de tal forma. Dentro dessa perspectiva, o longa é garantia de divertimento ao grande público, sendo verdadeiramente um filme para toda a família assistir e se deleitar com Eddie Murphy e Arsenio Hall.
O longa não possui pretensões de discutir grandes questões sociais, mas inevitavelmente acaba por se utilizar das discussões em voga na contemporaneidade, fazendo-o de forma descontraída e acertada.
Felizmente, Um Príncipe em Nova York 2 faz o que muitas retomadas de clássicos não fizeram: ele respeita a sua própria história, mas não se leva a sério – e, afinal, o que é a boa comédia senão também saber rir de si mesmo?