Leia ao som de Remember Me
Parece que quanto mais o tempo passa e quanto mais eu tento, mais difícil fica guardar os detalhes de você, e fico brigando com essa minha falta de memória pra guardar o quanto eu puder, só queria não perder os pequenos detalhes, como a curva do seu sorriso ou o cheiro do seu cabelo, mas já estou esquecendo o cheiro do seu perfume e o seu jeito de fazer manha quando queria alguma coisa. Ainda me lembro de como você tirava o meu óculos para limpar sem entender porque ele vivia sempre embaçado. Sinto-me como Joel sem Clementine, me agarrando a qualquer lembrança sua antes de tudo desmoronar e não me reste mais nada. Quanto mais eu penso em deixar você ir mais eu sinto um vazio aqui dentro, como se faltasse um pedaço de mim e realmente falta. O problema é que esse pedaço que você levou contigo já é todo seu e não posso voltar pra buscar sem parecer que estou morrendo de saudade do seu abraço.
Poderia dizer que fui devolver aquele anel que você deixou com a desculpa de que nos encontraríamos de novo um dia por causa dele, mas isso foi antes, quando ainda me amava e ia parecer meio clichê. Eu sei o quanto você odeia clichês e finais felizes, você sempre preferiu aqueles finais em que o vilão se dá bem no final. Eu não poderia voltar sem deixar na cara que o que eu quero mesmo é te ver. Não posso voltar sem querer você de volta e querer trazer você comigo. Pro meu presente, pro meu futuro. Pra mim. Sei que tenho que deixar algumas memórias irem para dar lugar a outras talvez melhores porque o meu HD não cabe tanta coisa assim e eu ainda insisto em ocupar ele com uma história que já não existe mais, tenho apenas fragmentos daquele coração que dei inteiro pra você. E fico me perguntando se você ainda se lembra de mim ou tenta guardar algo bom de nós como eu quero guardar de você.
Hoje assisti a aquele filme e você estava em cada cena, em cada corte da câmera, em cada música daquela trilha sonora. Você estava em tudo assim como ainda está em mim. Vou confessar que chorei ao lembrar que foi um dos filmes que assistíamos em nossas sessões de pipoca e que quando íamos ao cinema nunca tínhamos pressa em sair de cada sessão, pois sempre tinha um pouco mais de nós pra aproveitar e que os nossos longos abraços durante os créditos naquela sala vazia era sempre o melhor final. Nenhum filme vai ser tão bom sem sua respiração do meu lado. Sei que preciso deixar você seguir, mas é que nada parece tão bom quando cê não tá aqui pra compartilhar comigo. Sei que o que ainda nos liga é a minha tristeza de ter deixado você ir, escapar entre meus dedos como areia. Será que em algum lugar tem um botão de cancelar?
Essa tristeza que me encara enquanto você segue seu caminho sem olhar pra trás e tudo o que ainda me resta são aqueles pequenos fragmentos de nós como em um filme antigo que a fita já está velha e gasta de tanto assistir e talvez por isso eu não aceite perder nenhum deles, afinal, eu sempre fui puro apega e o meu mundo ainda gira naquela sala de cinema onde continuo assistindo o nosso filme, voltando e pausando nas melhores cenas para não perder nenhum detalhe da nossa história, que acabou do jeito que você sempre previu, sem nenhum brilho e sem final feliz.
Texto publicado originalmente no blog Dramalhices