Por mais difícil que seja abordar o tema da segunda guerra mundial, a Amazon Prime Video trouxe este ano como entretenimento uma nova série, surpreendendo o público com mais uma obra inovadora da plataforma. A série “Hunters” dirigida por Jordan Peele (também diretor e escritor do filme “Corra!”) aborda uma das maiores tragédias desumanas da história, porém a série consegue contrastar o drama do holocausto com uma dose de humor para garantir o alívio cômico.
No seriado, Jonah (Logan Lerman) se depara logo no início com o assassinato de sua Avó, o que leva a conhecer e se aliar a um grupo de caçadores de nazistas liderado por um antigo amigo de sua Vó (Meyer Offerman) que esteve com ela no campo de concentração de Auschwitz, que é interpretado por ninguém mais, ninguém menos que Al Pacino. Logo o grupo descobre a existência de nazistas infiltrados nos Estados Unidos com planos para o Quarto Reich.
Passada nos anos 70, mais de 30 anos pós-guerra, Hurters trás a premissa de que o nazismo está presente mesmo após o fim do conflito, ou seja, até no simples cotidiano dos personagens é mostrado o preconceito ainda sofrido pelos judeus. Os personagens trazem personalidades fortes e distintas, o que trás um contraste grande com o grupo de caçadores que são também muito comparados com super-heróis, trazendo uma forte referência aos quadrinhos, mas ao mesmo tempo não é apresentado claramente os motivos, intenções e a história de cada um e isso pode ser agoniante tendo cada episódio em média uma hora de duração. Os personagens são bem construídos e interessantes, porém a expectativa de conhecê-los não é suprida.
Enquanto Jonah busca justiça pelas próprias mãos, sempre se pega pensando que talvez possa estar se tornando tão ruim quanto os nazistas que fizeram mal à sua Avó, mas por outro lado ele avalia que o próprio governo permitiu que os nazistas retornassem e não fossem punidos corretamente, o que aumenta sua sede de vingança e a linha tênue do limite moral da crueldade.
Hunters não tem cuidado nenhum em mostrar ao telespectador cenas de violência e do próprio holocausto, e também trás essa falta de delicadeza em trocar as cenas entre passado e presente com uma simples troca de tela, foi escolhida essa falta de dinâmica nas trocas de cenas até para apresentar os pequenos clipes irônicos sobre o fascismo no meio dos episódios.
A trama se apresenta como um thriller com o desencadeamento das descobertas e a caçada para impedir maiores danos, acrescentando o fato de que o mostro maior, líder do projeto nazista se encontra nas sombras, enquanto ocorre também uma investigação da detetive Millie (Jerrika Hinton) em busca dos dois lados.
Apesar da inconstância de humor e drama, a série trás à tona a ideia de que não é porque a guerra acabou que a ideologia de Hitler também se foi junto com ela. Por um lado, podemos aprender sobre fatos que realmente aconteceram como, por exemplo, a operação papper clip, ligação do nazista Wernher Von Braun com Walt Disney, mas, por outro lado, a série apresenta acontecimentos modificados de como realmente os fatos aconteceram e também fatos que não há provas de que ocorreram como, por exemplo, o jogo de xadrez humano.
O despertar que a série proporciona sobre a existência do nazismo nos dias atuais, a dor de perder pessoas por conta do fascismo e a dor de ser uma “peça’ em um campo de concentração, o preconceito, dúvida de certo ou errado, justiça com as próprias mãos; tudo isso talvez seja necessário e leve aos telespectadores reflexões sobre pontos não pensados antes. Porém, o seriado pode levar a um certo incômodo por ter diversas abordagens (satírica, violenta, dramática), tendo ainda o humor presente em um tema tão delicado e tão doloroso.
A primeira temporada de Hunters está disponível no Amazon Prime.