Dirigido por Thea Sharrock (“Como Eu Era Antes de Você”) e contando com Angelina Jolie como produtora, O Grande Ivan conta a história real de um gorila que passou 27 anos como a principal atração de um pequeno circo nos Estados Unidos. A história de Ivan foi transformada em um livro infantil por K.A. Applegate e, agora, adaptada para o audiovisual e concorrendo ao Oscar de Melhor Efeitos Visuais.
Sam Rockwell (“Três Anúncios Para um Crime”) dubla Ivan e Danny DeVito (“Dumbo”) dá vida e comicidade ao filme com seu personagem Bob, e os diálogos e dinâmica entre Ivan e Bob são incríveis, tanto por parte do roteiro quanto da dublagem. Bryan Cranston (“Breaking Bad”), de carne e osso, interpreta Mack, dono do circo e espécie de pai para Ivan.
Começamos conhecendo Ivan e sua rotina dentro do circo comandado por Mack. Ele e todos os outros animais, dentre eles seus melhores amigos, como a elefante Stella (Angelina Jolie), são muito bem tratados e recebem muito carinho e cuidados. Esse é o primeiro ponto que chama atenção sobre o filme, uma vez que foge da história de maus tratos aos animais de circo presente, por exemplo, em Dumbo e Água para Elefantes.
Isso faz com que o espectador, assim como o público do circo ao final do filme, questione o próprio conceito de maus tratos. Afinal, não porque o animal não apanha que quer dizer que seja saudável mantê-lo enjaulado e longe de seu habitat natural.
A relação dos animais com o circo e até mesmo com Mack é pano de fundo para o maior dilema do filme: ter liberdade, mas sem segurança, ou ter segurança, mas sem liberdade. É a partir desse dilema que a narrativa se constrói, de maneira sólida e também bastante simbólica, se utilizando de muita sutileza para passar mensagens importantes.
No filme, o incidente incitante é a chegada de um novo bebê elefante, Ruby (Brooklynn Prince). Sua presença provoca mudanças e questionamentos, especialmente em razão de sua relação com Stella e posterior morte dessa matriarca do grupo, que levam à tentativa de fuga dos animais. E falando da Stella, a cena posterior ao seu falecimento é uma das mais emocionantes. A tensão que antecede é toda liberada através da chuva clichê e muito bem utilizada, culminando para que o espectador derrame todas as lágrimas que estava segurando.
É por causa de Ruby que Ivan começa a contar as histórias de sua infância, e é assim que conhecemos sua verdadeira origem e sua vida de antes do circo. Uma forma legal de introduzir os flashbacks, de forma que não fica expositivo e ainda é interessante especialmente considerando o público alvo infantil e infanto-juvenil.
Inclusive, a cena de Ivan molhando as mãos em tinta intercalada com o Ivan bebê com as mãos sujas de lama é tão linda quanto simbólica. Durante todo o filme, a arte é usada como uma forma de expressão tão além da compreensão humana que um gorila usa como ferramenta pra vocalizar seus sentimentos.
Outro ponto que merece destaque, especialmente por se tratar de um produto da Disney cujo público alvo são as crianças, é justamente a relação dos animais com as crianças, como elas entendem premissas básicas da vida que os adultos deixam de lado quando crescem.
Tudo isso está representado em Julia (Ariana Greenblatt), uma das personagens chave pra trama: é quem conversa com Ivan, dá os materiais para o gorila e é a primeira a entender sua vontade de sair daquele lugar e voltar para a natureza. A garotinha simboliza a relação ideal entre os humanos e os animais que só poderia mesmo estar representada na pureza e inocência de uma criança, que realmente se preocupa em ouvir.
O filme cumpre seu propósito de contar a história de Ivan de forma inspiradora e emocionante, levantando questionamentos extremamente atuais sobre a relação do homem com a natureza e com os animais. Além disso, as mensagens típicas de produtos da Disney, e que sempre funcionam, também estão presente, dando ainda mais profundidade para a trama e os personagens ao abordar questões como família, amizade e lealdade.
Indicado ao Oscar na categoria de Melhor Efeito Visual, é possível dizer que O Grande Ivan é um forte concorrente. Como é de costume em filmes baseados em fatos reais, antes dos créditos são exibidas filmagens do verdadeiro gorila Ivan, e a semelhança com o trabalho feito pela equipe de efeitos visuais é impressionante.
O Grande Ivan tem de diversão o que tem de emoção, trazendo um equilíbrio muito bem-vindo para uma história tão delicada e importante como essa.