Escrito e dirigido por Florian Zeller, “Meu Pai” é um filme baseado em uma peça escrita pelo próprio diretor. O longa tem como premissa a história de Anthony (Anthony Hopkins), um homem idoso que começa a demonstrar sinais de que não pode mais viver sozinho, e a trama consiste em sua filha Anne (Olivia Colman) cuidando do pai.
O diretor acerta com perfeição ao conduzir a história em meio a confusão do próprio protagonista, mas que intriga o espectador com um fio condutor fortíssimo. O mérito também se deve ao roteiro de Florian que consegue fazer as quebras de expectativa nos momentos certos. Dessa forma, o filme consegue fluir com facilidade em meio ao tema pesado, não deixando de emocionar e afligir quando precisa. O resultado são 97 minutos que passam como se fossem 40.
Existe uma máxima no mundo artístico quanto a criação de histórias de que “quanto mais pessoal for, melhor será”. Aqui, a trama não tem pretensão de ser uma jornada épica, mas é justamente a universalidade do tema que faz com que o filme seja fortíssimo e extremamente impactante. O tema de “Meu Pai” passa por várias discussões, mas tem como ponto central a inversão de papéis na dinâmica entre pais e filhos – o momento em que os filhos são quem passam a tomar conta dos pais, não o inverso.
A direção de arte (ou design de produção) do filme tem papel essencial para que a condução da história consiga entregar o que promete. Peter Francis e Cathy Featherstone assinam a direção dessa parte do filme e, aqui, são geniais. O longa se passa praticamente todo dentro de um mesmo apartamento e a função de Peter e Cathy é traduzir o estado mental do personagem principal através deste mesmo ambiente. Uma execução que seria extremamente difícil é feita com maestria e os responsáveis fazem com que pareça fácil. O cheirinho do Oscar está bem forte aqui.
A direção de fotografia joga junto da produção de design, fazendo com que um levante o outro. A foto do filme enquadra os pontos certos e consegue ressignificar o que está sendo mostrado, seja um quadro, uma cozinha ou um relógio no pulso. Sentimentos são traduzidos através da imagem, seja a solidão de um pai ao fazer um chá ou a claustrofobia de uma filha enquanto cozinha um frango. Absolutamente todos os enquadramentos do filme são metodicamente pensados, sendo um exemplo para qualquer filme sobre função narrativa de uma cena ou imagem. Memorável.
No entanto, apesar de todas as partes positivas que o filme possui tecnicamente, é necessário falar das atuações no filme. Com um elenco extremamente reduzido, o filme possui apenas 6 atores ao todo. Aqui, todos os atores são INCRÍVEIS. Seria possível fazer uma crítica inteira destinada somente à atuação de Anthony Hopkins – um homem culto e extremamente sensato na vida real, aqui, consegue convencer realmente que é um idoso com todos os traços de demência.
Sir Anthony Hopkins, de tão real, é ASSUSTADOR. A atuação de Olivia Colman faz acreditar que Anthony é realmente seu pai, parecendo de fato uma filha que possui seus inúmeros traumas. A química entre os dois é absolutamente linda, algo que se deve também ao diretor que conseguiu sintonizar ambos entre si.
Também surpreendem os coadjuvantes, sendo Imogen Poots extremamente carismática em todas as cenas que aparece, e Rufus Sewell completamente odiável como seu personagem. Mark Gatiss e Olivia Williams completam o elenco com atuações extremamente marcantes, apesar de reduzidas. As indicações ao Oscar para Anthony e Olivia são merecidas e suas vitórias também deverão ser – caso nenhum dos dois ganhem, a Academia terá cometido uma grande injustiça.
“Meu Pai” é o raro caso onde todas as partes de um filme se alinham perfeitamente. Absolutamente todas as áreas da obra levantam e impulsionam umas às outras. As atuações de todos do elenco são excepcionais, sendo os protagonistas brilhantes. A arte e a fotografia conversam com perfeição. O diretor e roteirista, Florian Zeller, consegue nos conduzir em uma história extremamente sensível e emociona com um catártico desfecho construído com excelência. Ver esse filme se torna uma obrigação para qualquer amante do cinema e, felizmente, nossa geração ganha um novo clássico. Bravo! Bravo!
“Meu Pai” concorre em 6 categorias ao Oscar 2021, sendo elas: Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição e Melhor Produção de Design (antes chamada de Direção de Arte) – e mereceu cada uma dessas indicações.
O filme estreia no dia 9 de abril, nas plataformas digitais Now, Itunes (Apple TV) e Google Play disponível para compra. A partir do dia 28 de abril, a obra ficará também disponível também para aluguel nessas plataformas, além da Sky Play e Vivo Play.
Meu Pai estreia dia 9 de abril nas plataformas digitais.
*O filme foi assistido em uma cabine de imprensa online à convite da California Filmes.