Dramas e comédias voltadas para o público LGBTQIA+ (ou com tais elementos) não são nenhuma novidade. Tudo bem que, até bem pouco tempo, era apenas sugerido a existência da pluralidade sexual em diversas tramas, entretanto nos últimos tempos o que se viu foi um crescimento de produções que discutem abertamente temas relacionados ao gênero… E o mais importante: a receptividade cada vez maior do público em geral. Se havia uma forte resistência anteriormente, hoje a visão discriminatória e preconceituosa parece aos poucos ficando no passado.
Entre os jovens, percebe-se que essa barreira está se rompendo com mais força. Um desses sintomas é o aumento de consumo de produções denominadas BL (sigla para Boys Love, em inglês): Trata-se de histórias com teor homo afetivas e que geralmente são voltados para o público feminino, quase sempre contendo romances idealizados. Antes restrito em alguns países do Oriente, o gênero pegou carona na onda do K-Pop e vem se espalhando ao redor do globo, seja em formatos de filmes, séries, livros ou mesmo em mangá.
Atualmente, uma produção que vem cativando um público fiel é a websérie filipina Gameboys. Realizada pela IdeaFirst Company e disponível de forma gratuita no canal da produtora no Youtube, a história é nitidamente voltada para adolescentes e jovens que já consomem este tipo de conteúdo, mas o que chama a atenção é como o roteiro aborda algumas situações da atualidade – como o distanciamento social causado pela pandemia e suas consequências no emocional de algumas pessoas – fazendo com que um público mais amplo possa ser atingido.
Toda a ação de Gameboys acontece principalmente nas telas dos computadores e celulares dos personagens. Se num primeiro momento isso soa bem limitador na questão de narrativa, a agilidade e o timing encontrado pela dupla Ash Malamun e Ivan Andrew Payawal – respectivamente roteirista e diretor da série – faz com que a história se desenrole com bastante eficácia.
Basicamente o seriado conta a história de Cairo (Elijah Canlas), um jovem que passa a maior parte deste período de quarentena transmitindo suas partidas online até o momento em que é derrotado por outro streamer, Gav (Kokoy de Santos). Ao se aproximar de seu adversário para marcar uma revanche, Cairo descobre que, na verdade, Gav tem outro objetivo em mente: conquistar seu coração.
Sim, a premissa é bem simples… mas alguns detalhes pincelados pelo roteiro e direção (a relação conturbada de Cairo com sua família, ou mesmo a consequência de um “like” em uma publicação nas redes sociais) acabam conduzindo a trama de forma mais fluida, gostosa de se ver. A produção de Gameboys também foi certeira quanto ao tempo de cada episódio, que varia entre 10 e 20 minutos de duração e exibido semanalmente no Youtube. Neste formato, em que os personagens se comunicam apenas pela internet, provavelmente um episódio de maior duração perderia essa cara imediatista de “web”.
Outro ponto positivo é o elenco de Gameboys: vindos do cinema independente, Elijah e Kokoy surpreendentemente esbanjam talento e carisma na tela, o que é raro no gênero – marcado quase sempre por atores bonitos, mas sem dotes na arte da interpretação. Enquanto o primeiro se mostra inicialmente relutante e confuso (mas aos poucos vai se rendendo aos seus sentimentos), o segundo o contrapõe com uma personalidade mais despojada e perspicaz (até demais, em alguns momentos), indo direto para o flerte. Essa relação de “gato e rato”, que poderia cair perfeitamente em situações piegas (e cafonas), acaba rendendo momentos divertidos ao decorrer dos episódios graças à dupla de atores.
Abraçando de modo criativo questões como isolamento social / emocional e a descoberta do amor em tempos de coronavírus, Gameboys fala sobre como podemos ainda nos conectar com outras pessoas mesmo com as adversidades que enfrentamos hoje em dia, esteja você lá no outro lado do mundo ou aqui no Brasil. Além disso, apresenta ao público um romance BL sem estereótipos e que floresce de modo natural, encantador e até inocente. É verdade que se trata somente de mais um passo, mas é um bem importante para diluir ainda mais a desmistificação do gênero LGBTQIA+. Que bela surpresa, hein Filipinas!!!