A Garota No Trem recentemente virou filme, e seu grande sucesso esconde uma reflexão importante que a história de Rachel trás em meio a muito mistério e suspense.
A história toda gira ao redor de uma fatídica noite de Julho de 2013, quando Megan desaparece. Rachel não tem nada a ver com ela, exceto que Megan para ela era Jess, a mulher loira e perfeita com o marido amorosa que ela observava todas as manhãs quando passava por ali dentro do trem rumo a Londres, e que Megan agora mora na mesma rua em que ela morava antes de se separar.
Com o desenrolar da história, entendemos que o clima deprimido e arrastado de Rachel advém de seu passado: ela teria acabado com seu casamento devido ao alcoolismo desenvolvido de forma exponencial e assustadora, causando vários problemas para ela e os ao seu redor, inclusive lapsos de memória em que ela não consegue se lembrar das coisas terríveis que fez. Será?
Um dia, Rachel acorda em sua cama depois de uma noite de bebedeira na qual teria tentado ir encontrar Tom, o ex-marido, em sua antiga casa. Nada novo, exceto o fato de ela ter vários machucados, incluindo um corte no couro cabeludo, um outro no lábio, arranhões nos braços e partes do corpo doloridas. Ela tenta se convencer que tudo aquilo foi resultado de algum tombo que tomou devido à bebida, mas não consegue.
O próximo choque que a atinge é o de que Megan desapareceu, e com seu alter-ego alcoólico com extrema vontade de se envolver nas investigações daquele desaparecimento, mesmo que ela não saiba muito. Isso se mistura ao conflito dela contra a atual mulher de seu ex-marido, Ana, onde o sentimento vazio de onde traição contra o ex quando a trocou por Ana, e o conflito de ter que passar perto de sua ex-casa sempre que vai até Scott,o marido de Megan, para tentar saber mais do que aconteceu, a faz se sentir cada vez mais amedrontada mas excitada com as reviravoltas de sua vida.
A história te faz odiar Rachel por um bom tempo, já que a protagonista está ciente de seu vício, sabe todo o mal e os espaços em branco em sua memória em vários momentos de sua vida que aquilo causa, mas continua sempre tendo consigo uma garrafinha de gin-tônica.
Isso se prolonga até um ponto crucial do meio para o fim da história, em que ela entende toda a realidade de seu passado e, principalmente, a realidade daquele fatídico dia em que Megan desapareceu.
A narrativa oscila entre os pontos de vista de Rachel, Megan e Ana, e é muito importante observar a linha do tempo que se forma no início dos capítulos, indo e vindo e arrastando o mistério com poucas pistas por capítulo. Acaba que tudo se revela tão mais complicado do que parecia, que prende o leitor e o faz refletir sobre o quanto conhecemos uma pessoa que convivemos, o quão você pode realmente conhecer alguém? Mesmo que esta pessoa te ame, você realmente a conhece?
Com tudo o que a história apresenta, a autora é muito bem sucedida em nos fazer pensar sobre o alcoolismo, distúrbios psicológicos, traumas e até um pouco sobre psicopatia e o fato de como cada pessoa reage a uma situação diferente. Uma leitura fora do comum e mais do que recomendada.