Em 2019, “The Sound of Metal” (no Brasil, “O Som do Silêncio”) fez sua estreia no Festival Internacional de Cinema de Toronto, mas teve o lançamento ao grande público somente em dezembro do ano passado na plataforma Amazon Prime Video. O filme conta com 6 indicações ao Oscar, incluindo melhor filme e ator.
A história do filme é sobre Ruben (Riz Ahmed), o baterista de uma banda de metal, que começa a ter perda auditiva intermitente. Quando um especialista diz que sua condição vai piorar rapidamente, ele pensa que sua carreira musical acabou – e com ela sua vida. O drama se inicia quando Ruben vai para um local para aprender a viver a vida de um deficiente auditivo. O diretor Darius Marder assina o roteiro original com Derek Cianfrance.
O roteiro tem uma estrutura simples e divide de forma clássica os seus 3 atos. Muito bem amarrados, cada evento é consistente o suficiente para acreditar no que acontece no segmento da história. A forma como Darius Marder conduz a história não possui nada de fantástico ou excepcional, é bem regular e padrão – mas o seu maior triunfo está em seu conceito.
O longa é sensível, profundo e bem triste. De certa forma, a história trata o maior pesadelo de todos os músicos amadores e profissionais, mas é mais do que isso. Aqui, o filme tenta repassar a importância que geralmente não se dá ao silêncio, e vai além, sendo uma mensagem para que cada um tente encontrar a si mesmo sozinho – sem precisar de nada para isso. Como encontrar felicidade no vazio do silêncio? Talvez essa seja uma das perguntas principais do filme.
A atuação de Riz Ahmed é incrível. O cara passa raiva, tristeza, orgulho e paixão. Ele toca bateria, se comunica em linguagem de sinais e executa todas as funções que lhe são propostas com maestria. A atuação não é necessariamente inesquecível, mas é excelente e é uma das grandes apoteoses dos últimos anos.
O acompanhando na atuação, Paul Raci interpreta Joe, o homem que guia Ruben no reaprendizado da vida. Paul consegue nos fazer acreditar que ele é de fato quem parece ser ali, não tendo nenhum momento falho, ou seja, é possível dizer que Joe é o personagem perfeito para ele. A dupla contracena tão bem que o filme não seria o mesmo sem a química entre ambos – é o clássico caso onde uma atuação levanta a outra para outro nível.
A fotografia do filme não é inventiva e se utiliza de planos padrões, apesar de respeitar muito bem a progressão dramática das cenas. O trabalho é aprimorado através da montagem, que sustenta e levanta os cortes pensados pela fotografia, além da colorização que dá o tom em muitos momentos da trama.
Tecnicamente, o filme tem a sua maior inovação no design de som. É ousado e em muitos se utiliza de um absoluto silêncio para transcrever sentimentos – algo que poderia ser mais utilizado por grandes produções em Hollywood. Além disso, possui o grande mérito de transgredir o conceito de som no terceiro ato – algo que causa forte incômodo, traduzindo perfeitamente o estorvo emocional para o espectador que acompanha a história de Ruben. Nesse ponto, o filme é incontestavelmente bem executado.
Darius Marder conta uma triste história cuja jornada e seu final podem dividir opiniões. Discussões de inclusão sobre camadas minoritárias da sociedade, espiritualidade e a psique humana estão todas aqui em “The Sound of Metal” – ou, na versão brasileira, “O Som do Silêncio”… que é um belo nome, aliás.
O filme é profundo e delicado. Aos músicos e apaixonados por toda a aura musical, esse filme é altamente indicado. Para os mais sensíveis, o filme é um gatilho por tratar de questões profundas na vida humana e, principalmente, por abordar a busca do autoconhecimento.
Em uma síntese, o autor que escreve essa crítica pensa que o filme pode ser substanciado pelo filósofo Osho: “Procurando, buscando, investigando… você está em sério perigo! A qualquer momento pode estar amando, rindo, curtindo… e você pode acidentalmente encontrar Deus”.
O filme está concorrendo ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Montagem, Melhor Roteiro Original, Melhor Ator para Riz Ahmed, Melhor Ator Coadjuvante para Paul Raci e Melhor Mixagem de Som.