Tenho um grande carinho com o subgênero de terror slasher e puro respeito com os clássicos pioneiros dos anos 80 como A Morte do Demônio (1981), que mesmo com produções limitadas e a pegada amadora da época, teve muito mais criatividade e aproveitamento do que ‘Ursinho Pooh: Sangue e Mel’.
Como mencionado acima, Ursinho Pooh: Sangue e Mel trouxe bastante as partes caricatas dos primórdios do slasher. Se tivesse sido lançado naquela época, talvez teria sido alguma coisa positiva, contudo as fórmulas e as formas de realizar essas produções mudaram, os gráficos e outras mecânicas usadas no filme (como por exemplo a câmera fixa) é ultrapassado mesmo sendo elementos comuns em estúdios independentes com o objetivo de atrair o público que ainda admira esses aspectos do passado.
Ao fazer a transição do que conhecíamos de Ursinho Pooh e a narrativa infantil, Ursinho Pooh: Sangue e Mel se inicia com uma breve estorinha na mesma pegada com ilustrações e o ar de ingenuidade, e isso pode até ter sido feito para gerar certas expectativas de um upgrade macabro com o famoso enredo. Mas não foi o que aconteceu.
Quando a trama realmente se inicia, surge a desnecessária ideia de repetir a abertura do filme entre os diálogos dos personagens, como se estivessem cobrindo um grande vazio que ficou no roteiro. Esses dois personagens em questão se tratam de Christopher Robin – que teoricamente seria o principal – e sua namorada.
Christopher Robin foi um personagem principal que tiveram preguiça de desenvolver e para disfarçar o colocaram para entrar em ação aos 45 do segundo tempo. A outra personagem principal o substitui durante o clímax, e apesar do seu desenvolvimento ter sido muito mais aprofundado do que o de Christopher, construíram algo fora do núcleo, e embora não deva questionar o que faz sentido ou não em um filme, já que no seu universo aquilo faz sentido, me fez questionar qual seria a contribuição disso para o filme.
Tirando os protagonistas que minimamente fazem presença e contribuem para a narrativa, há também os personagens coadjuvantes que tem como seu objetivo a inutilidade. Fizeram seus papéis como coadjuvantes em um terror slasher e tiveram uma breve apresentação para logo morrerem violentamente.
E falando nas mortes, slashers sempre trazem essas mortes exageradas para causar o efeito do subgênero gore. Há casos de cenários nas mortes que são improváveis ou irreais, mas que ainda causam esse efeito, como por exemplo o filme Terrifier (2016) que não se preocupou em estudar a anatomia do corpo humano para elaborar as suas cenas, mas mesmo assim dão a impressão de algo muito real e explícito. Mas não é o caso desse filme. As mortes são exageradas além do extremo e algumas são de má qualidade e até mesmo falta de criatividade.
Com o baixo orçamento, a criatividade seria uma dádiva para essa produção de Ursinho Pooh: Sangue e Mel. Não souberam aproveitar o pouco que tinham e preferiram deixar as coisas incompletas do que encaixá-las nas suas limitações. Além das mortes sem criatividade, o problema se estendeu na baixa iluminação da fotografia que impede do espectador ver o que realmente estava acontecendo – como se a finalidade fosse essa, já que tinha que diminuir os custos – e sem contar o principal que foi introduzir as máscaras de uma expressão só, e que ao meu ver, pareciam muito mais homens com máscaras do que híbridos como forçam em dizer nos diálogos no decorrer do filme.
Não acredito que a essência de um filme seja um roteiro, ou que ao menos ele seja necessário. Mas acredito que nesse caso o roteiro teria sido a salvação de tudo isso.
Como mostra o início, o filme monta um contexto bem interessante e fora da caixinha mas faltou as abordagens dos personagens, o aprofundamento do protagonista diante dos seus antagonistas entre outras brechas que poderiam ter sido utilizadas.
Há outra questão que irei citar que é a sexualização das mulheres presentes no filme. Desde que mundo é mundo esse subgênero tem como sua característica erotizar seus personagens, principalmente mulheres coadjuvantes, porque a principal, que é a vítima, tem que sempre manter seu papel de vítima, ingênua e na maioria dos casos “pura”. Contudo, estamos em 2023 e há inúmeros slasher que abordam de muitos outros jeitos as cenas eróticas, e um desses exemplos é a franquia Pânico, que desde 1996 mostrou que é possível fazer bons slashers sem sujeitar mulheres a isso.
Não gosto de falar o que um filme deveria ou não fazer, mas é impossível não falar sobre o abismo que senti ao ver Ursinho Pooh: Sangue e Mel, tudo é raso e nem a superficialidade se torna interessante, considerando o potencial que tinha.