Dirigido por Justin Lin (Star Trek: Sem Fronteiras/ True Detective/ Annapolis), diretor mais frequente na saga (Velozes & Furiosos 3,4,5 e 6), o novo longa parece ser a redenção definitiva do diretor com os fãs, que após muitas críticas com o terceiro filme, Desafio Em Tóquio (2006), vem reconquistando espaço, trazendo muito fan service e apelando para a nostalgia.
Após ser presa no longa anterior, Cipher (Charlize Theron) consegue fugir com a ajuda do milionário excêntrico Otto (Thue Ersted Rasmussen), que tem planos de roubar um aparato tecnológico capaz de dominar o mundo. Na tentativa de impedir que isso aconteça, o Sr. Ninguém (Kurt Russell) envia uma mensagem aos nossos heróis, que tem a difícil escolha de se envolverem na trama ou continuarem com suas vidas pacatas em troca de se manterem a salvo.
Tendo a filosofia de ‘família em primeiro lugar’ desde o início, o título mantém essa pegada e revira o passado de Domic Toretto (Vin Diesel). Através de flashbacks a narrativa conta a relação do protagonista com seu pai e seu irmão Jakob Toretto (John Cena), até então não mencionado na franquia. Com isso o filme utiliza a importância desse laço para inserir uma problemática entre os irmãos, que faz de Jakob seu principal antagonista na trama.
Aproveitando a marca de 20 anos, Justin cria um ar de comemoração no novo filme, trazendo personagens antigos como Han (Sung Kang), dirigindo seu Toyota Supra Laranja numa homenagem a Brian O’Conner (Paul Walker), Earl (Jason Tobin), Twinkie (Bow Bow) e o protagonista do terceiro título Sean Boswell (Lucas Black). Com isso o diretor também aproveita para tentar estabelecer a ordem cronológica da franquia.
A obra conta com 145 minutos de duração, a mais longa até então. Usa de paisagens alucinantes e cenas de ação de tirar o fôlego a moda 007, que perde aos poucos o tom de rebeldia e asfalto da periferia originários da franquia, para dar lugar a narrativas policiais, com espionagem internacional.
Mas não é só nesse quesito que Velozes & Furiosos 9 lembra os clássicos de James Bond. Os aparatos tecnológicos, os saltos de locação pelo planeta e principalmente as façanhas ultra inverossímeis mostram como esta tem se tornado uma marca da franquia, onde nem o céu é o limite, levando nossos heróis até para o espaço (literalmente).
O filme é divertido, mas ordinário e brinca com o próprio absurdo dos feitos de seus personagens, fato que fica claro no diálogo entre Tej (Ludacris) e Roman (Tyrese Gibson) em que se perguntam como alcançam suas façanhas mirabolantes e ainda permanecem vivos. Apesar da proposta de se levar cada vez menos a sério, Velozes & Furiosos 9 exagera nas acrobacias e efeitos especiais, fazendo os personagens parecerem super-heróis.
Outro problema são os furos de roteiro, como no caso do Sr. Ninguém, que surge em uma situação de perigo tentando comunicar a fuga de Cipher dentro de um avião em queda livre. Quando os protagonistas chegam na cena do acidente não há corpo e nem indícios de onde ele possa estar. Logo Dominic e seu grupo embarcam na missão sem se perguntarem se o personagem está vivo ou se foi raptado. Nada, simplesmente seguem a trama sem responderem ao público o que aconteceu de fato. E não para por aí.
A presença de diálogos mal construídos e sem justificativa também incomoda. A atuação de Vin Diesel com posturas de corpo arqueadas, olhos semicerrados e bico estão presentes, refletindo na contínua e já esperada ode a masculinidade, numa interpretação clichê e pobre em suas dimensões.
Apesar de essa ser a proposta desde o primeiro título, é possível perceber o aumento do protagonismo feminino e da consistência de seus enredos. Sem contar a redução do apelo imagético para seus corpos.
Um personagem que incomoda é Otto (Thue Ersted Rasmussen). Tudo bem que o principal antagonista seja Jakob Toretto, mas sua personalidade monodimensional, seu propósito fraco e seus discursos infantis não convencem. Ele nos dá a sensação de ser um vilão tirado dos quadrinhos.
Tendo arrecadado mais de 5 bilhões desde o primeiro longa, a saga não para por aí e deve contar com o décimo capítulo, que será dividido em dois filmes. Além de possíveis continuações de seus títulos derivados como Hobbs & Shaw (2019) e a animação da Netflix Velozes & Furiosos: Espiões do Asfalto.
A trilha conta com a participação de Anitta com a música Furiosa, e com a atuação de Cardi B, numa divertida aparição que deve se repetir no próximo filme. Ah, esperem pela cena pós-créditos.
Velozes & Furiosos 9 estrou hoje nos cinemas.
A convite da Universal Pictures assistimos ao filme Velozes & Furiosos 9, em uma sessão limitada a jornalistas convidados e seguindo rígidos protocolos de proteção da saúde dos convidados.