Na ultima segunda feira, dia 01 a Editora Suma liberou em sua página do facebook um trecho do novo livro Fogo & Sangue. Esse livro já esta em pré venda e tem a previsão de ser lançado no dia 20 de novembro. Esse livro conta a história da dinastia Targaryen, e narra a trajetória dos reis de Westeros, desde Aegon, o Conquistador, que construiu o Trono de Ferro, até a Dança dos Dragões, que quase pôs fim a todos eles.
Confira com a gente o trecho desse livro que tem é história para contar.
Haviam se passado alguns anos desde a última turnê do rei, então foi planejada para 58 dc a primeira visita de Jaehaerys e Alysanne a Winterfell e ao Norte. Os dragões deles os acompanhariam, claro, mas, para além do Gargalo, as distâncias eram vastas e as estradas, ruins, e o rei estava cansado de voar à frente do cortejo e ter que esperar até o alcançarem. Dessa vez, ele determinou que sua Guarda Real, os criados e os conselheiros iriam na frente, a fim de preparar tudo para sua chegada. E assim foi que três navios zarparam de Porto Real rumo a Porto Branco, onde ele e a rainha fariam a primeira parada.
Contudo, os deuses e as Cidades Livres tinham outros planos. Enquanto as embarcações do rei navegavam rumo ao norte, emissários de Pentos e Tyrosh fizeram uma visita a Sua Graça na Fortaleza Vermelha. Fazia três anos que as duas cidades estavam em guerra, e agora elas desejavam a paz, mas não conseguiam chegar a um acordo quanto ao local do encontro para tratar das condições. O conflito causara sérios problemas ao comércio no mar estreito, a tal ponto que o rei Jaehaerys oferecera às duas cidades ajuda para cessar as hostilidades. Após longa discussão, o Arconte de Tyrosh e o Príncipe de Pentos aceitaram se encontrar em Porto Real para resolver suas diferenças, desde que Jaehaerys atuasse como mediador e garantisse os termos de qualquer tratado que fosse firmado.
Era uma proposta que o rei e o conselho acreditavam que não podia ser recusada, mas isso significaria que a turnê prevista de Sua Graça ao Norte teria que ser adiada, e havia receios de que o Senhor de Winterfell, notoriamente melindroso, fosse se sentir ofendido. A rainha Alysanne deu a solução. Ela iria na frente, conforme o planejado, sozinha, enquanto o rei recebia o príncipe e o arconte. Jaehaerys poderia se juntar a ela em Winterfell assim que fosse alcançada a paz. E assim se determinou.
As viagens da rainha Alysanne começaram na cidade de Porto Branco, onde dezenas de milhares de nortenhos saíram para recebê-la com vivas e fitar Asaprata com admiração e um toque de terror. Era a primeira vez que qualquer um ali via um dragão. O tamanho da multidão foi uma surpresa até para o Senhor de Porto Branco.
— Eu não sabia que o povo da cidade era tão grande — teria dito Theomore Manderly. — De onde veio todo mundo?
Os Manderly eram um caso especial entre as grandes casas do Norte. Tendo suas origens na Campina séculos antes, eles haviam se refugiado perto da foz do Faca Branca quando rivais os expulsaram de suas terras férteis à margem do Vago. Embora extremamente leais aos Stark de Winterfell, eles tinham trazido do sul seus próprios deuses e ainda adoravam os Sete e mantinham as tradições da cavalaria. Alysanne Targaryen, sempre interessada em estreitar os laços entre os Sete Reinos, viu uma oportunidade na família notoriamente grande do lorde Theomore e logo tratou de organizar uniões. Quando deixou a cidade, duas de suas damas de companhia já estavam prometidas aos filhos mais jovens de sua senhoria e uma terceira a um sobrinho; enquanto isso, a filha mais velha dele e três sobrinhas haviam se juntado à comitiva da rainha, com planos de viajar com ela ao sul e ali serem oferecidas a senhores e cavaleiros adequados da corte do rei.
O lorde Manderly esbanjou atenções à rainha. No banquete de boas-vindas foi assado um auroque inteiro, e Jessamyn, filha de sua senhoria, cuidou de servir a rainha à mesa, enchendo seu copo com uma cerveja forte local que Sua Graça declarou ser melhor do que qualquer vinho que ela já havia experimentado. Manderly também organizou um pequeno torneio em homenagem à rainha, para exibir as habilidades de seus cavaleiros. Um dos lutadores (ainda que não fosse cavaleiro) se revelou ser uma mulher, uma menina selvagem que fora capturada por patrulheiros ao norte da Muralha e adotada por um dos cavaleiros a serviço do lorde Manderly. Satisfeita com a ousadia da menina, Alysanne chamou seu próprio escudo juramentado, Jonquil Darke, e a selvagem e a Sombra Escarlate duelaram lança contra espada enquanto os homens do norte davam brados de aprovação.
Alguns dias depois, a rainha realizou sua audiência de mulheres no salão do próprio lorde Manderly, algo até então inédito no Norte, e mais de duzentas mulheres e meninas se reuniram para expressar suas opiniões, queixas e preocupações a Sua Graça.
Depois de sair de Porto Branco, a comitiva da rainha navegou até as corredeiras do Faca Branca, e dali seguiu por terra até Winterfell, enquanto a própria Alysanne voava na frente com Asaprata. As calorosas boas-vindas que tivera em Porto Branco não seriam reproduzidas na ancestral sede dos Reis do Norte, onde Alaric Stark e seus filhos foram os únicos a sair para recebê-la quando sua dragão pousou diante dos portões do castelo. O lorde Alaric tinha uma reputação rigorosa; diziam as pessoas que ele era um homem duro, sério e inclemente, mão-fechada quase ao ponto da sovinice, sem senso de humor, sem alegria, frio. Até mesmo Theomore Manderly, seu vassalo, não discordara; Stark era muito respeitado no Norte, disse ele, mas não era amado. O bobo do lorde Manderly expressara de outra forma.
— Eu acho que o lorde Alaric num alivia as tripa desde que tinha doze anos.
A recepção dela em Winterfell não fez nada para dissipar os receios da rainha quanto ao que ela poderia esperar da Casa Stark. Antes mesmo de desmontar para se ajoelhar, o lorde Alaric lançou um olhar torto para as roupas de Sua Graça e disse:
— Espero que você tenha trazido algo mais quente que isso.
Ele então declarou que não queria a dragão dentro de suas muralhas.
— Não vi Harrenhal, mas sei o que aconteceu lá.
Os cavaleiros e as senhoras seriam recebidos quando chegassem, “e o rei também, se ele conseguir achar o caminho”, mas eles não deviam estender a visita.
— Aqui é o Norte, e o inverno está chegando. Não podemos alimentar mil homens por muito tempo.
Quando a rainha assegurou que haveria apenas um décimo dessa quantidade, o lorde Alaric grunhiu e respondeu:
— Que bom. Menos seria melhor ainda.
Confirmando os receios, ele estava nitidamente insatisfeito com o fato de o rei Jaehaerys não ter se dignado a acompanhá-la e confessou não saber ao certo como entreter uma rainha.
— Se você espera bailes e mascaradas e danças, veio ao lugar errado.
O lorde Alaric havia perdido a esposa três anos antes. Quando a rainha disse lamentar nunca ter tido o prazer de conhecer a senhora Stark, o nortenho disse:
— Ela era uma Mormont da Ilha dos Ursos, e nada que você consideraria uma senhora, mas enfrentou uma matilha de lobos com um machado, matou dois e costurou um manto com as peles. Ela também me deu dois filhos fortes, e uma filha tão formosa quanto qualquer uma de suas sulistas.
Quando Sua Graça sugeriu que seria um prazer ajudar a organizar uniões entre os filhos dele e filhas de senhores grandes do sul, o lorde Stark respondeu com uma brusca recusa.
— Nós adoramos os Velhos Deuses no Norte — disse ele à rainha. — Quando meus garotos desposarem uma mulher, eles se casarão diante de uma árvore-coração, não em um septo sulista.
Entretanto, Alysanne Targaryen não se rendia com facilidade. Os senhores do sul também celebravam os Velhos Deuses, além dos Novos, explicou ela ao lorde Alaric; quase todos os castelos que ela conhecia tinham tanto um bosque sagrado quanto um septo. E ainda existiam algumas casas que nunca haviam aceitado os Sete, tal como os nortenhos, incluindo principalmente os Blackwood das terras fluviais, e talvez tivesse mais uma dúzia de outras. Até mesmo um homem sério e rígido como Alaric Stark se viu sem forças diante da simpatia obstinada da rainha Alysanne. Ele concedeu que pensaria no que ela dissera e discutiria a questão com os filhos.
Quanto mais a rainha ficava lá, mais o lorde Alaric se afeiçoava a ela, e, com o tempo, Alysanne veio a perceber que nem tudo do que se falava a seu respeito era verdade. Ele era cuidadoso com o dinheiro, mas não sovina; não era desprovido de humor em absoluto, mas seu humor era afiado, cortante como uma faca; aparentemente, seus filhos, a filha e o povo de Winterfell o amavam bastante. Quando o gelo inicial se desfez, sua senhoria levou a rainha para caçar alces e javalis selvagens na Mata de Lobos, mostrou-lhe os ossos de um gigante e permitiu que ela explorasse à vontade a modesta biblioteca de seu castelo. Ele aceitou inclusive se aproximar de Asaprata, ainda que com cautela. As mulheres de Winterfell também sucumbiram ao encanto da rainha, conforme a conheceram melhor; Sua Graça se afeiçoou especialmente a Alarra, a filha do lorde Alaric. Quando o resto da comitiva da rainha enfim chegou aos portões do castelo, depois de penar em brejos sem trilhas e nevascas de verão, a carne e o hidromel correram livremente, apesar da ausência do rei.
Enquanto isso, a situação não andava tão bem em Porto Real. As discussões de paz se arrastaram por muito mais tempo que o previsto, pois a animosidade entre as duas Cidades Livres era muito mais arraigada do que Jaehaerys imaginara. Quando Sua Graça tentou alcançar um equilíbrio, cada um dos lados o acusou de favorecer o outro. Enquanto o príncipe e o arconte barganhavam, começaram a ocorrer brigas entre os homens deles pela cidade, em estalagens, bordéis e tabernas. Um guarda pentoshi foi atacado e morto, e, três noites depois, a galé do próprio arconte foi incendiada no porto. A viagem do rei foi adiada e adiada.
No Norte, a rainha Alysanne se cansou de esperar e decidiu sair de Winterfell por um tempo e visitar os homens da Patrulha da Noite em Castelo Negro. A distância não era insignificante, nem mesmo voando; Sua Graça pousou na Última Lareira e em algumas fortificações menores ao longo do caminho, para a surpresa e alegria de seus senhores, enquanto uma porção de sua comitiva corria atrás dela (o restante permaneceu em Winterfell).
Mais tarde, Sua Graça diria ao rei que seu primeiro contato com a Muralha vista do alto foi de tirar o fôlego. Houve certo receio quanto à recepção que a rainha teria em Castelo Negro, visto que muitos dos irmãos negros haviam sido Pobres Irmãos ou Filhos do Guerreiro antes da dissolução das duas ordens, mas o senhor Stark enviou corvos com antecedência para avisá-los de sua ida, e o senhor comandante da Patrulha da Noite, Lothor Burley, reuniu oitocentos de seus melhores homens para recebê-la. Naquela noite, os irmãos negros ofereceram à rainha um banquete de carne de mamute, hidromel e cerveja escura.
Ao amanhecer, no dia seguinte, o lorde Burley levou Sua Graça ao topo da Muralha.
— Aqui termina o mundo — disse ele, indicando a vastidão verde da floresta assombrada do outro lado. Burley se desculpou pela qualidade da comida e da bebida oferecidas à rainha, e das acomodações rústicas em Castelo Negro. — Fazemos o possível, Vossa Graça — explicou o senhor comandante — , mas nossas camas são duras, nossos salões são frios, e nossa comida…
— … é nutritiva — concluiu a rainha. — E isso é tudo o que eu peço. Ficarei feliz de comer o mesmo que vocês.
Os homens da Patrulha da Noite ficaram tão fascinados pela dragão da rainha quanto o povo de Porto Branco, embora a rainha mesmo tenha observado que Asaprata “não gosta desta Muralha”. Mesmo que fosse verão e a Muralha chorasse, o frio do gelo ainda se fazia sentir sempre que o vento soprava, e a cada rajada a dragão sibilava e mordia o ar. “Três vezes voei com Asaprata muito acima de Castelo Negro, e três vezes tentei levá-la para o norte além da Muralha”, escreveu Alysanne para Jaehaerys, “mas em todas ela se virou para o sul de novo e se negou a ir. Ela nunca se negara a me levar aonde eu queria ir. Dei risada quando voltei a descer, para que os irmãos negros não percebessem que havia algo errado, mas aquilo me perturbou na ocasião, e ainda me perturba.”