Quase dez anos depois do primeiro filme, “Zootopia 2” chega aos cinemas como uma sequência que honra o legado original e eleva a um novo patamar. A Disney entrega uma animação surpreendentemente madura, visualmente impressionante e emocionalmente complexa, que expande seu universo e aprofunda o que tornou o primeiro capítulo tão especial.
Se antes existia o medo de que a continuação fosse apenas “mais do mesmo”, a nova produção rapidamente dissipa essa impressão. E confiar na Disney é realmente uma escolha. O longa tem identidade própria, traz novas camadas temáticas e aposta em uma construção narrativa ambiciosa, sem abrir mão do carisma irresistível de Judy Hopps e Nick Wilde.

O filme começa poucos dias após os eventos do original, com a dupla ainda tentando ganhar respeito dentro da força policial. Ao falharem em um grande caso, são afastados — o que dá partida para uma trama que mistura mistério policial, humor, vulnerabilidade emocional e crítica social. A decisão de colocar Nick e Judy em terapia de dupla é um dos acertos mais inteligentes da sequência, abrindo espaço para explorar falhas reais, traumas antigos e conflitos internos sem perder leveza.
As interações entre os dois atingem o ponto mais forte da franquia: a construção honesta de uma relação que enfrenta diferenças estruturais e expectativas sociais sem recorrer ao discurso didático. As mensagens emergem naturalmente das situações e ações.

Se a cidade multifacetada já impressionava no primeiro filme, aqui ela cresce ainda mais. A sequência introduz zonas inéditas de Zootopia — portuária, desértica, montanhosa e institucional — e, sobretudo, os répteis, espécie até então excluída da narrativa.
É nesse contexto que surge Gary, a cobra, um personagem divertido, carismático e fundamental para o novo mistério. Por meio dele, o roteiro abre espaço para discutir apagamento histórico, gentrificação e o impacto da especulação urbana, temas surpreendentemente complexos para uma animação infantil, tratados com sensibilidade e humor visual brilhante. A quantidade de piadas e referências por segundo é absurda, tornando o filme extremamente dinâmico e repleto de detalhes que pedem revisitas.

“Zootopia 2” é visualmente deslumbrante. A animação atinge um nível de realismo e fluidez inacreditáveis, com destaque para as cenas de perseguição, coreografadas com intensidade e criatividade. A direção visual entrega uma montagem ágil, precisa e mais ousada que a do original, fazendo com que a experiência seja mais eletrizante e cinematográfica.
Mesmo com o crescimento de escala, o filme mantém o que fez o original ser tão amado: o carisma absurdo da dupla central, que segura a narrativa com facilidade. “Zootopia 2” entende que uma boa continuação precisa de coragem. Em vez de copiar o predecessor, reinventa a própria fórmula, expande o subtexto político e cultural e desenvolve uma história que conversa com o mundo real, mas sem perder o encanto, o humor e o coração.
É difícil não terminar a sessão com um sorriso no rosto — e com a sensação de que um terceiro filme é inevitável.





