“O Tigre Branco” é um filme de 2021, lançado em janeiro pela Netflix. O longa é dirigido e roteirizado por Ramin Bahrani. É uma adaptação de um livro com o mesmo nome, escrito por Aravind Adiga.
O espectador é introduzido a história de Balram Halwai (Adarsh Gourav), um – agora – homem bem sucedido e que ascendeu mesmo no reacionário sistema de castas indiano. Conhecemos sua história através da narração do próprio Balram, que está escrevendo um e-mail para o então primeiro-ministro Chines, Wen Jiabao. E é através de flashbacks ao passado que vemos o que aconteceu com o personagem interpretado por Gourav.
O tema central do filme é a desigualdade econômica e tenta fazer uma crítica ao sistema que vivemos. O pano de fundo do longa é o sistema de castas ainda existente na Índia, alvo de grande parte das críticas contidas no filme, mas também faz uma análise acerca do perfil no qual estadistas conduzem um país e se utilizam de plataformas democráticas para se perpetuarem no poder.
Para o personagem principal, existe uma clara distinção maniqueísta entre tipos de pessoas: aqueles que possuem dinheiro e que por consequência disso não possuem nenhum escrúpulo para manter essas condições, e aqueles que não possuem dinheiro, que são pessoas comparadas a galinhas presas em um galinheiro, que aceitam um certo tipo de escravidão sem questionar.
Essa é a visão do personagem, que é uma forma do autor de externar suas ideias, e tem uma clara crítica ao sistema que a sociedade vive, mas pode ser interpretada de algumas formas que o autor não pode ter enxergado. Não cabe a essa crítica fazer julgamentos quanto a ideologia pela qual o espectador irá fazer sua interpretação, portanto, vamos seguir em frente.
A fotografia joga com o tema do filme o tempo todo. Os personagens em condições de superioridade são sempre vistos de perspectivas mais imponentes, enquanto Balram é quase sempre diminuído. Com a progressão da história, vemos a fotografia mudar também, até o final catártico em que uma total reversão é gerada. As técnicas são clássicas no cinema, não criam nada de novo, mas são executadas com perfeição para o que a história se propõe a contar.
A direção marca um estilo bem frenético e esses créditos se devem à montagem do filme que também é assinada pelo diretor Ramin Bahrani, junto de Tim Streeto. O filme é conduzido sem grandes pretensões de criar saídas mirabolantes, mas isso não compromete a sua boa execução.
A atuação no longa é, talvez, o seu ponto mais não convencional. Isso se dá graças ao estilo de atuação indiano, que se difere muito com o que se está acostumado a ver em filmes ocidentais. Isso não é algo negativo, pelo contrário, o filme é mais interessante ainda justamente por causa disso. A sutileza que Adarsh Gourav dá ao personagem principal são os fatores pelo qual o espectador irá torcer por ele, ainda que ele seja completamente odiável em sua atitude.
Rajkummar Rao faz o papel de Ashok e também atua muito bem, principalmente ao mostrar os vários tons de emoção do personagem. A atuação de todo o elenco alavanca a história demais e, por isso, deve-se o mérito a eles e ao direcionamento bem dado pelo diretor. O longa conta ainda com Priyanka Chopra Jonas.
É um bom filme. Ele se propõe a fazer uma discussão e consegue fazê-la, apesar de dividir opiniões quanto a parte extra-interpretativa. Certamente é o tipo de filme que muda completamente de espectador para espectador. Na parte técnica, não decepciona, mas também nunca surpreende – o que pode ser frustrante dependendo das expectativas ao ver o filme. Vale a pena conferir a atuação aqui, sendo um dos pontos mais fortes.
Em resumo, “O Tigre Branco” garante um debate acerca de sua execução e, por isso, já vale a pena conferir o resultado final do longa – isso tudo junto com a certeza de um bom entretenimento, não sendo um filme maçante e mega pretensioso, apesar de sua discussão obscura.