A Pequena Livraria dos Sonhos me remete ao momento que adentrei o tão temido período de nossas vidas, conhecido como a fase adulta, entre o trabalho e a faculdade, costumava entrar em bibliotecas que encontrava pelo caminho. Lá, lia, estudava ou simplesmente apreciava o escasso momento de ócio que tinha entre os caóticos dias que vivia. A partir desse hábito, me pegava imaginando como seria trabalhar em uma biblioteca: rodeada de livros, desfrutando do silêncio, auxiliando as pessoas a encontrar o que buscavam (peço desculpas aos bibliotecários pela visão romantizada que tenho, ciente de que todo trabalho possui suas partes positivas e negativas).
Quando tive a oportunidade de comprar livros, fui me aproximando do ambiente das livrarias. O aroma dos livros novos confortava minha alma. Não é à toa que, dentre tantos livros que consumo, possuo um padrão bastante específico: compro ou pego emprestado qualquer título que contenha “livraria” ou “biblioteca” em seu nome. Cada leitor tem seu padrão: alguns preferem capas de cores específicas, gêneros particulares, capa dura, ornamentos (embora todos possamos concordar que folhas brancas não sejam ideais).
É por isso que inicio aqui a saga de resenhas de livros cujos títulos incluem “livraria” ou “biblioteca”. Nenhuma destas obras me decepcionou. Algumas podem não ter sido extraordinárias, mas nenhuma me fez sequer pensar em abandoná-las pela metade.
Vamos lá, será A Pequena Livraria dos Sonhos, de Jenny Colgan é um romance, não excessivamente meloso, mas ainda assim, eu não estava muito acostumada a ler obras deste gênero. O enredo abordará o sentimento de fracasso de Nina ao ver seu cargo como bibliotecária ameaçado por uma reforma nas bibliotecas que priorizará a tecnologia para atender às demandas e cortar funcionários que não se adaptem a essa renovação. Sentindo-se antiquada, Nina percebe a necessidade de mudar de vida e se arrisca ao comprar uma van e montar sua própria livraria, mas em outro país que contrasta com os costumes urbanos de Birmingham, uma pequena e bucólica vila na Escócia.
A autora narra a experiência de Nina de maneira impecável, descrevendo a paisagem e a arquitetura com tamanha maestria que quase instantaneamente nos transportá até lá, nos convida a sentir o cheiro de chuva e grama, o sol pálido aquecendo o rosto e o vento gélido da noite revigorando a alma. Além disso, Nina é retratada não apenas como uma livreira, mas como uma aficionada por livros, apaixonada e imersa na literatura, conquistando a afeição dos moradores escoceses por saber exatamente o que recomendar de acordo com o perfil do leitor. É gratificante acompanhar a rotina da personagem em relação aos livros.
O romance desenvolvido é habilmente entrelaçado com a narrativa, não utópico, mas sensível e realista. A autora explora as inseguranças de Nina de maneira a nos tornar tão íntimos da personagem que, ao final da leitura, quase projetamos a protagonista como uma amiga. No entanto, Jenny Colgan poderia ter se aprofundado em alguns momentos, a fim de construir camadas mais complexas na narrativa.