O filme conta a história de Capitão Jefferson Kyle Kidd, veterano de guerra que ganha a vida contando histórias, então ele passa de cidade em cidade lendo as notícias dos jornais para a população local. Em um dos seus trajetos ele encontra uma criança perdida, uma menina alemã que vivia com uma tribo indígena. Assim, o Capitão decide ajudar a menina a encontrar a sua família e, ao mesmo tempo, se encontrar.
Relatos do Mundo concorre ao Oscar nas categorias de Melhor Design de Produção, Melhor Som, Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Fotografia, e realmente faz jus a todas essas indicações.
O filme, que era para ser reproduzido nos cinemas, veio parar no catálogo da Netflix. Se enquadrando no gênero dramático e faroeste, foi inspirado no livro que contém o mesmo nome, escrito por Paulette Jiles.
O longa conta com a direção de Paul Greengrass, que fez um excelente trabalho em conduzir a história de uma forma não tão dinâmica, mas que não fica cansativa de assistir. Ao invés disso, estimula a curiosidade para saber o desfecho da trama, querendo que o espectador vivencie uma experiência agradável com a trajetória de Capitão Kidd, interpretado por ninguém mais, ninguém menos, que Tom Hanks, ator renomado que consegue entrar espetacularmente no personagem e não foi diferente em Relatos do Mundo.
Vale mencionar que Paul Greengrass, além de ser responsável de dirigir a saga de filmes de ação Bourne, já trabalhou com Tom Hanks em outra produção, sendo ela Capitão Phillips.
Tom Hanks sempre faz um excelente trabalho em se parecer totalmente com o seu personagem e é sempre impressionante como o ator se adapta totalmente em seus personagens, sendo conhecido por interpretar papéis de pessoas sofridas com próprios motivos para tomar atitudes boas e até mesmo más também.
E Capitão Kidd se encaixa perfeitamente ao que o filme precisa, contendo uma subtrama do próprio personagem que vem sendo citada desde o começo. Pelas decisões do Capitão, percebemos que tem algo a mais, com isso, a história vai sendo desenvolvida até entendermos o passado do protagonista e de como as coisas aconteceram para ele se tornar o homem sozinho que vaga por diferentes cidades. Podemos perceber também como a atuação do grande Hanks vem carregada desse ar de mistério, justamente interligado ao passado de seu personagem.
Um filme considerado longo, mas não pelo tempo de duração, mas de como as coisas demoram para acontecer, de como as coisas vão se desenrolando até caminharem para o final do filme. Podemos perceber isso na construção de vínculo entre o homem e a menina que acompanhamos durante o longa, que é o Capitão Kidd, interpretado pelo Tom Hanks e a menina Johanna que é interpretada pela atriz alemã Helena Zengel.
No início, a menina está assustada e agitada e, podemos dizer também, com uma certa agressividade, além de não entender o idioma falado. Como a garota vivia com índios, em alguns momentos do filme ela é vista como “selvagem” por seus costumes e hábitos diferentes com o que os homens da cidade consideram normal. Kidd está decidido a levar a menina para sua família e, ao longo de sua jornada, vai criando um vínculo com a garota, passando a entender um ao outro durante o trajeto. Mesmo que a língua seja, à princípio, uma barreira, os dois criam laços durante uma dura e longa viagem com vários empecilhos e obstáculos no caminho.
Mesmo com um ritmo mais lento, não tem como não se envolver com a jornada ao descobrir mais sobre os personagens enquanto eles vão se conhecendo. Apesar de ser um filme de faroeste com direito a partes de ação, os famosos bang bang, com a poeira que os cavalos deixam com o suas corridas, com a grande paisagem seca, o longa também transparece ser um filme de viagem, onde vamos acompanhando os personagens por diversos lugares diferentes.
Os obstáculos encontrados no caminho envolvem sim conflitos, mas não apenas isso, conta também com simbolismos metafóricos sobre a real situação em que se encontra o país da época apresentada. Por isso o filme também apresenta uma sensibilidade sobre esse quesito, de como o homem quer construir o seu “mundo ideal”, onde podemos notar um conflito entre homens brancos, negros e indígenas.
Ademais, retrata assuntos muito humanos, no sentido de propósito e família, discutindo ao lugar que pertencemos, colocando dois personagens que estão sem um lugar para pertencer, com isso vão descobrindo mais sobre essa questão e juntos acabam encontrando o seu lugar. Por isso a gente acaba se sensibilizando com o tipo de relacionamento que o filme constrói, e esse ar de parentesco que os dois personagens transmitem, tendo uma boa química entre os dois, o filme realmente vai te tocar se você se sensibiliza com esse assunto de família.
A paisagem também é algo que chama atenção, por isso a fotografia se destaca, com o deserto apresentando cenas lindas, além dos cenários muito bem reproduzidos que realmente remetem àquela época. A trilha sonora condiz muito com o tom mais faroeste que o filme passa, além de sons marcantes ao longo da trama, combinando com o filme do jeito clássico.
Por conta de todos esses aspectos, eu daria nota 10 para esse filme dramático que além de falar do lado humano, também aborda as questões pessoais, um filme que pode ganhar o coração de um certo tipo de público, por se tratar dessa relação sobre família, podendo trazer à tona a sensibilidade do espectador.
Deu para perceber que eu gostei muito do filme e, por isso, eu recomendo demais você assistir antes do Oscar, pois sei que vai torcer para o longa levar o prêmio de pelo menos uma das categorias em que concorre.