Você que é escritor sabe que as pessoas sempre ficam muito curiosas perto de você. Elas olham para você, analisam seu rosto, incrédulas, como se duvidassem que foi você quem escreveu o livro. Depois de alguns instantes, talvez porque a curiosidade seja maior, resolvem lhe dar algum crédito e, enfim, lhe perguntar como você (justo você!) teve aquela ideia maravilhosa para escrever seu livro, podem também querer saber como a ideia foi se desenvolvendo dentro de você ou mesmo questionar como você conseguiu escrever um livro inteiro.
Grosso modo, até onde pude ver, há dois tipos de escritores aqueles que, tal como Stephen King, gostam de descobrir sua história aos poucos, conforme vão escrevendo. E outro tipo de escritor que gosta de ter toda a história pronta e estruturada antes de começar a escrever seu livro. Nessa esteira, J.K. Rowling agradeceu as quatro horas que ficou dentro de um trem atrasado, pois a ajudaram a conceber boa parte da trama de Harry Potter.
Stephen King no seu livro OnWritingdiz que ele acredita que as histórias são coisas achadas, assim como fósseis. O trabalho do escritor é usar as ferramentas certas a fim de tirar a história do solo o mais intacta possível. Às vezes é uma história enorme, tal como um Tiranossauro Rex, e às vezes é tão pequena como uma concha, Stephen diz que não importa, pois as técnicas de escavação são basicamente as mesmas. Ele diz que não importa se você tem muita experiência ou que seja muito bom o fato é que é praticamente impossível tirar o fóssil inteiro do solo sem quebrar alguma coisa, mas você deve usar ferramentas delicadas, a fim de fazer o melhor trabalho.
Em seguida, Stephen critica o uso da estrutura da trama pelo escritor dizendo que é uma ferramenta grande demais.
“Plot is a far bigger tool, the writer’s jackhammer, no argument there, but you know as well as I do that the jackhammer is going to break almost as much stuff as it liberates. It’s clumsy, mechanical, anticreative. Plot is, I think, the good writer’s last resort and the dullard’s first choice. The story which results from it is apt to fells artificial and labored. ” (Stephen King, On Writing, digital book, p. 139)
Apesar da crítica de Stephen, a verdade é que criar uma estrutura para trama antes de começar a escrever funciona para muitos escritores que gostam de ter controle absoluto da história.
Eu gosto de trocar ideia a esse respeito com outros escritores e fazendo isso eu descobri que há escritores que não gostam de estruturar sua trama, mas querem pelo menos saber como a história vai terminar, há outros que não se contentam em estruturar somente a história, mas vão além e fazem uma biografia de cada um de seus personagens (ainda que isso não apareça na trama), há outros que não usam planilhas, mas lembretes que penduram pela casa inteira, e outros ainda que colocam uma música, pegam uma taça de vinho e deixam a imaginação voar solta, esses últimos gostam que os personagens tomem conta da história e se divertem para ver o que eles irão aprontar, enfim, a criatividade humana é incrível também na hora de se conceber uma boa história de ficção.
Particularmente, eu acredito que técnica por técnica de nada serve, toda técnica tem um objetivo para o qual deve ser útil. No caso da técnica para escrita seu fim é claro auxiliar o escritor a produzir uma história de ficção que agrade e prenda o leitor. Assim, louvar a técnica pela técnica é idiotice das maiores, o importante para o escritor é escrever uma boa história! Se você consegue isso ouvindo música alta, usando seu pijama em plena madrugada e deixando seus personagens tomarem conta da história, ótimo para você. Se consegue isso, na frente de uma planilha de excel, estruturando cena por cena e tomando seu sua vitamina de banana pela manhã, ótimo para você! O que importa, meus amigos, é escrever uma história bacana! Como fazer isso? Ora, você precisará se aventurar e descobrir sua própria maneira.