Poderia ser só mais um filme de ação com roteiro requentado e a velha fórmula pronta com: criminosos sociopatas + armas + carros + morena gostosa + protagonista buscando redenção que se apaixona pela mocinha que precisa ser salva de alguma coisa (insira aqui: chefe babaca, emprego ruim, vida vazia, passado traumático, assassinos, ou todas as anteriores), porém Baby Drive, o título original de ‘Em Ritmo de Fuga’ vai além, graças à atuação de um elenco coeso, à excelente execução das cenas de ação e a poderosa trilha sonora que faz da música protagonista número 1 do longa.
Na trama o protagonista de nome brega, Baby, vivido pelo excelente Ansel Elgort, é um jovem com dom pra música e pro crime, que se vê numa encruzilhada quando decidido a deixar a vida criminosa para trás é impedido pelo seu chefe de maneira nada amistosa.
No primeiro ato (o melhor do filme inteiro) Edgar Wright mostra a que veio e sinaliza porque é um diretor premiado. As cenas de ação deixam o público sem ar e com a expectativa lá em cima, enquanto a posição das câmeras dentro dos carros e a brilhante execução das cenas nos faz querer ação do início ao fim, o que pode deixar o espectador bastante frustrado, já que depois de um início arrebatador, o filme se encaminha pra um segundo ato mais morno, afim de contar a história do protagonista e mostrar um pouco mais de profundidade, o que não garanto que o diretor tenha tido exito.
Com um elenco vasto e premiado, o melhor da extensa lista de coadjuvantes é de longe, Jamie Foxx que vive um sociopata pirado, assassino e humorado, na pele de Bats. Já Kevin Spacey é desperdiçado no longa; com um papel mais do mesmo, vive Doc, um personagem extremamente caricato, como chefão poderoso que não aceita ser contrariado nem sabe a hora de parar (soa familiar, não?!). Lily James, é Débora, a mocinha do filme, e consegue criar com Baby um ambiente de romance juvenil alá anos 50, com muitas referências, doçura e sensualidade na medida. E não podemos esquecer de CJ Jones como pai adotivo e surdo de baby que traz frescor e ótimo humor em cena com Ansel. O restante do elenco cumpre bem seus papéis acrescentando emoção e conflitos que se arrastam até o fim da trama sem grandes novidades.
Em Ritmo de Fuga é o filme de ação que queríamos. Com crimes, fugas perigosas e muita velocidade, deixa pra traz franquias milionárias, como Velozes e Furiosos (que por sinal já se tornou repetitivamente chato) e torna inevitável as comparações. O filme também pega carona em outros clássicos e passeia numa atmosfera de outras épocas com vinis, fitas cassete e um gravador velho que Baby usa pra gravar as conversas com todos a sua volta e depois transformar em beats. Carismático apesar de introspectivo, Baby nos conduz o filme inteiro como a seus carros, de forma espetacular, o que faz com que torçamos por ele pelas 1:53h de filme.
O ator consegue mostrar que não é só cotado pros melodramas juvenis como tem total capacidade de interpretar papéis de “gente grande”, mesmo quase sem falas fez um belo trabalho aqui. Melhor que ele, só mesmo a trilha sonora, que parece ter sido selecionada a dedo pra compor o filme, a maestria com que se une a música e a narrativa é algo notável, de fazer inveja a La La Land. A fotografia quase impecável, consegue capturar o olhar do protagonista, o cenário e seus momentos descontraídos de dança, além dos flashbacks que contam o passado de Baby.
Seja pelas atuações brilhantes, pelas cenas de ação maravilhosamente executadas ao som de Queen, pela nostalgia dos tempos áureos da música dos anos 80, por ser amante de velocidade ou só pra curtir um bom filme de ação pra variar, motivos não faltam pra assistir Em Ritmo de Fuga. Se eu fosse você, corria pro cinema!