Após o sucesso de Ghost of Tsushima e a jornada épica de Jin Sakai, a Sucker Punch nos leva de volta a terras nipônicas. Ambientado 300 anos após o primeiro jogo, a bela Ilha de Hokkaido, com seus campos floridos e o Monte Yotei, é o palco da história de Atsu – uma nova protagonista determinada a buscar vingança para honrar seu passado.
Mas, será que a experiência com este novo título da Sucker Punch Productions cumpre as expectativas? Com uma Key gentilmente cedida pela Sony, hoje contamos tudo o que achamos do lançamento.
Narrativa e Primeiras Impressões
Em pouco tempo de jogo, Ghost of Yotei estabelece sua identidade com uma narrativa cinematográfica que se distancia do arquétipo clássico do samurai. Atsu conheceu o lado mais cruel da vida cedo, e seu caminho foi marcado por sangue e injustiça. Viajando pelo Japão como uma habilidosa caçadora de recompensas, ela ganhou o apelido temido de Onryō – o fantasma injustiçado da mitologia japonesa que busca vingança.
Dezesseis anos após sua partida, Atsu retorna ao Monte Yotei para acertar as contas com os seis tiranos responsáveis por sua tragédia. Assim, a obra ganha um ritmo fluido, que prende o jogador, hora revisitando o passado, hora acompanhando o presente, mas sem tornar a experiência entediante.

Com um toque de brutalidade, melancolia e o sarcasmo reservado da personalidade de Atsu, a narrativa segue um ritmo mais direcionado que em Tsushima. Há liberdade para explorar o mapa e o universo de Yotei, mas a linha principal segue uma ordem definida, o que dá um peso emocional maior aos acontecimentos, explorando temas como culpa, luto e redenção.
Jogabilidade
Um dos pontos mais altos de Ghost of Yotei é a jogabilidade fluida e com diversas possibilidades. Para quem gosta de dominar as técnicas, a Sucker Punch trouxe uma ótima variedade. Se Jin usava sua katana, Atsu se destaca por empunhar diferentes estilos de armas: Katana, Odaichi, arco e até duas katanas ao mesmo tempo.
A vantagem estratégica está no uso de cada estilo contra tipos específicos de inimigos. O jogo mantém a ausência de lock-on (travamento de mira), dando mais naturalidade ao combate. Mesmo em confrontos frenéticos, a troca dinâmica de armas funciona perfeitamente e não atrapalha a movimentação. A adição de mosquetes oferece uma vantagem letal no combate a distância, ao lado do arco.
Já a furtividade ganhou atenção especial, com elementos como vegetação e clima influenciando diretamente na detecção. No entanto, a falha na IA dos inimigos é um ponto fraco notável, com adversários muitas vezes se perdendo no cenário. A dinâmica dos acampamentos dá um toque interessante na experiência e às vezes, ao parar para descansar e recarregar o espirito, NPCs aparecem para se juntar a você e acabam revelando algo importante.
E não poderia deixar de falar sobre a loba, uma companheira de viagem inusitada que surge em momentos inesperados. Parte selvagem, parte fiel a Atsu, é possível aumentar o seu nível de conexão com a loba, além de distribuir pontos em sua árvore de habilidades exclusiva, garantindo uma ótima vantagem em ataques contra grupos maiores de inimigos.
Yōtei mantém a proposta de mundo aberto, mas segue uma ordem clara nos confrontos principais e as missões são divididas em atos, que levam Atsu a diferentes regiões da ilha. Esse detalhe contribuiu para uma trajetória com mais ritmo, emoção e imersão na história, porém pode ser frustrante para aqueles que gostam de explorar de forma mais livre.

Combate
O sistema de combate deixa o jogador à vontade para escolher seu próprio estilo. O esquema é o já conhecido em jogos de ação: Parry, bloqueios e boa movimentação. Isso resulta em movimentos coreografados e combates extremamente satisfatórios. Os duelos são um espetáculo visual, uma “dança” que consagra o jogo. Os enquadramentos cinematográficos, claramente inspirados em Akira Kurosawa, dão um charme intencional e épico às cenas pré-duelo.
A progressão de equipamento é dividida entre conjuntos de armaduras que oferecem bônus escaláveis, amuletos que estimulam builds diferentes e gravuras de armas. O sistema também é robusto, intuitivo e convida à exploração de possibilidades.
Nem tudo são flores…
Sem dúvidas, o mapa de Ghost of Yotei é um dos mais bonitos já vistos em um jogo de videogame. O uso da iluminação natural nos momentos certos, cores suaves e o lindo contraste da neve e vegetação, rendem ótimas capturas de tela e momentos de apreciação da bela direção de arte.
Porém, nem tudo são flores e em alguns momentos, há uma sensação de vazio. Áreas menos densas e repetitivas, com poucas atividades secundárias, sugerem que o jogo prioriza mesmo a missão principal. Para quem esperava um mundo aberto denso e muito explorável, o jogo deixa a desejar.

Experiência sonora
A música tem um significado especial em Yotei e está por toda a parte, mostrando o quanto o estúdio foi caprichoso em propor temas que misturam instrumentos tradicionais japoneses com o próprio som do mundo. Isso reflete a solidão de Atsu a nível emocional, com temas que crescem no momento certo e se apagam como os pequenos momentos de felicidade da protagonista. Os efeitos sonoros garantem ainda mais imersão, fechando a experiência com chave de ouro.
Vale a pena?
Ghost of Yotei é um daqueles jogos que resgata o brilho nos olhos e a admiração pelo clássico ‘’arroz e feijão’’ bem feito. Com belas paisagens, a melancolia quase poética e a promessa de vingança, a obra mostra que não precisa de muito para conquistar o jogador.
Cada confronto da caçada de Atsu rende momentos satisfatórios, daqueles que trazem alívio ao aplicar o golpe final no adversário. Mas nem só de ação se fez Yotei. Há momentos em que a beleza do jogo contrasta com a frieza da protagonista, que mesmo em busca de vingança, reserva o Shamisen para os momentos de calmaria, aprende canções e interage com os personagens lembrando com carinho de sua própria origem.
Sem dúvidas, isso acrescenta um toque reflexivo, humano e emocional a personagem, que apesar da trajetória marcada pela dor, ainda aprecia a beleza do mundo em que vive. Assim, Ghost of Yotei mostra que não é apenas sobre a busca por vingança de uma guerreira, mas sobre o que resta quando ela termina.
Ghost of Yotei é exclusivo de Playstation.




